sexta-feira, 16 de março de 2012

Ex-gênios



Paul McCartney virá em breve ao Brasil e se apresentará aqui no Recife. Prevejo inúmeras pessoas tentando me convencer a ir e não entendendo como um cara como eu, que endeusa os Beatles, vai perder essa oportunidade.
A resposta é simples. O Paul que eu amo é o dos Beatles, ou até o dos primeiros discos solo. Esse que virá se apresentar aqui é um setentão que não faz nada de realmente bom há décadas, e grava discos sem sal apenas para ter pretexto para tocar as velhas músicas de novo. Cobrará caríssimo e ganhará fortunas para fazer versões meia-boca de músicas de meio século atrás.
Isso não vale só para ele. Se aplica igualmente aos outros gênios de sua geração, gente que eu idolatro, como Roger Waters. Eu amo esses caras porque eles eram ultra criativos, inventivos, imprevisíveis, subvertiam todas as regras estabelecidas. Ou seja, tudo o que não são hoje, quando fazem esses shows engana-trouxa tocando coisas velhas, já que perderam toda a capacidade de fazer coisas boas.
O mesmo raciocínio me faz achar um absurdo completo pagar 350 paus pra ver um show do Chico Buarque. Há uns 30 anos ele não faz nada realmente bom. Não acho que alguém assim mereça tamanho desembolso de dinheiro. E se você acha que ele fez coisas boas recentemente faça o seguinte exercício. Pegue um disco dele das últimas décadas ao acaso e escute fingindo que é o primeiro disco de um novo cantor. Não há como voce achar que é uma coisa brilhante. Você até pode achar isso, mas só se tiver em mente que é o Chico Buarque. Aí até eu.
A mesma coisa vale para as bandas que fizeram a loucura da minha geração. Vi todas elas ao vivo naquela época. Eram jovens insatisfeitos com o mundo, e queriam fazer algo diferente. Hoje são quarentões sem nada de novo a dizer, gravando aqueles "acústicos", como desculpa para regravar coisa velha e vender para os jovens daquela época, hoje adultos com dinheiro para comprar CD's e ir a shows. Sinto muito, assim como os outros citados, pra mim esses aí não são mais os caras que me encantavam. Muito longe disso.
A última vez que fui a um show desses foi em 1999. O Deep Purple tocou na Unicamp, eu estava começando meu doutorado e me preparei para esse dia como um crente fanático. Aí de repente me dei conta que eu via um bando de cinquentões obesos que não tinham mais nada a dizer tocando apenas coisas antigas. Ian Gillan, o vocalista mais poderoso da história do rock pesado, nada mais era do que uma aberração. Cantava pior que muita gente que escuto em botequins de quinta.
Eu amo músicos imprevisíveis, que não se conformam com o comum. Todos os citados acima já foram isso, e merecem minha idolatria, por terem contribuído para um mundo mais legal. Hoje estão longe disso. Não são mais as pessoas que eu amava, são apenas pessoas que esgotaram sua capacidade criativa e vivem do passado. Me recuso a sustentar esse tipo de coisa.

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