quarta-feira, 29 de fevereiro de 2012

A Minha Esquerda



Alguns amigos petistas-governistas costumam se aborrecer com certas coisas que escrevo aqui. Acham que para um esquerdista eu sou crítico demais ao governo Lulo-Dilmista, e que por vezes pareço mais simpático à oposição do que ao governo, que por mais que não seja o dos meus sonhos, está mais perto das minhas posições ideológicas do que a oposição demo-tucana.
Entendo por que eles acham isso. Mas apenas queria dizer o seguinte. Pra mim a oposição é inteiramente coerente. Tudo o que eles dizem e fazem está de acordo com a posição liberal-conservadora deles. Quanto ao pessoal do governo... nem sempre isso é tão claro.
Sabe o que me aborrece na turma governista? Vê-los elogiando o regime cubano, para parecerem adeptos do socialismo. Amigo, o pessoal que está no governo é aliado de Sarney, Collor e Maluf. Dilma acabou de nomear Marcelo Crivella como ministro. Isso não tem nada a ver com socialismo. Essa conversinha de "Viva Cuba" é uma palhaçada sem tamanho.
Minha iniciação política se deu em 1985, na campanha de Rafael de Carvalho para a prefeitura de Volta Redonda. Naquela eleição o vencedor foi Marino Clinger, do PDT, que com o apoio do sindicato dos metalúrgicos venceu o direitíssimo Nelson Gonçalves (evidentemente não o cantor) por menos de mil votos. Clinger era o equivalente do lulo-petismo naquela eleição: não exatamente esquerda, mas progressista o bastante para que sua vitória sobre um aliado da ditadura fosse comemorada.
Mas para mim isso não era o bastante. Fui atrás de algo que me parecia então realmente transformador: o PCB. Naquela eleição Rafael de Carvalho ficou em sétimo entre sete candidatos. Mas não importa. Aquela foi a eleição que marcou minha vida.
Naquela campanha conheci nada menos que Giocondo Dias (1913-1987, o da foto), comunista histórico, cuja primeira prisão foi nos anos 30. Ali ele era o presidente do PCB, então brigado com Luis Carlos Prestes. Havia ido levar fundos para a campanha de Rafael de Carvalho, grana para pagar uns mil santinhos, e olhe lá. Depois conheci Hercules Correa, outro comunista histórico. A meu pedido, meus pais o levaram para a rodoviária para que ele não precisasse pegar ônibus.
Essas pessoas são, com todo o merecimento do mundo, nomes históricos da esquerda brasileira. Foram presos, viveram ditaduras. A garotada comunista de hoje sequer acredita que os conheci. Escutei as histórias deles. O quanto sofreram por suas opções políticas ao longo de décadas em que o capitalismo vulgo "democrático" massacrou quem pensava diferente.
Assim como tantos outros, esses dois cometeram erros teóricos e políticos. Mas passaram a vida pagando por suas opções. Eles eram esquerdistas. O pessoal que está no governo hoje não faz idéia do que é isso. Por isso tenho tanto ódio quando os vejo fingindo que são esquerdistas e não ligo para a oposição. Os demo-tucanos são o que são, compra quem quiser. Mas ver essa gentinha no ar condicionado querendo se fazer de socialistas é para matar. Em nome de todos os que sofreram por serem socialistas de verdade eu não posso tolerar isso. Vão fingir no raio que o parta.

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