Não que não haja o que comemorar. Há uns trinta e poucos anos, quando acordei para a vida, uma pauta central da agenda feminista era algo hoje visto como inimaginável. Vivíamos em uma sociedade que considerava aceitável que homens matassem suas companheiras por ciúme. Diziam que matavam "por amor" e saíam livres do julgamento. O simples fato de isso parecer um troço de outro planeta hoje já mostra como as coisas mudaram (homens continuam matando suas companheiras, mas ninguém imagina que o cara possa dizer que matou por amor e isso vá o salvar da cadeia).
Mas infelizmente muita coisa continua como antes. E devo dizer que o que me deprime frequentemente é a postura das próprias mulheres. Pois se uma mulher não se importa com seu status subalterno, como esperar que os homens pensem diferente?
Isso inclui aquelas que acham que ser feminista é dizer "homem não presta", uma auto-vitimização que mantém a mulher no papel de pobre e passiva vítima. Inclui também as que pretendem saber "como viver uma vida feminista", ignorando o fato de que a verdadeira libertação da mulher ocorrerá no dia em que cada uma tiver o direito de ser o que quiser, sem ser tutelada por ninguém, sejam homens reacionários ou mulheres que se acham no direito de decidir como suas companheiras de sexo devem viver.
Mas talvez o grande problema seja que esse tipo de demanda (assim como o ambientalismo, o movimento negro, o movimento gay, etc.) ainda não achou seu espaço nas correntes políticas tradicionais. Filhos do iluminismo, tanto liberalismo, como social-democracia como socialismo não sabem muito bem como lidar com isso. Todas presumem ter uma fórmula para fazer a "sociedade" feliz. Pressupõem que resolverão os problemas de todos ao mesmo tempo. Não sabem o que fazer com um grupo subalterno por razões não econômicas.
Na verdade talvez aí esteja uma questão importante para esses movimentos. Convencer as correntes políticas tradicionais de que suas demandas merecem ser levadas a sério, e que uma melhoria da sociedade como um todo não resolverá seus problemas. Que essa eventual melhoria pode se distribuir de forma desigual, dependendo de questões como genero, raça, preferencia sexual, local de nascimento, etc.
Pois vamos combinar uma coisa. Os partidos mais progressistas têm recebido votos dos militantes desses movimentos, e isso não é de hoje. Mas não têm dado nada em troca. Isso inclui o lulo-petismo. Quando alguma tendência política der conta de incorporar essas demandas, o mundo terá dado um grande passo rumo à diversidade.
Não acho você rabugento, não. Bom! Às vezes sim. Contudo, aqui neste contexto você tem certa razão. Porém, penso que o oito de março deve ser visto como mais um espaço para se discutir e pensar não só sobre a mulher em si e sua caminhada, mas, principalmente políticas que criem e garantam mais e mais espaços para ela.
ResponderExcluirPense bem! Quem é que se lembra do índio? Assistimos pela mídia em geral – e isto, quando assistimos - o desrespeito com que ele é tratado. É como se não pertencesse a lugar nenhum. Pior! É como se ao lhe darmos o que é de direito, estivéssemos fazendo uma caridade, dando uma esmola.
Dia do negro, do índio, das mães, dos pais, do professor e até da árvore, por exemplo, se faz necessário como logo, oportunidade, um espaço para deliberar, criar, reinventar e tratar questões tão importantes quanto fundamentais para poder se pensar em cidadania, ética, política, humanização e Deus.
É pouco? Você tem razão! É pouquíssimo! Porém não podemos abrir do que já temos.
"Não sou muito chegado em "comemorar" dia das mulheres, da consciência negra, do índio, e assim por diante. Minha (rabugenta) visão de mundo inclui a ideia de que se há um dia específico para um grupo, é porque se pressupõe que no resto do ano esse grupo é subalterno. Por exemplo, há o dia do "índio", mas não há o dia do "colonizador genocida". Há o dia do homem, mas ninguém liga. Todo dia é dia do homem.
ResponderExcluirNão que não haja o que comemorar (...)" (2)