terça-feira, 20 de março de 2012

Clube da Esquina - 40 anos



Por estes dias comemoramos os 40 anos do lançamento de um álbum histórico: Clube da Esquina. Um daqueles discos que faz história, e nessas datas costumam ser alvo de homenagens bastante laudatórias e acríticas.
Não há espaço para discussão: trata-se de um grande disco. Mas Milton Nascimento fez muitos discos bons, tanto ou mais que esse. Certamente não é "apenas" por ser um tremendo disco que se converteu em um clássico da história da MPB.
Na verdade o disco foi um catalisador de ideias que estavam no ar. Desde o estrondoso surgimento de Milton Nascimento, anos antes, havia a sensação de que era um artista diferente, que trazia algo novo. E o disco em questão tornou tudo claro. Milton pilotou uma criação coletiva, principalmente com sua turma mineira. Assinou o álbum junto com Lô Borges. E seu título nomeou um conjunto de pessoas. Pronto: o que era alguns músicos tocando algo diferente agora era uma marca poderosíssima - o clube da esquina.
A partir dali se consolidava a ideia de que havia uma coisa muito palpável denominada "clube de esquina", um grupo de mineiros dispostos a escrever um capítulo imprescindível da música brasileira, com sua impressionante mistura de MPB, rock e mineiridade. Como sabemos hoje, essa marca é absolutamente irresistível e recebeu sua versão definitiva com o livro de Marcio Borges sobre a turma.
Essa versão dourada da história desses músicos triunfou de forma espetacular por muitas razões. Foi abraçada entusiasticamente como marcador identitário dos mineiros mais intelectualizados, que os têm na conta de verdadeiros deuses da música; serviu para criar uma "gaveta" exclusiva para eles, dando um tom único ao grupo, já que mesmo artistas com muita afinidade musical com eles não poderia de fato ser um membro do grupo, por não ter dividido sonhos adolescentes com os demais em alguma esquina de Belo Horizonte; e, convenhamos, uma narrativa de jovens inocentes e sonhadores, amigos desde a tenra adolescência, conseguindo mudar os rumos da música brasileira e realizando todos os seus sonhos é absolutamente irresistível.
Nada disso visa diminuir minimamente o gigantesco mérito do monstro Milton Nascimento, nem a qualidade do álbum. Mas a questão é que esse álbum se transformou em algo tão indispensável não "apenas" por sua qualidade. É o tipo do disco que talvez valha ainda mais pelo que representa do que efetivamente pelo que é. Daquele tipo de produto depois do qual nada mais foi como antes.
E que fique claro: o disco é absolutamente sensacional e não há elogios que dêem conta de descrevê-lo. Só acho que escrever um post apenas para dizer isso é tolice. Qualquer um que ouça o álbum vai entender isso. Mas é importante tentar pensar um pouco mais em como um álbum pode criar um sistema de representações tão poderoso.








Um comentário:

  1. Num é rapá, os mineiros tem tantas informações do disco que todo mundo fala dele, mas poucos ouviram, principalmente a geração que vem agora. Não conta quem ouviu uma vez.

    Tão grandioso, ele tende a tornar quase sozinho. E a mania de concorrência faz esperar por algo melhor e nunca simplesmente diferente. Melhor não vai ter, pois estamos em épocas diferentes e não haverá comparação capaz de concensos. Enquanto esse album não for praticamente esquecido ou o papo for outro, será difícil surgir novamente uma marca tão forte na história de Minas.

    Busquemos girar a história.

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