Qualquer pessoa que foi ao estádio uma vez na vida sabe que a venda de cerveja em estádio não tem nada a ver com violencia. O cara que briga no estádio não é o cidadão comum que tomou uns copos de breja, surtou e saiu brigando. Quem briga é cara de organizada, cuja vida é estruturada na violencia, o cara saiu de casa pensando em brigar, se juntou com seus amigos igualmente criminosos, e foi para enfrentar os outros. Repito: qualquer pessoa que vai ao estádio sabe perfeitamente disso.
Essa briga na verdade envolve outras coisas, que nada tem a ver com copa do mundo.
Primeiro, tem aí toda uma nova concepção sobre como resolver nossos imensos problemas urbanos. Muita gente está começando a adotar uma concepção proibicionista: tudo o que não agrada, proíbe. Tem projeto proibindo motoqueiro de dar carona (pelos assaltos realizados por duplas andando de moto), outro proibindo de beber na rua, e assim por diante. Claro, ao invés de o Estado nos dar segurança para andar na rua tranquilo, porque não proibimos logo todo mundo de sair de casa? Aposto que a violência acabaria. Essa discussão está relacionada a isso. Há esse simplismo tolo, essa verdadeira estratégia do avestruz, essa ilusão de que basta uma canetada para resolver nossos prolemas.
Segundo, claro, a onipresente bancada evangélica aproveita o medo que todos os partidos sentem deles para tentar marcar mais um ponto na sua cruzada contra tudo o que a humanidade evoluiu nos últimos 300 anos. A lógica é clara: se nossa religião é contra consumo de álcool, ninguém pode beber. Claro que isso vem disfarçado de "preocupação com a saúde pública", mas claro que ninguém precisa ser tão burro para acreditar nisso. Os caras não estão nem aí, por exemplo, com uma sociedade que produza alimentos mais saudáveis. Só se importam com aquilo que a religião deles prega, mais nada. Mais um passo rumo à barbárie.
E finalmente tem mais uma daquelas cachorradas disfarçadas de nacionalismo, o eterno "último refúgio dos canalhas". Existe toda uma disputa política sobre controle de verbas para a copa, que faz com que todos queiram vender muito caro seus apoios à lei geral da copa. Esse papo de "estamos lutando pela soberania nacional" é só uma desculpa. Se fosse isso, se importariam com o absurdo gasto desnecessário e inútil com essa copa, ou com as pessoas que estão perdendo suas moradias com as obras do mundial. Mas não estão nem aí para isso. O que eles querem é só aumentar sua cotação de mercado. Significa na verdade "veja como posso complicar sua vida. não vou sair barato pra voces não, viu?".
Numa frase: pobre de quem acha que essa discussão é sobre venda de álcool nos estádios. Tem muito mais coisa envolvida.
pensar que essa discussão existe tão somente por causa de nossa amada cerveja ou de nosso futebol é simplesmente não ter o minimo de consciencia do mundo que o cerca. Quem vai vender? Como vai vender?
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