Não demorou muito para eu descobrir que ela era a autora de "Volver a los 17", cuja gravação feita por Mercedes Sosa e Milton Nascimento no disco Geraes sempre me pareceu uma das melhores coisas da história da música brasileira. Depois soube que ela era também a autora de "Gracias a la Vida", imortalizada em uma versão monstruosa de Mercedes Sosa. A descoberta definitiva foi: havia um disco inteiro de Mercedes Sosa só com músicas de Violeta Parra. Era bom demais pra ser verdade.
Fui descobrindo outras canções maravilhosas da compositora chilena, como a belíssima "Rin del Angelito". Mas me apaixonei também por sua visão de mundo. Esquerdista convicta, ela havia sido a grande divulgadora da cueca, o ritmo nacional chileno. Um gênero meio chatinho, mas que nas mãos dela virou uma coisa absolutamente maravilhosa. Nunca ouvi uma música dela que não gostasse. A maioria é ótima. Algumas são sublimes. O melhor: para ela, defender a cultura popular de seu país não era colocá-la em uma redoma, mas revigorá-la. Nada de condescendência com os "pobres bonzinhos e simpáticos dos quais podemos rir à vontade de suas tentativas de serem humanos", típica de gente como Ariano Suassuna. Ela queria que eles se organizassem e lutassem para mudar o mundo de exploração em que viviam.
Há 45 anos ela cansou das desilusões amorosas e profissionais e acabou com sua própria vida. Isso impediu que ela vivenciasse a monstruosidade patrocinada por Pinochet. Se converteu instantaneamente em ícone da esquerda latino-americana, ao lado de gente como Victor Jara, Atahualpa Yupanqui e Mercedes Sosa. Uma gigante.
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