sábado, 24 de março de 2012

Revendo a TV



Confesso que a morte do Chico Anísio me abalou bastante. Foi o maior humorista que eu vi na minha vida. Pode ser que este post seja fruto apenas dessa comoção. Ou não.
Nós da esquerda sempre desconfiamos muito da TV. E nunca faltaram razões para isso. Ainda mais a minha geração, que viu a Globo tentando roubar a eleição de 1982 do Brizola, escondendo as Diretas e fazendo o que fez nas eleições de 1989. Que é um conjunto de empresas disposto a fazer valer aquilo que lhe interessa sem se importar com seu público é algo que só os mais ingênuos poderiam duvidar.
Mas o que me vem é: será que a TV é só isso? Será que ela não é algo mais?
Lembro de quando cheguei à universidade. E encontrei lá dezenas de colegas de turma, cada um de um lugar diferente. O que tínhamos em comum? A TV. Todos tínhamos crescido vendo Sítio do Pica-Pau Amarelo, Pantera Cor de Rosa, lembrávamos do dia em que o Plantão da Globo anunciou a morte de Elis Regina, e coisas do gênero. Essa era a grande referencia comum que tínhamos. Nossa sociabilidade nasceu daí.
E a morte do Chico Anísio me fez pensar muito nisso. Nas quintas a noite em que a família se juntava para ver o "Chico City" (depois "Chico Anísio Show"). Dos fins de tarde em que eu ia à casa da minha primeira namorada e assistia com ela e sua família a Escolinha do Professor Raimundo...
Aí vieram trilhões de lembranças. O Chacrinha nos sábados à tarde avacalhando tudo, o desenho do Vira-Lata na TVS (atual SBT) na hora do almoço, os maravilhosos personagens da Hannah-Barbera na Band nas tardes dos dias de semana, Luciano do Valle narrando a copa de 1982 na Globo como ninguém jamais narrou na TV brasileira, os magníficos especiais da Globo para crianças dirigidos por Augusto Cesar Vanucci ("Pirlimpimpim", "Arca de Noé", etc.), os adultos discutindo quem tinha matado Salomão Ayala em O Astro, o faroeste ao lado do meu inesquecível avô na TV Record (que só existia em São Paulo), a ótima TV Tupi, e assim por diante.
Que estamos certos em desconfiar da TV eu não tenho dúvidas. Continuemos assim. Mas será que não devemos pensar nela também em outros aspectos? Por exemplo, como criadora de lembranças coletivas (muitas delas maravilhosas) que são essenciais para nossa identidade? A criticidade quanto ao conteúdo não deveria conviver com o afeto das lembranças maravilhosas que ela nos proporciona?

4 comentários:

  1. Com certeza deveriam!!! Muito boa reflexão!

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  2. Eu não tenho nem duvida sobre a televisão e sua programação serem um dos mais fortes elos que unem as pessoas em nosso vasto território e as fazem se sentir brasileiras!!! No lugar mais esquecido do sertão nordestino, no buraco mais profundo da favela e no mais alto também, nos lares da classe média (pessoas riquissimas eu não conheço então não sei) vc encontra ela ligada, passando a sua mensagem... Como as pessoas compreendem a mensagem varia, mas a mensagem é a mesma... E sim, o brasileiro é muito centrado na televisão, basta ver o TT e o face, como a televisão está presente no que se comenta e compartilha!!!

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  3. É preciso lembrar para criticar, se foi uma pergunta, essa sua interrogação, respondo que elas devem e, convivem, mas não dá para unir esses dois corpos no mesmo lugar. Seria como criticar a comida da vovó. As lembranças são para dar gosto, a criticidade para saber o tanto e como se deve comer. A boca e o estômago. Já não sei se estou falando de comida ou TV.
    Vou estourar uma pipoca com manteiga que é mais gostoso que com sal, é vapt vupt!

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  4. Escolinha do prof. Raimundo eu peguei. Era legal, mas nada de excepcional (com todo o respeito aos fãs). Sinceramente, hoje em dia prefiro Monty Pyton além dos programas do mestre absoluto do humor Chespirito. Além de não ter engolido aquela declaração de "não gostar de goleiros negros" em pleno Pontapé Inicial na ESPN Brasil (vi esse programa ao vivo em 2008/09, eles reprisaram recentemente em homenagem ao Chico)

    Lógico que comparado ao Zorra Total, Os programas do Chico que eu já vi são algo supremo.

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