quarta-feira, 30 de novembro de 2011

Marcelinho Paraíba, ou: a culpa de tudo NÃO é dos políticos


Pra quem não vive no Recife, informo que o jogador Marcelinho Paraíba está sendo acusado de estupro em sua cidade natal. Foi preso e responderá pelo crime. As informações são mínimas até agora. Há apenas alguns rumores.
No entanto a cidade não fala de outra coisa. Todo mundo que é Sport defende o jogador. Diz que a garota é fresca, que o cara só quis tirar uma casquinha, esse tipo de coisa que infelizmente a gente conhece bem. Os torcedores dos outros times da cidade estão aproveitando: o fato do jogador ser um criminoso prova que o time só tem torcedores assassinos e ganha todos os jogos na base do apito.
Veja como nós somos. Uma denúncia que nem tem 24 horas já gerou tantas certezas. Baseado apenas no que é melhor para o time que torce, uma parte da cidade decidiu que o cara é inocente (esgrimindo argumentos asquerosos, por sinal) e a outra parte já decidiu que ele é culpado. Um assunto tão delicado como estupro para essas pessoas é algo a ser resolvido baseado no que é melhor para seu time. Que se foda a lei, que se dane o que é certo, que vá pro espaço a justiça. Só importa uma coisa: meu time se dar bem.
Mas peralá: essa não é a mesma lógica da conveniência, da "ética do momento", do "se eu me der bem o resto que se dane" que a gente tanto condena nos políticos? É, exatamente, é ela mesma. Não tenha dúvidas que essas mesmas pessoas que condenam ou absolvem um acusado de estupro baseado no time pelo qual torcem vivem metendo o pau em políticos que fazem coisas semelhantes.
Não é acaso. Quem elege esses políticos somos nós. Uma das coisas que estou de saco cheio é essa coisa de contrapor um "povo honesto e trabalhador" a "políticos corruptos". Nada disso, amigo. Quem elege esses políticos somos nós. Fomos nós que reelegemos FHC depois da compra de votos da reeleição porque estávamos felizes com o fim da inflação. Fomos nós que reelegemos Lula com mensalão e tudo porque tínhamos grana no bolso.
Votamos em político ladrão sabendo que é ladrão desde que isso faça a gente se dar bem. Reclamamos de corrupção desde que seja algo que nos convém (uma graninha pro guarda nos liberar da multa, ou comprar um recibo pra sonegar imposto tudo bem, ne?) e nossa ética é totalmente baseada nas nossas conveniências. Quem disse que somos diferentes dos nossos políticos?

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