segunda-feira, 27 de fevereiro de 2012

PT/PSDB: as faces da arrogância



O post de ontem me fez pensar no tema da arrogância extrema que caracteriza os dois principais grupos que disputam a hegemonia política do país. Na verdade isso não quer dizer que sejam iguais. São estilos diferentes, para públicos diferentes.
A rapaziada da velha guarda se lembra bem da arrogância monstruosa que caracterizava o PT em seus primeiros vinte e poucos anos. Só eles eram bons, só eles eram honestos, só eles tinham boas intenções, só eles tinham ideologia. O mundo estava contaminado, e o partido era uma espécie de bolha higienizada onde tudo o que existia de bom e puro no mundo estava guardado a salvo. Aceitavam com relutância o apoio de outros partidos progressistas, mas não os apoiavam em hipótese alguma. Seria correr o risco do contágio com a impureza que assola o planeta.
Claro que isso teve de mudar durante o primeiro governo Lula. Da aliança com o PL na eleição ao mensalão, passando pelos ex-apoiadores da ditadura na base aliada e o dinheiro na cueca, essa perspectiva acabou ficando impossível mesmo para os mais ingênuos e irracionais apoiadores. Então foi a hora de reconstruir o discurso. Curiosamente, tudo o que era valorizado na identidade anterior passou a ser visto como indesejável agora. E pelas mesmas pessoas, claro.
Agora o PT passou a se ver como o campeão mundial da realpolitik. Se alia com Sarney e Collor para revolucionar o Brasil. Esses políticos experientes estão sendo enganados, e colaboram com a gigantesca transformação que divide o Brasil entre o antes e o depois de Lula. E só dois tipos de pessoas podem se opor a isso: 1) Os reacionários, que querem que os humildes, de quem Lula é uma espécie de "grande pai", nunca tenham vez; 2) Os idiotas da esquerda, que com sua mentalidade de militante secundarista fazem críticas pela esquerda ao governo, fazendo o jogo da direita que quer impedir que o Brasil avance. Nessa visão, a oposição pela esquerda é marionete da direita. Presa à sua imbecilidade, não percebe que o PT está fazendo o Brasil rumar velozmente a uma sociedade de completa justiça social, e sem desigualdades.
O PSDB também teve lá suas mudanças de identidade, ainda que não tão pronunciadas. Há um traço que nunca mudou: a certeza absoluta de que só um retardado mental envolvido por ideologias irracionais pode cometer a asneira de não concordar com tudo o que eles falam. Me lembro que uma vez Elio Gaspari disse algo sobre Geraldo Alckmin que é a cara do PSDB: que quem discorda dele ouve o governador repetir de novo, e de novo, e de novo a mesma coisa, só que mais devagar. Pois ele acha inconcebível que alguém possa não concordar com as opiniões dele, que vê como óbvias e naturais.
Mas houve algo que mudou. No início, "direita" ainda estava muito associado à ditadura e à corrupção que campeava no governo Collor. Tentaram se ver como "centro-esquerdistas bem pensantes". Mas aos poucos ficou claro que essa estratégia não era eleitoralmente viável. Taparam o nariz e afundaram com gosto na aliança com o PFL. O partido significava tudo o que o PSDB não queria ser: corrupção, adesismo, coronelismo. Mas não importava, pois era necessário para que o partido chegasse ao poder (ou seja, muito parecido com o que o PT argumenta hoje sobre seus amigos constrangedores).
Aí veio essa nova fase, muito parecida com a que o PT está hoje. Somos legais e honestos, mas precisamos nos aliar com a escória para podermos chegar ao governo e transformar o país. Depois de 2002 nova mudança: as denúncias de corrupção contra o governo Lula inverteram o jogo. Agora os tucanos e (imagine!) os democratas se transformaram nos grandes guardiões da honestidade.
Não é preciso fingir indignação com as semelhanças entre os dois partidos. Todo partido que está no governo em qualquer lugar do mundo tenta minimizar as denúncias de corrupção dizendo que isso é pouco perto do bem maior que o governo trouxe. E todos os partidos de oposição as aproveitam para se mostrar como guardiões da moralidade universal. Não é uma questão de PT/PSDB, e nem de Brasil.
Tampouco estranho a tal arrogância dos dois lados. É fruto de estratégia política. O que realmente me surpreende é que tantas pessoas inteligentes, honestas e estudadas possam de fato acreditar que votam em um projeto absolutamente puro e imaculado que pretende salvar o mundo da maldade que campeia no lado oposto. Isso sim me surpreende.

2 comentários:

  1. Seu artigoé muito bom. Mas o pavor que tenho do PSDB me faz fazer grandes diferenças entre este e o PT. Exatamente porque além da possível corrupção nunca exclarecida e que quem começa a descer a ladeira,não ´para mais, o PSDB, temcomo pauta tirar direitos trabalhistas. o que é um pecado mortal, sempre. (não sou anônoma, sou eu mesma, mamãe)

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