Por outro lado não cabe discussão quanto ao fato de que na média as universidades públicas brasileiras são muito superiores ás privadas. Os neoliberais AMAM mostrar os problemas das universidades públicas, mas evidentemente nem tentam apontar as particulares como modelo, o que seria completamente ridículo. Há uma violenta campanha permanente contra a universidade pública, apontada como um enorme desperdício de dinheiro, com professores picaretas que pesquisam coisas inúteis dando aulas para maconheiros filhinhos de papai. Mas nem pensar em mostrar em que as particulares são melhores, já que é um argumento insustentável.
(antes que eu siga, cabe um parêntesis. evidentemente não quero dizer que todas as públicas são maravilhosas e todas as particulares são uma porcaria. note que eu disse que NA MÉDIA as públicas são melhores. ou seja, uma pública média é bem superior a uma privada média. é um comentário muito geral. evidentemente que há particulares bem decentes que formam ótimos profissionais. eu mesmo trabalhei por anos em uma delas)
Sendo assim, há algo acontecendo que desperta minha total perplexidade: mais e mais as universidades públicas vão sendo geridas pelos princípios da iniciativa privada. Algo que começou a se desenhar nos anos FHC (cuja preocupação essencial foi matá-las por asfixia) e se aprofundou nos anos lulo-dilmistas. Sim, amigos, o PT não apenas não reverteu a tendência como a aprofundou (o horrendo Paulo Renato, ministro da Educação de FHC, apontou exatamente isso, em tom elogioso).
Uma consequencia disso é a generalização do quantitativismo. Nosso trabalho agora é avaliado o tempo todo com base em números. Pode ser que isso seja ótimo em alguma área, mas não em educação. Qualquer pessoa que tenha trabalhado um pouquinho nessa área sabe exatamente os limites da avaliação quantitativa da educação. Ela deve existir e tem seu lugar, mas não pode ser a única forma de avaliação. Mas o governo não entende assim: quer estatísticas para falar no horário eleitoral. E lá vamos nós cumprir metas malucas decididas por algum burocrata de Brasília.
Um exemplo é a ideia de que não devem haver vagas ociosas. Em termos gerais é uma ideia correta. Cada vaga ociosa é dinheiro público desperdiçado. Mais que isso, um sonho que não se realizou, já que certamente em algum lugar há alguém que daria tudo para se sentar naquela cadeira vazia e realizar seu desejo.
Mas como isso é feito? Em primeiro lugar, se joga dentro dos cursos pessoas que não conseguiram aprovação nos cursos que desejavam. O ENEM, que é uma ótima ideia, está ficando cada vez mais impopular na comunidade acadêmica exatamente por isso. Seu mecanismo de funcionamento acaba levando pessoas a cursos menos procurados (como o meu) sem que elas queiram estar lá. Não conseguem vaga no curso desejado e acabam aceitando a oportunidade para ter a chance de estudar em uma universidade pública.
Claro que esse tipo de aluno tem enorme chance de desistir, já que nem queria ter entrado ali. O que gera outro problema, já que a taxa de evasão também entra na avaliação da universidade. Aí lá vamos nós tentar segurar na universidade alguém que não queria estar lá e está infeliz por fazer algo que não gosta. O governo começa a se preocupar em "fixar" os alunos na universidade. Dá bolsas, e coisas assim, tudo para seduzir a pessoa a ficar na universidade fazendo algo que não gosta, e na qual provavelmente jamais trabalhará, mas engrossando as estatísticas de alunos diplomados.
E há algo irônico nisso tudo. Uma das providencias frequentemente tomadas para diminuir a evasão é manter na universidade alunos que infringem as normas. Por exemplo, na universidade onde trabalho é vedado ao aluno ser reprovado mais de 3 vezes na mesma disciplina. Toda hora aparece algum que excede esse limite, nós formalizamos o desligamento do aluno, mas o aluno vai à reitoria, dá uma desculpa qualquer e somos obrigados a aceitar o aluno de volta. Tudo em nome de diminuir a evasão.
O resultado é que se possibilita que vagabundos passem a vida na universidade. Mantém o vínculo e com ele o que interessa a essas pessoas: carteira de estudante, status de aluno de federal, e acesso a bons estágios. Ou seja: a gestão ao estilo privado vai fortalecendo um tipo de pessoa que é frequentemente visto como um estereótipo da improdutividade do setor público. E sem contribuir minimamente para uma melhoria da qualidade da educação universitária.
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