quarta-feira, 7 de dezembro de 2011

O que mata um professor

Nunca fui filiado a nenhum sindicato de professores. Isso se dá por muitas razões que não vêm ao caso agora. Mas uma delas é que normalmente nossos sindicatos (como os das outras classes também, aliás) concentram sua ação em defender nossos interesses materiais. O que eu acho muito errado. Isso deveria ser uma parte de sua luta, uma parte importante, mas não a única.
Pois em todos esses anos de docência, o que vejo é que não é o dinheiro o que mais torna a nossa profissão algo tão degradante. O que sinto, e acho que não é só comigo, é que a pior parte é ver que vivemos numa sociedade que não nos respeita. E o resultado, como não poderia deixar de ser, é que não recebemos qualquer respeito nem mesmo da parte dos nossos alunos.
Tente entender. Professores são humanos. Têm família, contas a pagar, problemas pessoais, enfrentamos trânsito, violência, ficamos doentes, etc. Como todo mundo. Só que nossa profissão nos obriga a deixar tudo pra lá, entrarmos numa sala e fazer um esforço sobre-humano perante duas ou três dúzias de pessoas para criar um clima agradável. Você pode estar morto por dentro, corroído pelos piores problemas pessoais, mas se mata para tentar não deixar que aquilo interfira, e que aquelas pessoas, cujo futuro é em parte responsabilidade sua, possam ver apenas o melhor de você.
Não acho que as pessoas devem nos aplaudir na rua por fazermos isso por elas: foi a profissão que escolhemos. Mas acho que merecíamos ao menos algum reconhecimento e gratidão. Que quando você está querendo morrer mas toma um remédio tarja preta para se equilibrar, entra na sala e tenta dar uma aula leve e agradável, os alunos não pensem “oba, esse aí é todo alegrinho, vamos aproveitar dele. Não vamos fazer porra nenhuma e depois no fim do ano/semestre a gente aplica um golpe qualquer”.
Em suma, o mínimo que se espera é que nos tratem como humanos. Não gostamos de ser interrompidos quando estamos falando algo sério por alguém que está falando mal da gente (e alto ainda por cima) na nossa frente. Não podemos querer ouvir alguém que faltou 80% das aulas dizer que a reprovação é culpa nossa, por fazer a chamada sempre que a pessoa sai de sala. E sobretudo: não gostamos que alguém entre em sala dizendo "porra, vou ter de assistir essa aula chata porque estou cheio de faltas"
Você vai dizer que isso é porque essas pessoas são babacas (e é bom que se diga, estão longe de ser a maioria). Sim, elas são babacas. Mas o fato de se sentirem tão livres para serem babacas à vontade na frente de quantas testemunhas quiserem mostra bem o nível de respeito que nossa classe desfruta na nossa sociedade.
E ninguém parece ligar para nada disso. Sentamos entre nós, reclamamos disso tudo, tomamos um café, respiramos fundo, e recomeçamos o esforço de tentar deixar todas as amarguras para fora da sala de aula, mesmo sabendo o que vamos encontrar pela frente. E ainda querem que a gente se orgulhe do que faz.
Aí voce descobre que a mídia só dá espaço para a educação quando é para o Dimenstein falar que o maior problema da educação brasileira é a falta de computadores, ou o cara da Veja que acha que se voltar a reprovação todos os problemas se resolvem. Aí você senta e chora.

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