segunda-feira, 26 de dezembro de 2011

Dilma, ano I



Nenhum governo pode ser avaliado seriamente ao final de seu primeiro ano. Afinal, nada que vá ter influencia realmente duradoura pode ser construído num período tão exíguo. Normalmente o primeiro ano é marcado pelos grandes gestos para dizer a que veio o novo governo. E como Dilma foi eleita basicamente sob a promessa de continuar o governo anterior, aí que seria difícil mesmo esperar novidades. O que vejo como dignas de nota nesses primeiros 365 dias são basicamente duas coisas.
A primeira: as denúncias que derrubaram ministros sequer arranharam sua imagem. A galerinha governista disse que ela não tinha nada a ver, os oposicionistas de sempre viram ali mais uma prova de que o PT é formado por lunáticos comunistas que só sabem roubar. Analistas políticos falaram em tom pedante sobre uma "crise no governo". E a esmagadora maioria da população fez a leitura mais correta de todas: nada daquilo tem qualquer importância real. Saíram ministros, substituídos por outros do mesmo partido, indicados pelas mesmas pessoas, e tudo seguiu como antes.
Na verdade as denúncias acabaram fortalecendo Dilma. Como aconteceram muito no começo do mandato, se referiram a ações prévias ao governo dela, o que tornou óbvio que ela não estava ligada às ações em questão. E tem algo que me chama muita atenção: TODOS os ministros que caíram foram pessoas que ela jamais teria escolhido se tivesse total liberdade para isso. Alguns são daqueles partidos que vivem pendurados em todos os governos desde 1500 e tem a corrupção como ideologia. Outros (Palocci, Orlando Silva, Lupi) ela teve de aceitar, mas não eram de seu agrado.
Assim as denúncias foram até boas para ela. Pois além de se livrar de auxiliares que não queria, podendo ter um pouco mais de margem de manobra na escolha dos sucessores, ainda ficou na cabeça da população como uma espécie de caçadora de corruptos. E (agora chego à segunda observação que eu tinha a fazer) lenta e imperceptivelmente ela conseguiu se ajustar bem ao posto. Vi seu pronunciamento no dia do natal, e fiquei impressionado como ela vestiu o traje de "presidenta".
E conseguiu muito rápido encontrar seu estilo. Nada das bravatas colloridas, do jeitão atrapalhado e simpático de Itamar, do tom professoral de FHC ou da irresistível fanfarronice lulista. Dilma se encontrou no traje "autêntica, séria e incorruptível". Daquele que você até perdoa a falta de carisma, pois isso até funciona como uma prova a mais de que ela não é "apenas mais um político mentiroso". O povão, que já estava louco pra gostar dela, a adotou de vez como maezona durona mas justa.
Ao fim Dilma teve um grande 2011. Mostrou que tem força para lidar com opositores e aliados pouco confiáveis, vestiu de fato o traje presidencial e estabeleceu uma conexão com a massa. E o ano terminou com uma desaceleração econômica, mas perto do que vive a maior parte do mundo, o Brasil até está bem. E ainda teve a notícia, na reta final do ano, que chegamos ao posto de sexta economia do mundo. O que não significa grande coisa, mas é o tipo de notícia que as pessoas amam ouvir.
Enfim, a presidenta superou muito bem aquele que deveria ter sido seu ano mais difícil. Agora será a hora de imprimir sua marca pessoal na administração. É o capítulo que mais me interessa. Tudo o que falei acima é importante no sentido de estratégia política. Mas quero ver como será a administração de Dilma Rouseff. Que venha 2012 então.



Um comentário:

  1. Fica claro que ela jogou a base aliada aos abutres com essas demissões. Já que não dá para cortar o barato desses arrivistas calhordas, melhor deixar que a imprensa coma o fígado deles. Como aconteceu. Tirando o Palocci, é todo mundo desses partidinhos de aluguel.

    Ah, Tiago, o que o Brasil precisa, além de uma oposição decente, é de um regime bipartidário. Tipo democratas x republicanos, labours x tories. Assim acaba a farra dos partidos fisiologistas, estilo PMDB, PPS, PDT, argh, vou ao banheiro e já volto...

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