domingo, 13 de novembro de 2011

A PM na USP vista de dentro


Se você tem um mínimo de inteligência se sentiu desconfortável com a idéia vendida pela mídia de que tudo o que aconteceu na USP foi fruto de estudantes querendo fumar maconha. Mas como ver as coisas de forma diferente se todas as fontes de informação diziam a mesma coisa? Aqui vai a visão de quem viveu tudo de dentro. Seu autor é Gabriel Lima, estudante de Letras da USP. Segundo o reitor da universidade, o governo do estado e os veículos da mídia, um vagabundo maconheiro inútil. Mas como você verá abaixo, é alguém que tem o que dizer. Você pode não concordar com o que ele pensa. É direito democrático. Mas dá o que pensar. Leia e dê o desconto que quiser. Mas veja como as coisas são mais complexas do que a grande imprensa tentou vender.

Diga aí Gabriel:

"Eis o senso comum: os estudantes que se manifestam na USP são baderneiros que não querem estudar e, portanto, precisam ser reprimidos. Além disso, a Cidade Universitária é insegura, logo, precisa de mais polícia. As manifestações são em prol de uma Universidade-bolha, alheia à sociedade; um parque de diversões onde pessoas de maior poder aquisitivo podem fazer o que querem, às custas dos impostos pagos pela sociedade. Esse discurso, facilmente encontrável em qualquer lugar (sobretudo na grande mídia), vai absolutamente de encontro à realidade do que está acontecendo na Universidade de São Paulo, hoje. É fácil adotá-lo quando se está entre a maioria esmagadora da população, que trabalha exaustivamente para manter as contas em dia e ainda tem que pagar para ter um diploma universitário. E é por isso que, em primeiro lugar, é importante ter em mente: quem faz parte desse grupo deveria estar estudando na USP. Deveria, mas foi barrado por um mecanismo de elitização e controle social chamado vestibular. O que é o vestibular? Uma forma de impedir que todos entrem na Universidade pública. Ele existe por um motivo simples: para abrir mais vagas, é necessário que o Governo invista seu dinheiro (proveniente dos impostos). Como o Governo não quer investir, é mais fácil criar um filtro que impeça a população de preencher as poucas vagas existentes. E este filtro, em São Paulo, se chama FUVEST.
Quando o estudante da Faculdade de Economia e Administração, Felipe Ramos de Paiva, foi assassinado no estacionamento de seu departamento, o Reitor da Universidade (João Grandino Rodas) assinou um convênio com a PM, permitindo que a mesma realize rondas rotineiras no Campus. Desde então, estudantes são enquadrados em frente à Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas onde, historicamente, há mais resistência à privatização da Universidade. Muitos, inclusive, foram questionados por policiais armados com cassetetes sobre serem “contra, ou a favor da PM na USP”. Reflitamos, então: a Polícia Militar está na Cidade Universitária para garantir a segurança dos estudantes, ou para reprimir violentamente o Movimento Estudantil (como fez na última Terça-feira, em um espetáculo lamentável de força bruta absolutamente desmedida) e perseguir politicamente quem é contrário ao projeto privatizante da Reitoria? Não tenho dúvida em optar pela segunda alternativa. O Reitor da Universidade já afirmou, em entrevista à Veja, que “ensino público não é sinônimo de ensino gratuito”. Este mesmo reitor pretende reformular os currículos dos departamentos em base a uma suposta “demanda de mercado”, fechando habilitações de línguas pouco procuradas no curso de Letras (como Armênio e Hebraico), abrindo uma disciplina chamada “História Empresarial” no curso de História, bem como uma graduação paga (mensalidades em torno de 2.000 reais) de Economia e Administração, dentro do próprio Campus público. Por isso, ser contra a Polícia Militar na Universidade (obra deste mesmo Reitor) é ser contra a perseguição daqueles que são contra a privatização. E se partirmos do ponto de que a cobrança de mensalidades transforma a USP em uma bolha ainda mais excludente, logo, concluímos que ser contra a Polícia Militar na USP é ser contra a Universidade-bolha. É preciso superar a questão do consumo de drogas no Campus (que existe, assim como em toda a sociedade). Basta ler os manifestos da mobilização e notar que eles, em momento algum, falam em “maconha”, ou qualquer outro entorpecente. O Campus do Butantã é um lugar inseguro? Sim, e muito. Por isso, quem estuda na USP precisa de uma Guarda Universitária bem equipada e preparada, que seja capaz de atender estudantes agredidos (como o estudante que faleceu na FEA), ou que passam mal (como o estudante de Filosofia que morreu de insolação na Praça do Relógio, ano passado) em meio aos espaços inóspitos que existem entre os departamentos. Essa guarda precisa estar subordinada à comunidade acadêmica. Os estudantes precisam de um Campus mais iluminado, de árvores podadas e de mais ônibus. Não de uma polícia política que os obrigue a cobrir a cara toda vez que expressarem uma opinião divergente"
O texto do Gabriel me deixa algumas perguntas, que a grande mídia não fez:
1) A universidade é elitista por culpa dos alunos ou porque o Estado não permite uma universidade aberta para mais pessoas?
2) a PM dentro da USP fará com que essa universidade seja mais democrática e aberta aos jovens talentosos da classe baixa? como?
3) Sentar porrada nos que ocuparam a reitoria melhorará a USP de alguma forma? qual?
4) A universidade pública brasileira (e não apenas a USP) é tão perfeita que tem como maior problema alunos fumando maconha?
5) A PM paulista, que mata mais pessoas que as 52 polícias estaduais norte-americanas somadas, é a melhor saída para resolver os problemas da universidade pública brasileira?

6 comentários:

  1. PSDB = A escória da humanidade. Kautsky deve tremer ao ver o nome social-democracia nesse partido.

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  2. Tiago, não existe "fora" e "dentro", não é só a "visão da mídia" que circula por aí. Os estudantes estão passando o seu recado também e não é só o Gabriel. Eu entendo vários dos pontos de vistas que os estudantes manifestam, concordo com várias das suas partes, mas não fecho com o todo. Por outro lado, a mídia não mostra somente uma "leitura Rodas" do problema e há muito mais histeria em leitores (percebe-se isso bem em comentários a matérias) do que na própria mídia. As pessoas não são tão cordeirinhas diante do que lhes é apresentado na TV, no jornal ou na internet. Agora, o que mais me incomoda é a pretensão de testemunho ocular privilegiado que vem sendo utilizada por aqueles que se dizem imediatamente (sem mídia...) próximos da verdade. A autopsia é um argumento de autoridade inventado lá por volta do século V a.C., mas já vem sendo criticado pela historiografia desde o início do século XX, quando o historicismo e o positivismo entraram em suspeição. Tudo é mediado, não há percepção, por mais "direta", que não suponha mediações: lugares sociais, ideológicos, políticos, mentais, cognitivos, éticos, morais... Ninguém está mais perto do evento. Há sempre parcialidade nas observações e intenções na sua divulgação, seja por qual mídia for.

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  3. Caro Guilherme

    1) Acho que voce deve ter entendido que não trouxe um testemunho de alguém de dentro por representar supostamente "a verdade", mas simplesmente para trazer um outro ponto de vista. Como disse, eu mesmo tenho restrições em especial à metodologia que esses estudantes utilizaram. Mas acho que esse tipo de visão merece ser levada a sério.
    2) Talvez eu tenha dado azar, mas as visões que vi na grande imprensa iam todas no mesmo sentido. Estudantes vagabundos e maconheiros. Foi só o que vi nesses veículos. Mas pode ser que eu tenha dado azar.
    3) Desde a primeira frase o post presume um leitor que não ficou satisfeito com esse tratamento da mídia hegemonica, o que significa que tenho plena consciencia de que uma eventual visão única dos grandes veiculos não implica na aceitação dessa visão por todas as pessoas.

    Grato e orgulhoso pela sua sempre pertinente contribuição

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  4. 1) Eu entendi, Tiago. A crítica não é a você mas ao argumento dos autores de que os seus pontos de vista são mais fidedignos pela proximidade com o acontecimento.
    2) A grande imprensa divulgou a coisa mesmo como você acompanhou, mas circulou também muita coisa diferente em outras mídias, como em blogs e no facebook, que são canais nada desprezíveis hoje.
    3) O lado bom da mídia é que nunca ninguém fica completamente satisfeito com ela, nem os mais "conservadores" nem os mais "progressistas".
    Abraços, rapaz.

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  5. O decorrer das últimas greves dos professores, mostra como os mestres estão sabendo comunicar com a sociedade individualista, mostra o respeito e importância que esses profissionais recebem da sociedade.
    Um dito popular, uma frase bíblica:
    "Volta o que vai!" ou "Agente recebe o que paga"


    Os alunos aprenderam bem com os professores, desde antes estão derrotados por não ter o necessário apoio social e não esforçamos para conseguir, na cultura do mínimo, assim é a vontade.

    "Sonho que se sonha só, é só um sonho, sonho que se sonha junto é realidade!"
    (Enzo remendando Raul Seixas)

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  6. Não sei o que to falando, agora a pouco tava fumando um toco d pirar o cabeção, mas pode crê que e os alunos das federais não estão interagindo coletivamente na sociedade, por isso a mídia fa gato e sapato. (Lula é mestre!)
    A merda da intelectualização alienada diminui do cara a capacidade de interação.
    Também a preguiça e desamor a ideologias ou ainda da nova moda de ser a-históricos e sem esperança de uma sociedade mais honesta.

    A mídia só está mandando agente tomar no cú, por que não damos o devido respeito à sociedade e a nós mesmos!

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