terça-feira, 27 de março de 2012

Renato Russo



Hoje vi no twitter uma galera revoltada porque o Danilo Gentilli postou algo tipo "Renato Russo faria hoje 52 anos se tivesse usado camisinha". Nem me dei ao trabalho de ficar p. da vida. Tem idiota pra dizer de tudo e tem idiota pra gostar de tudo. Pra mim foi bom lembrar que era aniversário dele.
Renato Russo é um cara cuja popularidade renderia um bom estudo sobre o (sempre muito interessante) tema "como muitas pessoas podem gostar de uma mesma coisa por motivos muito diferentes". Afinal há vários Renatos Russos, concentrados em dois conjuntos de imagens.
Um deles, que a história parece ter registrado de forma predominante, é a do "poeta sensível". Essa imagem se consolidou ao longo dos anos 1990, na reta final da trajetória do Legião e nos discos solo do cantor. A morte prematura parece ter consolidado essa imagem. Que eventualmente pode se misturar à da "criança mimada", formando algo como uma versão brasileira do Jim Morrison, grande poeta, grande cantor, personalidade turbulenta, mártir do rock.
Nada contra. Mas essa não é de forma alguma a imagem que minha geração tinha dele nos anos 1980. Se alguém nos falasse essas coisas naquele tempo sequer entenderíamos. Para nós a Legião Urbana era uma banda que dizia o que queríamos ouvir. Havíamos acabado de nos dar conta de como era o mundo dos adultos, havíamos achado aquilo tudo uma porcaria sem fim. Detestávamos a ditadura, os políticos, a TV, a sociedade, a música que tocava no rádio. Enfim, éramos adolescentes revoltados. E os primeiros três discos da Legião eram tudo o que um adolescente revoltado poderia querer ouvir.
O primeiro disco era mais raivoso. Tinha coisas (que não fizeram sucesso) como "O Reggae", "Baader-Meinhof Blues" e "A Dança", hinos da minha juventude. Mas havia também aquelas em que a indignação ganhava uma veia mais poética, e foram essas canções que fizeram mais sucesso, como "Será", "Por Enquanto", "Ainda é Cedo" e "Soldados". A grande exceção era "Geração Coca-Cola", que ainda que pertencente ao primeiro grupo, fez muito sucesso.
O segundo disco era diferente. Era claramente a mesma banda, tanto que várias canções poderiam estar no primeiro álbum ("Metrópole" o exemplo mais óbvio), mas com outro espírito. Mais lírico, intimista, um pouco melancólico até. Mas a raiva e o sofrimento estavam lá. As músicas eram brilhantes, e Renato Russo havia chegado a um ponto em que esses sentimentos apareciam de forma muito menos crua e mais sofisticada. "Índios", Fábrica", "Andrea Doria", a grande "Tempo Perdido" e a maravilhosa "Daniel na Cova dos Leões" (pra mim a melhor música da banda) eram provas disso.
O terceiro disco na verdade era o primeiro, já que (exceto "Angra dos Reis" e "Mais do Mesmo") eram músicas bem antigas. Talvez por isso o disco esteja encharcado de um sentimento juvenil quase atemporal que é responsável por clássicos como "Que Pais é Este?". Era o disco que continha o mais improvável hit do pop-rock brazuca, a gigantesca "Faroeste Caboclo". Também era o disco que tinha a mais divertida música da banda, "Depois do Começo", que entra fácil na lista das minhas favoritas.
Veio o quarto disco, o quinto, e cada vez mais Renato Russo investiu em ser o tal "Jim Morrison brasileiro", um poeta egocêntrico, amado e idolatrado, com carreira errática. Por isso mesmo entendo que sua imagem tenha terminado por ser mais associada a esse tipo de coisa. Mas pra mim o Renato Russo que ficou foi o primeiro, dos primeiros discos de sua banda. Tenho uma dívida com esse Renato Russo que jamais poderei pagar. Foi ele que me mostrou que eu não era louco por achar o mundo dos adultos uma droga, e que na verdade eu estava certo. Nada pode ser mais importante para um adolescente. Obrigado, Renato Russo.











Um comentário:

  1. "Mas pra mim o Renato Russo que ficou foi o primeiro, dos primeiros discos de sua banda. Tenho uma dívida com esse Renato Russo que jamais poderei pagar. Foi ele que me mostrou que eu não era louco por achar o mundo dos adultos uma droga, e que na verdade eu estava certo. Nada pode ser mais importante para um adolescente. Obrigado, Renato Russo. (2)"

    Apesar do que concordei com o Tiago acima, amo essa música abaixo:

    http://www.youtube.com/watch?v=onrbZosNHGM

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