terça-feira, 20 de dezembro de 2011

A Privataria da Informação






Finalmente consegui ler o tal livro sobre a "privataria tucana". E confesso que terminei a leitura sem saber exatamente o que pensar. Afinal, é bem claro que o autor centra a sua argumentação em duas idéias:


1) o modelo das privatizações brasileiras fez com que o país pagasse por elas, pois o que o governo pagou saneando as empresas antes da venda mais as moedas podres que aceitou como pagamento por elas somam mais do que o valor recebido nas vendas. Ou seja, teríamos pago para entregar empresas hoje altamente lucrativas.


2) Membros do alto escalão do governo teriam embolsado fortunas de forma ilícita nesse processo.


Nenhuma das idéias é nova, e ambas remontam à década de 1990. A novidade é que o autor não apenas "argumenta": ele apresenta toneladas de documentos que provariam o que ele diz. E aí vem o problema: não sou advogado, contador ou coisa do gênero. Não tenho condições de entender se aqueles documentos mostrados no livro de fato provam o que o autor está dizendo.


Bem, nada que um saudável debate não ajudasse a resolver, não é mesmo?


Aí que o problema começa. Os defensores do governo agiram como se esperava, e inundaram as redes sociais comemorando o fato de estar demonstrada a roubalheira tucana (quantos por cento devem ter lido o livro?). Até aí vá lá: não é diferente do que os militantes da oposição fazem quando aparece qualquer denúncia contra o governo.


Os alvos da denúncia adotaram uma postura realmente impressionante: não falam sobre o assunto. O que realmente faz com que eu tenda a acreditar que eles não estão limpos nessa história, ainda que possa simplesmente ser fruto da velha arrogância tucana de achar que quem não concorda com eles é por ser ignorante ou débil mental, tão burros que nem vale a pena tentar explicar.


Sobra a imprensa, que deveria repercutir as denúncias, nem que seja para mostrar que elas não fazem sentido. Mas isso não aconteceu. O assunto praticamente não foi mencionado, e não teve nenhum destaque. Qualquer declaração de parlamentar oposicionista contra o governo ganhou muito mais atenção do que um livro lotado de documentos pretendendo demonstrar que as privatizações do governo FHC foram foco de corrupção.


Veja: ao contrário de muitos, eu não queria que a imprensa aproveitasse o livro para descer a lenha nos tucanos. Não tenho interesse nisso, como também não tenho interesse quando eles destroem o governo baseado na palavra de algum criminoso. Eu queria coisas muito simples. Tipo: sentar com um punhado de especialistas em fraudes, ou algo do tipo, mostrar o livro e perguntar: de fato está provado no livro que os tucanos se lambuzaram na corrupção? Provou? Não provou, e o livro é uma fraude? Há indícios a serem investigados mas ainda sem 100% de certeza? Isso o que eu queria: informação e análise. Foi tudo o que não encontrei.


O que me diz o seguinte. Os veículos tradicionais de mídia estão em crise. Tentam se salvar com o argumento de que escolhem a dedo seus membros, ao contrário da internet, onde cada um escreve o que quer; são o espaço da pluralidade, ao contrário da internet, povoada de malucos raivosos que só lêem quem diz o que eles querem; fazem rigorosa apuração de tudo o que escrevem, ao contrário da rede mundial de computadores, onde se publica qualquer porcaria como sendo verdadeira.


Esse retrato mostra a imprensa que conhecemos? Não é o que vejo. Pra mim o que surge no retrato é uma mídia que faz questão absoluta de ser o tempo todo contrário a um governo amado pela população. Tentando fidelizar o último tipo de leitor que eles acreditam ainda ter: os reacionários da classe média e alta. Esse pequeno grupo será suficiente para carregar nas costas toda a imprensa brasileira?


Bem, isso não é problema meu. Há muito tempo deixei de usar prioritariamente os veículos tradicionais de imprensa para me informar. E agora deixei de vez. Concluo que gente como eu não está incluído no público alvo nem da mídia raivosa anti-governista nem dos amiguinhos do governo. Se não estão interessados em mim, só posso dar o que eles querem, e esquecer que eles existem.

2 comentários:

  1. De fato Tiago... é exatamente o que enfrentei ao ler aquilo. Todas essa podridão de que pagamos para que evassem nossas empresas realmente não era novidade. Tenho assitido as entrevistas do autor do livro pra tentar entender como todos aqueles documentos podem fazer algum sentido. Na verdade, até agora nada.
    A última entrevista dele que vi foi essa com o Paulo Henrique Amorim. Aí ele fala alguma coisa, onde conseguiu os documentos, mas tb não esclareceu minhas dúvidas.
    Segue a entrevista:

    http://www.youtube.com/watch?v=V14fyWK9Cnc

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  2. Uma coisa é certa: não dá para acusar o autor de ser "amiguinho do governo". O cara fez algumas das denúncias mais consistentes do escândalo do mensalão, valendo-se de fontes mais consistentes que as da grande mídia.

    Claro que há um interesse político de parte do governo (por mais que não diga), mas não é de se esperar que os fatos relatados no livro passassem eternamente incólumes.

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