Hoje, após um final de semana particularmente etílico, li a notícia da morte do ditador norte-coreano, e a chegada ao poder de seu filho e sucessor. O tom das análises é o mesmo: morre uma figura lamentável, e chega ao poder outra sobre a qual nada se sabe e dificilmente se pode esperar que vá ser muito melhor.
Concordo plenamente. Mas o que chama a atenção é a diferença de tratamento entre ditaduras. Coréia do Norte, Irã, Cuba e Líbia são (ou eram, no caso da última) ditaduras monstruosas, e ficamos todos torcendo por seu fim. Alguns acham pouco e só ficam felizes se os ditadores forem espancados até a morte.
Por outro lado quanto ao Egito não foi bem assim. Ou melhor, o mundo ficou feliz com a queda de Mubarak, mas enquanto ele era ditador ninguém parecia preocupado com o assunto. O mesmo vale para vários outros regimes autoritários ou francamente ditatoriais do Oriente Médio, a começar pela Arábia Saudita. Ou você já ouviu os críticos aos regimes citados lá em cima falarem dos árabes como uma "monarquia anacrônica", o que evidentemente ela é?
Não, você não ouviu. Isso porque para muita gente, "democracia" é todo mundo que está do nosso lado. "Ditadura" é todo mundo que está contra nós. Os que seguem cegamente a visão de mundo norte-americana não se incomodam com as ditaduras árabes que estão do lado deles e ficam histéricos com as que estão contra eles. Aliás, nunca é demais lembrar: os EUA jamais se incomodaram com as ditaduras latino-americanas que estavam a seu lado. Para eles, Cuba era a única ditadura do continente.
Mas isso não é exclusividade norte-americana. Muitos dos veículos da imprensa latino-americana que apoiaram alegremente as ditaduras que assolaram o continente nos anos 70 hoje acusam os governantes de seus países de serem "autoritários" e atacarem a liberdade de imprensa. A foto que ilustra o post é da proprietária do Grupo Clarín brindando alegremente com o sanguinário Jorge Rafael Videla, condenado à prisão perpétua por crimes contra a humanidade. Hoje seus veículos falam do kirchnerismo como se fosse uma ditadura assassina.
Do lado comunista a história se repete. Os regimes que adotaram a cartilha da foice e do martelo são vistos como as verdadeiras democracias pelos seus defensores, que dizem que todas as violações de direitos humanos que ocorrem nesses lugares são invenções norte-americanas. Os dissidentes são vistos como traidores que merecem a prisão.Resumo da ópera: não importa o que digam os livros ou os empolados discursos oficiais. Democracia é quem está conosco. Ditadura é quem está contra nós. Ponto.
Ditadura é o que se opõe a mim, e Democracia é o que está ao meu favor.
ResponderExcluir