segunda-feira, 7 de novembro de 2011

O Fim da Minha Geração

"Tenho nojo da nossa geração". Essa é talvez a frase central do filme Nós Que Nos Amávamos Tanto, de Ettore Scola, um dos melhores filmes que já vi na vida. Em umas duas semanas estarei a 1 ano dos 40 anos. Sou da geração que nasceu dentro da ditadura, e quando começamos a acordar para a vida, concluímos que aquilo não era vida. Nada muito diferente do que viveram todas as gerações de adolescentes do mundo. Mas tínhamos algo muito interessante: alvos muito evidentes para nosso ódio.
Guerra Fria, corrida armamentista, ditadura militar, esposas assassinadas legalmente por maridos ciumentos... era muita coisa para ser odiada, e com razão. Coisas que ninguém aguentava mais, que eram carcomidas, e que para nós eram verdadeiramente intoleráveis.
Hoje eu encontro os amigos militantes da época. Gente que queria revolucionar o país, que sofreram comigo as grandes derrotas daquela década, como as diretas já e as eleições de 1989. São quase todos figuras patéticas. Quase todos são "quadros" petistas. Ou seja, são pessoas que trabalham para algum governo petista. Confortáveis com seus ótimos salários e posição social, gostam de dizer que estão ajudando a fazer a revolução pela qual o país passa. Eu respeitaria se eles dissessem: "sei que essa não é a revolução que sonhávamos, mas é o possível". Mas eles dizem outra coisa: "estamos fazendo a revolução que sonhávamos. Em alguns anos vamos acabar com a pobreza. Estamos levando o Brasil ao socialismo!". Tristes figuras.
Um reflexo disso é o que aconteceu com as bandas pop-rock daquela época. Bem ou mal, muitas delas verbalizavam maravilhosamente a raiva que sentíamos daquele mundo ridículo. Aí vejo para onde foram depois. Nenhuma sobreviveu à "síndrome do rockeiro adulto". No fim da década todas ficaram ser ter mais nada a dizer. Encerraram a carreira, e anos depois retornaram sob diferentes pretextos, mas na verdade apenas para tocar as velhas músicas, em versões absolutamente caretas e adocicadas.
O atestado de óbito da minha geração pra mim foi aquele "ei, Sarney, vá tomar no cu", do vocalista do Capital Inicial, no rock in rio. A raivosa banda censurada pelos militares havia se transformado no porta-voz dos alienados babaquinhas que acham que reclamar de corrupção é postura política. É um episódio sem importância, mas metaforicamente é muito poderoso. Me soou como o ponto final de uma geração que (como todas as outras) um dia quis mudar o mundo mas se contentou com um bom salário.







3 comentários:

  1. O seu desabafo é justo e a sua Discussão pertinente. Sabemos que estamos vivendo, e em muitos aspectos da vida, seja social ou política, uma certo conformismo. Porém, você não sabe o quanto dói fazer sua reflexão, talvez por uma nostalgia; o passado, num tempo e num lugar onde nossas lutas nos faziam felizes, no entanto a dor é mais forte onde o presente nos leva a olhar para a frente e visualizar um futuro sem sonhos, fantasias e utopias. Uma melancolia que deprime o corpo e secura a alma.

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  2. Não é a minha geração, mas senti como se fosse dada a tristeza que senti lendo esse post. Acho que já estava disponível à tristeza depois que passei a noite toda trabalhando tendo que ouvir músicas de MC Sheldon.

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  3. Sobre o Capital e Dinho Ouro Preto só tenho um comentário: " Tu traiu o movimento do rock de Brasília, véio!"

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