terça-feira, 15 de novembro de 2011

25 anos de uma eleição chave


Há 25 anos os brasileiros iam às urnas para eleger seus governadores, senadores, deputados federais e estaduais. Foi a eleição em que tivemos a hegemonia mais avassaladora de um partido. Catapultado pelo Plano Cruzado, o PMDB venceu em todos os estados, menos Sergipe. Uma eleição infame, com resultados de dimensões que não foram percebidas naquele momento.
A longo prazo parece claro que foi uma eleição chave. A última eleição da ditadura, a de 1982, havia sido polarizada entre os que defendiam o legado do regime militar e os que o atacavam. E a oposição teve vitórias importantíssimas. Tancredo Neves e Franco Montoro, que representavam a oposição liberal ao regime venceram facilmente em Minas e São Paulo. E em uma virada espetacular Leonel Brizola levou o governo do Rio, mesmo com a tentativa de fraude na apuração em que a Rede Globo teve ativa participação.
Em 1986 o quadro era outro. A ditadura tinha ido embora, entregando um país falido e com inflação descontrolada para os civis. O cenário começava a se reorganizar. E aí veio o Plano Cruzado, verdadeira fraude eleitoral que não apenas resolveu aquela eleição para o governo, mas que foi fundamental na definição de traços essenciais da política brasileira.
Na ditadura o campo direitista era preenchido pelos defensores do regime. O MDB (depois PMDB) representava a oposição legal. Ainda que basicamente formada por liberais centristas (Tancredo, Montoro, Ulisses, Itamar Franco, Pedro Simon, etc.), contava com fortes simpatias da esquerda, já que verbalizava as reivindicações democráticas. A esquerda propriamente passou a existir no fim dos anos 70, resultando na criação do PT e do PDT.
Em 1982 o PMDB se despediu da sua face progressista. 4 anos depois o partido era governo, comandado por um expoente do regime militar (José Sarney) e apoiado pelo PFL, totalmente formado por defensores do mesmo. O partido havia muito rapidamente jogado fora todo o capital acumulado em anos e anos de respeitável oposição à ditadura. Precisava de uma nova cara.
E essa nova cara foi assustadora. O partido se transformou no partido dos coronéis, o lar dos oportunistas que desembarcaram do PDS quando ficou claro que ninguém mais queria saber de ditadura. Basta ver que em 1986 Newton Cardoso e Orestes Quércia sucederam a Tancredo Neves e Franco Montoro. Nada mais sintomático para um partido que deixava de ser a voz do centrismo democrático e passava a ser o partido do oportunismo e do coronelismo (nao à toa, logo em seguida os que não gostaram da mudança saíram para formar o PSDB, que hoje é o legítimo herdeiro do MDB, com seu DNA liberal e democrático).
Assim a política brasileira se reconfigurava. De um lado os partidos de esquerda, com forte penetração nas grandes cidades. De outro, um conglomerado amorfo de partidos tendo como denominador comum o anti-esquerdismo, fundado nos reacionários urbanos e no coronelismo rural. Esse grupo não tinha líderes com real penetração popular a nível nacional, e por isso mesmo teve de aderir a um aventureiro em 1989. Esse grupo acabaria encontrando o rumo sob a liderança tucana, que trouxe respeitabilidade, discurso coerente e um programa político à aliança.
Mas em 1986 tudo isso ainda estava muito longe. O próximo round seria a eleição municipal de 1988, com vantagem clara da esquerda. Mas a batalha final ocorreria em dezembro de 1989. E quando esse confronto aconteceu, a direita estava nos postos chave, detendo todos os governos estaduais. Graças a isso venceu aquela eleição em boa parte devido aos votos dos rincões.
Assim, há 25 anos a direita tinha uma vitória absolutamente decisiva para aquela que seria a grande batalha. Aquela eleição também foi o início da configuração de um campo direitista no pós-ditadura. E o fim do PMDB como partido respeitável. Uma eleição de consequencias profundas para a política brasileira.

Um comentário:

  1. ABRAÇA O CAPETA:
    Qual o problema da Globo ter fraudado as eleições?
    Sempre há corrupção e enquanto houver poder, a merda vai ser a mesma, não acredito em poder da maioria como não acredito em filtro de cigarro!

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