terça-feira, 1 de novembro de 2011

A "traição" petista


O post anterior gerou um comentário que me fez reler o que escrevi, e de fato concluí que o leitor tinha razão. O texto efetivamente sugere que Lula e o PT foram "obrigados" a se unir a grupos políticos que antes repudiavam e moderar tanto a prática quanto o discurso. Não foi o que eu quis dizer, mas de fato há margem para essa interpretação. Então quero aproveitar e falar um pouco desse tema tão relevante.
Reconheço que os oito anos de Lula tornaram o Brasil um país melhor. No entanto, pro meu gosto essa melhora foi pequena. O Brasil tem problemas demais para ficarmos satisfeitos com tão pouco. E se o país não melhorou mais é porque o lulo-petismo estava compromissado demais com as elites tradicionais para mexer em seus privilégios. Acho que discordar dessas coisas é dar cabeçada na parede. Não vejo como pensar de outra forma.
Por outro lado, há algo mais que não vejo como discordar. Lula não teria vencido essas eleições sem fazer essas concessões. Nós da esquerda temos de admitir: vivemos num país em que a população não quer um presidente de esquerda. O que eles querem é participar do capitalismo, e amam Lula porque acreditam que ele deu isso a eles.
Eu sei: ao invés de simplesmente mudar o rumo, o PT poderia ter tido um projeto de longo prazo, de conscientização, etc., a fim de mudar essa percepção da população, e aí lutar pra vencer de verdade. Era uma possibilidade, e certamente é a que eu preferia que eles tivessem escolhido.
Por outro lado, eu não recrimino a escolha petista. Entendo que no segundo governo FHC eles perceberam que havia espaço para um projeto que mantivesse as conquistas daquele governo (sem inflação, estabilidade, etc.) mas trouxesse desenvolvimento suficiente para inserir as massas no maravilhoso mundo do consumo. E é claro: partidos querem chegar ao poder. Outro grupo poderia ocupar esse espaço, chegar ao poder, executar o mesmo projeto que tivemos com Lula e roubar inclusive a base que o PT já tinha. Era um dilema dificil mesmo, e não podemos negar que havia a possibilidade que o "longo prazo" citado antes não chegasse nunca.
Em suma, lamento a opção petista, mas a compreendo. Perderam o meu voto mas ganharam milhões de outros. Do ponto de vista deles, não fizeram tudo o que sonharam, mas fizeram mais do que poderiam se passassem o resto da vida na oposição. Consigo entender a lógica.
O grande problema aí foi a perda terrível que tivemos: deixamos de ter um partido de esquerda com autêntica inserção nas massas. Os partidos que ex-petistas montaram têm tido seríssimas dificuldades de se fortalecer, já que o projeto no poder cooptou a maioria dos movimentos sociais. Além disso, muitos antigos esquerdistas do PT estão (por algum motivo, nem sempre idôneo) convencidos de que o lulo-petismo de fato está revolucionando o país. E as pessoas que estão dentro do lulo-petismo mas desejosos de empurrá-lo para a esquerda estão todos cagando de medo de que isso leve à perda de votos mais conservadores. Aí acham que criticar Lula e Dilma pela esquerda é "fazer o jogo da direita". Xingam quem critica os pontos em que o lulo-petismo simplesmente não andou como se fôssemos trouxas fazendo o jogo da direita (obviamente quem está fazendo isso são eles, que acham que o certo é ficar quietos vendo a direita dominar a aliança governista).
Em suma, discordo mas entendo a opção petista. Não acho que foi uma traição. Um partido tem o direito de fazer alianças que levem a compromissos programáticos para chegar ao poder. A curto e médio prazo o PT não chegaria lá de outra forma. Mas que falta faz um discurso de esquerda com sólida base popular! Essa sim, foi uma perda que eu realmente lamento.

8 comentários:

  1. Comentando aqui e lá:

    Acho que tenho uma visão mais pessimista do PT/PCdoB porque convivi com essa galera muito perto (trabalhava na Pref. do Recife) e vi o quanto eles são autenticamente escrotos. Livre de qualquer análise política, sociológica, histórica, o escambau, vi o que eles fazem na prática.
    Quanto ao texto, preciso dizer que o penúltimo parágrafo foi bastante lúcido, muito bom.

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  2. Começar fazendo o necessário, passar a fazer o possível, e chegar ao impossível...
    Controlar a inflação, distribuir renda, ser um lugar protegido da crise do capitalismo...
    Manter as grandes (ex)estatais com o capital aberto, retomar a diretoria dessas grandes empressas, utilizar destas grandes empresas para impulsionar as economias locais...
    Erradicar a fome, Universalizar o bolsa familia, muuuuiiitas bolsas para estudantes universitários...

    Ou será que deveria estar satisfeito com um corcel 76?

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  3. Eu ainda acho que foi uma traição. Quando na oposição xingavam e criticavam o tempo todo certas atitudes de direita, quando tomou o poder.... perpetuação e imensos continuísmos. O alinhamento a setores conservadores impediu de o PT fazer mudanças que vislumbravam quando na oposição e criticavam o tempo todo a situação. Depois....
    Itaú com lucro de 10 bilhões superando até muitos europeus e Bolsas famílias matando fome e criando financiamentos a toa. Avanços muitos, mas traição da proposta política inicial também.

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  4. Este comentário foi removido pelo autor.

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  6. Na confusão Esquerda/Direita uma coisa fica clara:todos querem o poder e isso a qualquer preço.A única diferença de fato dos partidos no Brasil é a cor da bandeira e o número de legenda,fora o resto,todos caminha de mãos dadas rumo a felicidade prometida pelo capitalismo. Na sobras se encontra o povo , massa amorfa , que, apenas assiste a tudo sem entender muito bem,porém, existem as bolsas da vida que funcionam como um orientador político de quem as recebe.Enquanto isso eu e meus impostos financiam a festa da ralé que nem sabe o que é social-democracia.Respeito os que concordam com o Pt e o Lula,mas na minha opinião nosso problema é moral e não político.

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  7. "Enquanto isso eu e meus impostos financiam a festa da ralé que nem sabe o que é social-democracia." Nunca viram o disco. Oh coisa chata!

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  8. O PT sempre apostou na social democracia, apesar do discurso de 89. Natural terminar assim, não considero traição.

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