quarta-feira, 28 de dezembro de 2011

A falta que faz uma direita de verdade



Uma das maiores catástrofes latino-americanas é a ausência de uma direita digna do nome. Sim, amigos, eu sou de esquerda. Mas sou um democrata. Acho que uma democracia forte precisa de representantes fortes de todos os setores da sociedade. E é inequívoco: há muitas pessoas de direita. No Brasil, na América Latina, em qualquer lugar. E se elas não tiverem representantes a democracia terá um grave problema.
Infelizmente a direita latino-americana não está acostumada a lidar com o debate público. Sempre teve o que quis sem precisar correr atrás. Armas de coronéis, dinheiro norte-americano e patrocínio escancarado da imprensa sempre resolveram o problema. Nem que fosse com ditadura.
Aí o que aconteceu? No fim dos anos 90 todo o continente ficou de saco cheio do neoliberalismo e começou a eleger governantes de outras tendencias, geralmente um pouco mais à esquerda. A direita ficou perdida. Não dá mais pra usar jagunços, a guerra fria acabou, levando junto a histeria anticomunista, e toda a pressão da mídia não está ajudando muito. E agora?
Agora é hora de lutar pelo voto. Esgrimir argumentos. Abrir o peito no debate público. E o negócio ficou feio. Na Argentina Cristina Kirchner se reelegeu como quis, pelo simples fato de que a oposição era tão ridícula, mas tão ridícula, que nem podia ser levada em conta. Em agosto, quando estive pela última vez por lá, a frase que mais escutei foi: "claro que vou votar em Cristina. A oposição não nos dá escolha".
E no Brasil? Aqui se vê um absurdo vazio de idéias na direita. Aécio Neves, que deveria ser seu líder em uma nova etapa, não conseguiu ainda assumir esse papel. Por uma razão simples: não tem nada o que dizer. Quem mora em Minas (morei lá em todo o seu primeiro mandato e na primeira metade do segundo) sabe do que estou falando. É um coronel ao velho estilo com aparência moderna. Cala a imprensa o tempo todo, intimida adversários, e é só imagem, sem nenhuma substância.
Mas o mais deprimente é ver a postura de gente como José Serra e Roberto Freire. Esses caras são experientes e qualificados. Deveriam ser os grandes porta-vozes da oposição para discutir as questões nacionais. Mas siga os dois no twitter. Ficam o dia inteiro caçando polemiquinha de esquina. Coisa de candidato a vereador mesmo. E geralmente com tom moralista, um negócio horroroso, dá vontade de vomitar até.
E sabe o pior de tudo? Nesse deserto de idéias que é a direita brasileira, quem está ganhando espaço é a direita mais podre e escrota. Porque ao contrário dos citados acima, esses sabem muito bem o que querem, e reivindicam agressivamente seus objetivos. E lentamente o campo mais conservador vai ficando cada vez mais parecido com Jair Bolsonaro e Silas Malafaia do que com FHC e Mário Covas. Inevitável: tucanos estão cagando de medo de criticar as grandes linhas do governo, pois sabem que elas são populares, e ficam pegando no pé de coisinhas miúdas. E a direita reacionária bota a boca no trombone. Se mostra como uma opositora mais viável e explícita.
E nisso tudo o Brasil sai perdendo. Uma oposição inteligente e questionadora é indispensável para uma democracia. Uma oposição que mistura gente sem idéias com idiotas reacionários é um mal terrível. Não demora e a grande força de oposição ao PT vão ser os evangélicos de ultra-direita. Aí voces vão concordar comigo sobre a necessidade de uma direita sensata e responsável.

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