Uma das novidades que mais me aborrece no mundo atual é a banalização e a distorção absurda que têm vitimado termos como "liberdade de expressão" e "censura". Na nossa pobre América do Sul, essa discussão é historicamente um patrimônio dos grupos mais progressistas, que normalmente estiveram sempre na oposição e muitas vezes na cadeia. Mas agora essa temática tem sido usado como arma por uma direita ultra-reacionária para defender práticas abusivas. Cito dois exemplos.
1) Os tais "politicamente incorretos", mais popularmente conhecidos como "escrotos reacionários". Pessoas que ofendem grupos minoritários ou subalternos (mulheres, negros, nordestinos, homossexuais, estupradas, indígenas, etc.) e não toleram ser chamadas de preconceituosas. Quando isso acontece, evocam a "liberdade de expressão" e dizem que estão sendo "censuradas".
2) Na maioria dos países sul-americanos (exceção a Chile e Colômbia), os governantes não seguem a cartilha neoliberal. São governos muito distintos, mas têm essa característica em comum. Todos esses governos são alvo de ataques violentíssimos na imprensa de seus países. Mas essa imprensa acredita que os governos e seus partidários (normalmente a MAIORIA da população) não pode reclamar disso. Reclamações desse tipo são imediatamente repelidas como "censura".
Escrotos e membros da grande imprensa são muito diferentes mas tem uma coisa em comum. Como diria o velho Brizola, ambos engordaram durante as ditaduras sul-americanas. Gostavam delas. Ficavam felizes quando aqueles que hoje lhes parecem "censores" eram mortos e torturados. São autoritários até o último fio de cabelo. Só sabem falar sozinhos. O que eles chamam de "censura" é algo que qualquer pessoa civilizada chama de "diálogo" e considera muito saudável e democrático.
Mas eles não são assim. Implantaram ditaduras para defender a "democracia", o que mostra bem o conceito deles de "liberdade". Para eles, democracia é quando eles tem a liberdade de falarem sozinhos, sem sequer terem de escutar opiniões contrárias.
Por isso os machistas, racistas e homofóbicos vivem evocando o direito à "liberdade de expressão", mesmo quando ninguém quer censurá-los. Liberdade para eles é todos repetirem o que eles dizem. Se alguém tem opinião diferente eles ficam loucos, pois nunca tiveram de lidar com isso. Se sentem acuados. E chamam de ditadura aquilo que é um simples debate entre argumentos distintos.
O mesmo vale para os grandes veículos de imprensa do continente. A maioria esmagadora defendia alegremente as ditaduras militares que dominaram a América do Sul nos anos 60/70/80. Engordaram com elas. Jamais as criticaram, exceto quando já estavam à beira do colapso. Mas hoje, quando alguém reclama de suas posturas políticas, reclamam por estarem sendo "censuradas". É assim: ela pode criticar quem quiser, pois isso é liberdade de expressão. Os outros a criticarem é ditadura.
Absurdo? Para mim e provavelmente para voce sim. Mas para quem se acostumou a falar sozinho a vida inteira, com os discordantes sendo presos ou mortos, isso faz sentido. Para eles, contradição e discordância sempre foram crimes. Não podem falar isso em voz alta hoje em dia. Mas é evidente que continuam pensando assim.
outro dia tive aula de constitucional e o professor (um pedante advogado) falava que o Bolssonaro não poderia ser julgado como criminoso nem como preconceituoso porque ele tinha imunidade parlamentar e disse assim "em nome do direito de todos falarem é que deixamos ele falar, do contrário aquele deputaduzinho Jean Willys, mas conhecido como ex-BB, não poderia falar em nome dos gays"...me diga por favor onde está o erro dessa fala? para mim o fato de permitirmos um idiota como o Bolssonaro falar o que quiser é ótimo se for em nome do debate, mas ai poder usar isso e desmerecer sempre o outro lado afff
ResponderExcluirO mais engraçado é que muiiitas pessoas são autoritárias ao último! no dia a dia, com seus colegas de trabalho, com as pessoas que lida, com seus filhos, etc...o que esperar das elites? dos políticos?