quinta-feira, 22 de março de 2012

Jorge Ben 70



Há 70 anos nascia Jorge Ben. Um músico que gosto muito, e não só pelo seu talento. Aprecio muito também o fato de nunca ter sido previsível. Só pra começar: negro, carioca e suburbano, jamais foi um sambista. Talvez tenha sido tudo menos isso. O samba aparece como um ingrediente importante em sua produção, mas sempre em conjunto com outras coisas.
Eu gosto muito da primeira fase dele. Uma coisa muito difícil de definir, talvez uma versão muito gingada da bossa-nova. "Por causa de você" foi o melhor produto dessa fase, uma música absolutamente sensacional. "Mas que nada", "Chove Chuva", "País Tropical", "Charles Anjo 45" e outros clássicos são desse período, em que para mim ele foi um dos melhores músicos do mundo.
Mas ele não sossegou. Enquanto ao longo dos anos 70 seus colegas de geração rumaram para a tranquila respeitabilidade e se refugiavam no cômodo guarda-chuva da "MPB" ele seguiu experimentando. Talvez a música que mais seja lembrada atualmente dessa fase seja "Os Alquimistas Estão Chegando". Mas eu não hesito nem por um segundo antes de fechar com "Àfrica Brasil (Zumbi)" como minha composição preferida dessa fase (aliás o disco homônimo tinha pérolas como "Taj Mahal" e "Xica da Silva"). Uma canção agressiva e violentamente anti-racista, reivindicando a herança africana e quilombola. Algo tremendamente avançado para seu tempo.
(uma recomendação: não deixe de ouvir o disco Gil & Jorge, de 1975. Soltaram Gilberto Gil e Jorge Ben, cada um com seu violão no estúdio. Os dois fizeram o diabo, e o resultado é esse disco que deveria ser ouvido apenas de joelhos)
Mas longe de ser um "maldito", Jorge Bem conseguiu aparecer bem nessa fase também, e a partir de fins dos 70 entrou em seu momento mais pop. Mas pra ser muito sincero eu acho que essa fase tem coisas muito boas também. Coisas como "Ive Brussel", "Roberto Corta Essa" e sobretudo a grande "A Banda do Zé Pretinho" merecem ser ouvidas com gosto.
Jorge Ben não é samba, não é rock, não é funk e é tudo isso ao mesmo tempo. Junto com Tim Maia, Elza Soares, Wilson Simonal e alguns outros, é uma mostra do que perdemos ao pretender separar de forma tão marcada nossa tradição musical das de outros países. Todas as outras regiões das américas com população afro-descendente usam e abusam da mistura dos gêneros domésticos com outros estilos afro-americanos. Com excelentes resultados.
Nós não. Ficamos preso nessa besteira de "autenticidade", e condenamos nossa maravilhosa música a perder ótimas oportunidades de ser ainda mais sensacional. Jorge Ben é um dos poucos que ignorou esse tipo de barreira, e mostrou como a mistura pode fortalecer nossa cultura, e não o contrário.






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