segunda-feira, 5 de março de 2012

Deu a louca nos preços



Esta semana, a revista Veja soltou uma matéria tentando entender porque existe um certo tipo de produtos que custa muito mais caro no Brasil que nos EUA. Claro que ela encontrou a resposta que quis: os impostos no Brasil são muito altos. Aí você tem duas opções. A primeira, aceitar a visão de mundo deles e acreditar que o grande problema do Brasil são os impostos. Ou tentar adotar uma postura minimamente crítica e pensar: será que é só isso mesmo?
Bem, claro que não se trata de discutir o fato de que o Brasil tem mesmo uma carga tributária alta. Mas poderíamos inserir outros dados na discussão. Por exemplo, um operário norte-americano ganha mais que seu equivalente brasileiro, e ganha em dólar. Os custos de produção são mais altos, o que compensaria ao menos em parte os gastos com impostos. Ou seja, produtos fabricados aqui e lá não poderiam ter um preço tão diferente nos dois países. Mas tem. E aí?
Acho que há algo mais que deveria ser considerado por quem quer entender melhor o assunto, e não apenas atacar o governo em cada linha que escreve. Afinal, a grande questão é que muitos produtos que nos EUA são de consumo massivo aqui são para muito poucos. Acho que é um bom lugar de onde começar.
O Brasil ficou uns 30 anos estagnado, sem crescer. Assim, as portas da ascensão social se fecharam a uma gigantesca massa de pobres. A desigualdade só piorou. Assim, é natural que o comércio desse tipo de produto tenha se concentrado em uma pequena quantidade de pessoas de maior poder aquisitivo. Menos volume de vendas traz necessidade de maior margem de lucro. E aí se criou toda uma cultura.
Os produtores e comerciantes acreditam que precisam vender esses produtos por altos preços. E, aí vem a parte interessante, os compradores se acostumam a pensar nesse produtos como marcas distintivas de riqueza. Ao contrário dos EUA e outros países, onde todos os compram, aqui eles se transformam em sinais ostentatórios de riqueza e poder. Então esses consumidores acabam gostando da situação. Preferem pagar mais caro para que apenas eles possam ter esses bens.
Bem, se houve algo que mudou no Brasil do lulopetista foi a expansão do consumo. As classes mais baixas continuaram vivendo uma vida de merda, com serviços públicos da pior qualidade, mas agora podem comprar. Era a hora disso tudo mudar. Mas não mudou. Produtores e comerciantes (provavelmente cegos pela ganância) não atinaram para o quanto poderiam ganhar em volume de vendas caso mirassem em um público mais amplo que surgiu. E o velho público continua maravilhado em pagar fortunas por tablets e iphones que a massa inculta não tem. Se um cara desses um dia ver sua diarista com uma buginganga dessas é capaz de infartar.
Em suma, temos impostos mais altos. Mas culpar apenas (ou majoritariamente) isso é muito simplista. Em muitos casos isso não explica tudo. Em outros, não explica nada. Há que fazer um pequeno esforço para entender nossa história recente, e como se criou uma cultura na qual produtos que deveriam ser massificados passaram a ser sinal de distinção social para poucos. Mas aí é preciso querer ver as coisas de forma um pouquinho complexa.

2 comentários:

  1. Ótimo raciocínio, Tiago. Isso se completa com algo que andei lendo ultimamente (sobre o lucro Brasil etc.): as empresas "chutam" um preço que acreditam que o consumidor pagará. Se colar, beleza. E aí começa toda uma cadeia de indexações. Como o nosso mercado é periférico, na melhor das hipóteses com filiais de multinacionais, fica naquela de "vamos lá vender, e faturar uma grana a mais. Também se não vender, dane-se, não dependemos disso".

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  2. Bom sem contar que muitos que querem essa tal bunginganga e acha que aqui é o olho da cara (e é mesmo) apela pra outros mercados... pede pros parente trazer de Miami, ou ele mesmo vai até Miami só pra comprar. Compra da Internet... muita gente tenta driblar os preços mais caros. E com certeza fica puto quando topa com o filho da diarista ou a própria diarista hostentando o mesmo produto. Bom texto!

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