sábado, 12 de novembro de 2011

A Beleza do Morto na MPB


Há uns 4 mil anos, quando eu era estudante de graduação, resolvi estudar a maravilhosa música brasileira dos anos 20, 30 e 40. Queria transformar esse assunto, que eu tanto apreciava, em uma pesquisa científica (no fim meu mestrado e doutorado não foram exatamente sobre isso, mas enfim...).
A primeira coisa que me surpreendeu: os intelectuais da época em sua maioria não davam a mínima para o samba e seus amigos. E certamente não por serem elitistas: nesse período a intelectualidade brasileira investiu furiosamente em construir a ligação entre "cultura popular" e "cultura brasileira". Os melhores cérebros daquela geração se dedicaram a estudar essas raízes populares da cultura nacional. E encontravam na rua com gênios da música brasileiríssima, pobres e negros, era perfeito. Por que diabos não ligavam pra isso?
Depois eu entendi. Esses caras queriam encontrar "autenticidade". Para eles a "boa música popular" era dos velhinhos perdidos na zona rural. Grosso modo, pra eles Ismael Silva e Cartola eram marginais que faziam música barulhenta com letras ridículas que só falavam de bandidagem.
EPA: eles viam esses gênios da mesma maneira que nós vemos hoje os funkeiros!
Basta analisar: os gênios que criaram as escolas de samba só foram reconhecidos como tais nos anos 60. Eram velhinhos com reumatismo. O samba se tornara respeitável. O desfile das escolas de samba passava na TV. Não faziam mal à ninguém. Cartola gravou seu primeiro disco aos SESSENTA E CINCO ANOS.
Nós, intelectuais de hoje, adoramos pobre. Desde que sejam velhos reumáticos e inofensivos. Vamos para a zona rural atrás de idosos que façam coisas à beira da extinção. Exatamente como os intelectuais de 80 anos atrás. E exatamente como eles, descartamos uma cultura cheia de vitalidade, que faz todo o sentido para as classes populares do nosso tempo, pois os achamos marginais fazendo música barulhenta com letras ridículas que só falam de bandidagem.
O que posso concluir é muito simples. Daqui a meio século os funkeiros, bregas e etceteras estarão velhinhos e inofensivos. O tipo de música que fazem não vai assustar ninguém. De jovens que agressivamente exigem seu lugar no mundo terão se transformado em vovozinhos reumáticos. Aí os universitários correrão atrás deles, suas músicas serão consideradas "autênticas" (em contraposição ao que os jovens de daqui a meio século fizerem), o Estado os pagará para não deixar suas manifestações morrerem.
Entenda-se: gosto musical é subjetivo. Ninguém tem de gostar de nada. Apenas aponto uma similaridade absolutamente óbvia entre a maneira pela qual os geniais músicos de outra época eram vistos pelos intelectuais com a maneira pela qual os intelectuais de hoje vêem as manifestações musicais à nossa volta. Não levamos essas pessoas a sério. E acho que estamos erradíssimos. O que eles dizem importa muito aos que estão ao redor deles. E isso deve despertar todo o interesse de quem quer compreender o mundo à sua volta.
E acho engraçado demais ver que essas músicas de hoje fazem essas pessoas "de esquerda" se transformarem na minha avó reacionária: essas músicas são "cheias de putaria", "barulhentas", "violentas"...
Não façamos como Mário de Andrade e seus amigos, que estavam tão preocupados com o passado que não viram o que estava à sua frente. Levemos a sério o que tanta gente se importa, e não o que nós eventualmente gostaríamos que elas gostassem.




3 comentários:

  1. Há alguns meses li um artigo na Revista Caros Amigos (acredito que seja) sobre o funk, sua história, seus tipos e sua aceitação como manifestação cultural.
    O autor do artigo fez um paralelo com a história do samba que, por sua vez, somente foi reconhecido como manifestação cultural durante o governo de Getúlio Vargas.
    MAs o ponto mais interessante foi a construção do estereótipo negativo do funkeiro pela mídia. Um gênero musical que surgiu nos morros e nas favelas cariocas com letras que falavam sobre a realidade das mesmas: repressão, desemprego, violência e injustiça. Obviamente que a mídia e a industria fonografica não estão interessadas nesses problemas, tanto que os funkeiros que passam na televisão e tocam nas rádios só cantam música com letras ridículas e vulgares.
    Sem contar as reportagens de telejornais que sempre associam drogas, violência e promiscuidade com os bailes funks. Assim criou-se o estereotipo do funkeiro: criminoso e promiscuo.
    Outro ponto que acho interessante na discussão no funk é sobre o papel da mulher. Em alguns momentos ela sai do papel de objeto de desejo para o objeto desejante: eu posso, eu quero. Particularmente, detesto o funk. Mas acho um fenômeno muito interessante que merece ser estudado.
    Até o momento não apareceu nenhum gênio que pudesse revolucionar este gênero e torná-lo tão importante como o samba, por exemplo. Mas pode ser que no futuro, como você mesmo disse, isso seja possível.

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  2. Claudinho e Buchecha é doido num churrasco com a galera, raeraerae

    O foda são os excessivos toques artificiais repetidos eletrônicamente, ajudando o ouvido a aceitar o cotidiano maquinário e consequentemente chato barulhento pra caralho, neurante.

    (Gosto muito mais da música feita da energia da alma ou espiritual do que da energia elétrica, não admiro a arte-ficial)

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  3. noiado doido esse zé da lagoa kkkk

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