quarta-feira, 2 de novembro de 2011

Nelson Cavaquinho


Originalmente eu ia fazer um post sobre o que é ser de "direita" e "esquerda" hoje em dia. Mas vai ter de ficar para amanhã. Pois eu simplesmente atinei para algo muitíssimo mais importante: no fim de semana passado completamos 100 anos de nascimento do cracaço Nelson Cavaquinho.
O samba ter parado há décadas de criar músicos talentosos já seria triste. Ainda pior é ver que esse espaço foi tomado pelos zeca pagodinho da vida, com aqueles pagodes melosos engana-trouxa. Ou seja, está cheio de gente aí achando que ser sambista é encher o rabo com propaganda de ceveja, ficar por aí bancando o "engraçado" e fazendo letrinha alegrinha.
Nada disso meu amigo. Os grandes sambistas do passado eram muito amargos em suas letras. Escute Ismael Silva, Assis Valente ou Cartola. As músicas deles eram dolentes, sofridas. O mundo foi cruel com todos eles. Não tinha essa de contrato com grande gravadora, DVD cheio de frescura. Se eles entrassem numa de "deixa a vida me levar" eles iriam se dar mal.
Veja: não sou contra sambista se dar bem na vida. Eu adoraria que o Ismael Silva não tivesse passado anos na cadeia e morrido pobre, que o Assis Valente não tivesse se matado ou que o Cartola tenha sido pobre em 90% de sua vida. Eu amaria que eles tivessem tido a vida que esses picaretas têm hoje. O que é ridículo é ver esses riquinhos cantando música porcaria, aguada, e dando uma de "malandros" ("ah, eu morava em Cordovil há 983 anos"), e vivendo uma vida que os gênios do samba nunca puderam sonhar em ter. O que me mata é a injustiça de o Ismael Silva morrer pobre e o Zeca Pagodinho nadar em dinheiro.
Nelson Cavaquinho era dessa estirpe monumental de negros pobres e sofridos que passaram a vida sendo pobres e cantando músicas pessimistas. Talvez poucos tenham sido tão amargos em seus sambas como ele. E essas letras eram acompanhadas por melodias absolutamente inspiradas, excelência instrumental (o proprio Nelson tocava um violão absurdo) e a voz única do gênio.
E, segundo a opinião unânime dos sambistas que conheci, um tipo absolutamente hilariante. Simultaneamente desligadíssimo e boemio incontrolável, protagoniza inúmeras histórias do folclore do mundo do samba. A maioria é absolutamente impublicável, claro. Uma das que eu gosto, e que pode ser contada aqui é lembrada pelo Sérgio Cabral.
Segundo ele, Tom Jobim estava vendo um show de Nelson Cavaquinho. Curtiu tanto que subiu ao palco e tocou flauta em várias músicas. Ao fim Nélson mandou essa: "Sérgio, muito bom aquele menino tocando flauta, quem é?".
Folclore à parte, Nelso Cavaquinho era um monstro. Compòs músicas sensacionais, algumas conhecidas (sem que a maioria saiba o autor) outras não. Mas sempre vale a pena ouvir. Nunca ouvi uma música nota 7 deles. É tudo muitíssimo bom. Clique abaixo e se delicie.












Um comentário:

  1. E eu tou conferindo os videos... Madrugada, lendo Hegel e ouvindo Nelson Cavaquinho... Que mistura doída...

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