quarta-feira, 29 de fevereiro de 2012

A Minha Esquerda



Alguns amigos petistas-governistas costumam se aborrecer com certas coisas que escrevo aqui. Acham que para um esquerdista eu sou crítico demais ao governo Lulo-Dilmista, e que por vezes pareço mais simpático à oposição do que ao governo, que por mais que não seja o dos meus sonhos, está mais perto das minhas posições ideológicas do que a oposição demo-tucana.
Entendo por que eles acham isso. Mas apenas queria dizer o seguinte. Pra mim a oposição é inteiramente coerente. Tudo o que eles dizem e fazem está de acordo com a posição liberal-conservadora deles. Quanto ao pessoal do governo... nem sempre isso é tão claro.
Sabe o que me aborrece na turma governista? Vê-los elogiando o regime cubano, para parecerem adeptos do socialismo. Amigo, o pessoal que está no governo é aliado de Sarney, Collor e Maluf. Dilma acabou de nomear Marcelo Crivella como ministro. Isso não tem nada a ver com socialismo. Essa conversinha de "Viva Cuba" é uma palhaçada sem tamanho.
Minha iniciação política se deu em 1985, na campanha de Rafael de Carvalho para a prefeitura de Volta Redonda. Naquela eleição o vencedor foi Marino Clinger, do PDT, que com o apoio do sindicato dos metalúrgicos venceu o direitíssimo Nelson Gonçalves (evidentemente não o cantor) por menos de mil votos. Clinger era o equivalente do lulo-petismo naquela eleição: não exatamente esquerda, mas progressista o bastante para que sua vitória sobre um aliado da ditadura fosse comemorada.
Mas para mim isso não era o bastante. Fui atrás de algo que me parecia então realmente transformador: o PCB. Naquela eleição Rafael de Carvalho ficou em sétimo entre sete candidatos. Mas não importa. Aquela foi a eleição que marcou minha vida.
Naquela campanha conheci nada menos que Giocondo Dias (1913-1987, o da foto), comunista histórico, cuja primeira prisão foi nos anos 30. Ali ele era o presidente do PCB, então brigado com Luis Carlos Prestes. Havia ido levar fundos para a campanha de Rafael de Carvalho, grana para pagar uns mil santinhos, e olhe lá. Depois conheci Hercules Correa, outro comunista histórico. A meu pedido, meus pais o levaram para a rodoviária para que ele não precisasse pegar ônibus.
Essas pessoas são, com todo o merecimento do mundo, nomes históricos da esquerda brasileira. Foram presos, viveram ditaduras. A garotada comunista de hoje sequer acredita que os conheci. Escutei as histórias deles. O quanto sofreram por suas opções políticas ao longo de décadas em que o capitalismo vulgo "democrático" massacrou quem pensava diferente.
Assim como tantos outros, esses dois cometeram erros teóricos e políticos. Mas passaram a vida pagando por suas opções. Eles eram esquerdistas. O pessoal que está no governo hoje não faz idéia do que é isso. Por isso tenho tanto ódio quando os vejo fingindo que são esquerdistas e não ligo para a oposição. Os demo-tucanos são o que são, compra quem quiser. Mas ver essa gentinha no ar condicionado querendo se fazer de socialistas é para matar. Em nome de todos os que sofreram por serem socialistas de verdade eu não posso tolerar isso. Vão fingir no raio que o parta.

segunda-feira, 27 de fevereiro de 2012

PT/PSDB: as faces da arrogância



O post de ontem me fez pensar no tema da arrogância extrema que caracteriza os dois principais grupos que disputam a hegemonia política do país. Na verdade isso não quer dizer que sejam iguais. São estilos diferentes, para públicos diferentes.
A rapaziada da velha guarda se lembra bem da arrogância monstruosa que caracterizava o PT em seus primeiros vinte e poucos anos. Só eles eram bons, só eles eram honestos, só eles tinham boas intenções, só eles tinham ideologia. O mundo estava contaminado, e o partido era uma espécie de bolha higienizada onde tudo o que existia de bom e puro no mundo estava guardado a salvo. Aceitavam com relutância o apoio de outros partidos progressistas, mas não os apoiavam em hipótese alguma. Seria correr o risco do contágio com a impureza que assola o planeta.
Claro que isso teve de mudar durante o primeiro governo Lula. Da aliança com o PL na eleição ao mensalão, passando pelos ex-apoiadores da ditadura na base aliada e o dinheiro na cueca, essa perspectiva acabou ficando impossível mesmo para os mais ingênuos e irracionais apoiadores. Então foi a hora de reconstruir o discurso. Curiosamente, tudo o que era valorizado na identidade anterior passou a ser visto como indesejável agora. E pelas mesmas pessoas, claro.
Agora o PT passou a se ver como o campeão mundial da realpolitik. Se alia com Sarney e Collor para revolucionar o Brasil. Esses políticos experientes estão sendo enganados, e colaboram com a gigantesca transformação que divide o Brasil entre o antes e o depois de Lula. E só dois tipos de pessoas podem se opor a isso: 1) Os reacionários, que querem que os humildes, de quem Lula é uma espécie de "grande pai", nunca tenham vez; 2) Os idiotas da esquerda, que com sua mentalidade de militante secundarista fazem críticas pela esquerda ao governo, fazendo o jogo da direita que quer impedir que o Brasil avance. Nessa visão, a oposição pela esquerda é marionete da direita. Presa à sua imbecilidade, não percebe que o PT está fazendo o Brasil rumar velozmente a uma sociedade de completa justiça social, e sem desigualdades.
O PSDB também teve lá suas mudanças de identidade, ainda que não tão pronunciadas. Há um traço que nunca mudou: a certeza absoluta de que só um retardado mental envolvido por ideologias irracionais pode cometer a asneira de não concordar com tudo o que eles falam. Me lembro que uma vez Elio Gaspari disse algo sobre Geraldo Alckmin que é a cara do PSDB: que quem discorda dele ouve o governador repetir de novo, e de novo, e de novo a mesma coisa, só que mais devagar. Pois ele acha inconcebível que alguém possa não concordar com as opiniões dele, que vê como óbvias e naturais.
Mas houve algo que mudou. No início, "direita" ainda estava muito associado à ditadura e à corrupção que campeava no governo Collor. Tentaram se ver como "centro-esquerdistas bem pensantes". Mas aos poucos ficou claro que essa estratégia não era eleitoralmente viável. Taparam o nariz e afundaram com gosto na aliança com o PFL. O partido significava tudo o que o PSDB não queria ser: corrupção, adesismo, coronelismo. Mas não importava, pois era necessário para que o partido chegasse ao poder (ou seja, muito parecido com o que o PT argumenta hoje sobre seus amigos constrangedores).
Aí veio essa nova fase, muito parecida com a que o PT está hoje. Somos legais e honestos, mas precisamos nos aliar com a escória para podermos chegar ao governo e transformar o país. Depois de 2002 nova mudança: as denúncias de corrupção contra o governo Lula inverteram o jogo. Agora os tucanos e (imagine!) os democratas se transformaram nos grandes guardiões da honestidade.
Não é preciso fingir indignação com as semelhanças entre os dois partidos. Todo partido que está no governo em qualquer lugar do mundo tenta minimizar as denúncias de corrupção dizendo que isso é pouco perto do bem maior que o governo trouxe. E todos os partidos de oposição as aproveitam para se mostrar como guardiões da moralidade universal. Não é uma questão de PT/PSDB, e nem de Brasil.
Tampouco estranho a tal arrogância dos dois lados. É fruto de estratégia política. O que realmente me surpreende é que tantas pessoas inteligentes, honestas e estudadas possam de fato acreditar que votam em um projeto absolutamente puro e imaculado que pretende salvar o mundo da maldade que campeia no lado oposto. Isso sim me surpreende.

domingo, 26 de fevereiro de 2012

Serra e 2014



Eleição municipal é uma espécie de campeonato estadual da política. Faz muita diferença para quem vive no lugar, mas não mexe quase nada no cenário mais amplo. Só serve mesmo para os oráculos da "análise política" da nossa imprensa fazerem previsões desastradas a partir do resultado dessas eleições. Me lembro que em 2008 li vários desses "jênios" decretando o fim de Geraldo Alckmin, que nem havia ido para o 2o turno das eleições paulistanas. Dois anos depois o mesmo Alckmin venceria as eleições para o estado de SP no primeiro turno.
Só que desta vez essa eleição pode ter alguma relevância para o cenário mais amplo: se Serra disputar e vencer as eleições para a prefeitura paulistana ficará fora das eleições de 2014. Ao menos que seja muitíssimo cara de pau. Afinal, em 2004 se elegeu assinando até documento se comprometendo a ficar até o fim, mas rasgou a promessa para se candidatar ao governo paulista 2 anos depois. Se for candidato agora terá de jurar um trilhão de vezes que desta vez não vai sair, e ficará horrorosamente mal se isso acontecer.
Os tucanos do Oiapoque ao Chuí rezam por essa candidatura. A verdade é que ninguém mais aguenta Serra dentro do partido. Sua liderança é autoritária, e utiliza métodos que incluem chantagem e intimidação. Não aceita nenhuma crítica de ninguém, nem opositores, os quais ataca com violência absurda. Assim, se disputar a eleição e vencer, todos julgam que ficarão livres dele, já que só poderia se candidatar a presidente em 2018, quando já terá 76 anos e talvez nem seja um candidato viável.
A grande verdade é que Serra foi absolutamente danoso para o PSDB. Se eu fosse tucano odiaria ele profundamente. Suas candidaturas presidenciais não buscaram defender seu partido, mas apenas seus projetos pessoais. Em 2002 escondeu FHC, seu grande aliado, temendo que a baixa popularidade do então presidente o contaminasse. Em 2010 tentou até se mostrar como o que melhor continuaria o maravilhoso governo de Lula, depois partiu para o ataque mais baixo contra a rival e terminou fazendo uma demagogia absurda, propondo coisas que jamais faria, como aumentar muito o salário mínimo. Em suma, nessas eleições pensou apenas nele, e não em seu partido. E os tucanos sentiram isso.
O PSDB sabe que terá uma situação complicada em 2014. Até agora Dilma tem conseguido manter altos níveis de popularidade, apesar dos ataques diários da imprensa. Aécio Neves, eleito como novo chefe do partido, tem adotado uma estratégia que não ajuda muito. Procura manter diálogo com os governistas, evitando o confronto, para tentar atrair setores da aliança governista para seu lado em 2014, caso a reeleição de Dilma esteja ameaçada. Mas como até agora Dilma vai bem, essa estratégia significou que o partido não confronta o governo e nem atrai os aliados dele.
Mas o partido não importa. Seja Alckmin ou Aécio o candidato em 2014, o que ninguém quer é Serra. Que deve ganhar as eleições paulistanas, já que o eleitor de lá não parece disposto a mudar, gosta de Serra e Lula está longe de ser muito popular na paulicéia, o que dificulta a tentativa de eleger um poste. Pra fechar o quadro, Serra terá toda a máquina estadual e municipal à sua disposição. É favoritíssimo. Se sua vitória se consolidar, é provável que o Brasil e o PSDB se livrem de vez desse nefasto. Apenas os paulistanos terão de o aturar, mas sem reclamar, já que por escolha própria.

sábado, 25 de fevereiro de 2012

Gente fina é outra coisa



O vídeo acima é uma das coisas mais inacreditáveis que já vi na vida. Nele, Boris Casoy culpa Lula pela morte da dona da Daslu. Sim, ela morreu de câncer. Mas o argumento é o seguinte: para desviar a atenção do mensalão, Lula mandou prender a pobre empresária, e isso a deixou tão tristinha que acabou morrendo.
Bem, claro que há algo de cômico nisso tudo. Afinal, até onde eu sei, não há indícios de que humilhação cause câncer. Se causasse, todos os lixeiros do Brasil teriam morrido depois que o mesmo jornalista se expressou de forma tão preconceituosa em relação a eles.
Naturalmente que um aspecto muito explorado pelos defensores do governo é a absurda parcialidade política do comentário acima. Afinal, não foi o Lula quem prendeu a referida empresária. Foi uma investigação da Polícia Federal em vários estados, autorizada pela Justiça e com participação do Ministério Público. Casoy faz o pobre telespectador ignorante achar que Lula telefonou a alguém e disse "prenda a fulana pra mim, por favor?". E não foi assim MESMO. A maracutaia foi comprovada. Mas o vilão da história é Lula, claro.
No entanto o que me incomoda mais é outra coisa. Para Casoy e uma parte imensa da mídia, a empresária é quase uma santa. Todos estão lamentando a morte dela. Isso porque ela foi condenada a quase CEM ANOS de prisão por uma cacetada de crimes. O melhor dos argumentos é "ela dava emprego às pessoas". Criminoso elogiado por empregar pessoas? Vamos elogiar os traficantes de drogas então?
Bem, claro que há um elemento de classe aí. A dona da Daslu era gente boa. Vivia na alta sociedade, circulava entre os milionários, vendia roupas a eles. Representava a "gente de bem". Prendê-la por roubar os cofres públicos foi uma coisa de muito mau gosto. Não se faz isso com pessoas como ela. A etiqueta recomenda que ricos da alta sociedade jamais sejam incomodados. As mesmas pessoas que são tão moralistas com os outros acham que empresário tem salvo-conduto para roubar a todos nós e ainda morrerem como santos.
Aposto que semana que vem a capa da Veja vai ter uma imagem dela retratada como uma espécie de Che Guevara do capitalismo. E talvez o Carlos Nascimento diga que já fomos mais inteligentes, pois essa coisa de prender rico é coisa de gentinha. E assim vamos.

quinta-feira, 23 de fevereiro de 2012

Que viva o Islã!



Recebi dia desses uma pergunta anônima no formspring com o seguinte teor: por que os muçulmanos odeiam tanto o ocidente?
Confesso que fiquei paralisado. Não soube o que responder. Tal ponto de vista viola a lógica mais elementar. O Brasil é repleto de imigrantes muçulmanos e seus descendentes. Muitos deles são figuras proeminentes da nossa sociedade: Pedro Simon, Tasso Jereissati, Garotinho, Paulo Maluf, etc. Você pode gostar deles ou não. Mas jamais os imaginará com uma arma na mão atirando em cristãos. Toda cidade brasileira de tamanho médio ou grande tem uma mesquita, e ninguém anda nas ruas com medo de seus frequentadores.
Claro que quem pergunta algo como o que mencionei está pensando nos atentados de 11 de setembro. Uma resposta possível seria na forma de outra pergunta. O que matou mais gente: os atentados comandados por Bin Laden ou as intervenções ocidentais no mundo islâmico? Some o imperialismo, as conquistas, as guerras fomentadas pelo ocidente (Irã-Iraque, por exemplo) e aquelas que tiveram cristãos como protagonistas (como as guerras do golfo), e certamente você concluirá que para cada cristão morto por um muçulmano, há centenas ou milhares de islâmicos mortos por cristãos.
Enquanto pensava nisso tudo não consegui deixar de pensar num dos maiores ídolos que já tive nesta vida: Cat Stevens, grande músico inglês que se converteu ao islamismo em 1978, e desde então abandonou a carreira, e é conhecido como Yussuf Islam. Botei seu nome no google e apareceu o verbete sobre ele na wikipédia, muito esclarecedor. Veja o que está escrito, e como termina. Me diga se depois de ler isso resta alguma dúvida sobre quem odeia quem:
"Seu pai é de origem greco-cipriota e sua mãe de origem sueca. Vendeu 40 milhões de álbuns, principalmente entre as décadas de 1960 e 1970. Em1971, escreveu uma música para o filme Harold and Maude (no Brasil: "Ensina-me a Viver"). Entre suas canções mais populares estão "Morning Has Broken", "Peace Train", "Moonshadow", "Wild World", "Father and Son" e "Oh Very Young".

Stevens se converteu ao Islão e abandonou a música em 1978. Desde então passou a se dedicar a atividades beneficentes e educacionais em prol da religião. Toma muito cuidado quanto ao uso de suas músicas. Muitas delas dissertam a respeito de temas de sua vida anterior à conversão, e Stevens não quer mais ser associado a eles. Não surpreende que nunca tenha permitido que qualquer de suas canções fosse usada em comerciais detelevisão. Apesar de estar há quase 30 anos afastado da indústria musical, os trabalhos anteriores como Cat Stevens continuam vendendo uma média de 1,5 milhão de discos por ano.

Criou seu próprio selo fonográfico, a Ya Records, pelo qual já produziu dez discos de música religiosa e espiritual. Fundou três escolas muçulmanas em Londres e uma organização sem fins lucrativos, Small Kindness, reconhecida pela ONU e através da qual presta ajuda aos órfãos de conflitos comoBósnia, Kosovo e Iraque.

Em 2004, o Departamento de Segurança Interna dos Estados Unidos impediu a entrada dele no país, após incluí-lo na lista de vigilância por atividades provavelmente relacionadas ao terrorismo.


Imagine se uma pessoa que dedicou décadas de vida ao catolicismo, protestantismo ou judaísmo fosse impedido de entrar em um país islâmico por suspeitas de terrorismo. O que acharíamos?


Blogueiros petistas: mais do mesmo



Pelo que li ontem, o jornalista Paulo Henrique Amorim foi condenado a pagar uma senhora indenização ao jornalista Eraldo Pereira, e ainda retratar-se em vários veículos de mídia. Foi muito bem feito e merecido. Em meio a um ataque violento a Pereira (algo que PHA ama fazer, normalmente de forma extremamente leviana), se referiu a ele como "negro de alma branca". Uma tremenda babaquice. Como se dissesse: "não estou falando mal dele porque é negro, tanto que pra mim a alma dele é de branco safado" (algo muito parecido ao que alguém do PT, acho que Erundina, falou sobre Celso Pitta).
Aproveito o episódio para uma reflexão. PHA é a face mais visível de toda uma estrutura de blogs que se criou para defender o governo. Não acho isso errado. Como disse no post de ontem, e qualquer um pode observar com facilidade, os grandes veículos de imprensa são majoritariamente oposicionistas. Atacam o governo o tempo todo, tentando impor sua própria agenda ao debate político. Do ponto de vista da estratégia política, essa rede de blogs é um grande acerto do governo. É uma forma eficaz de fornecer contra-argumentos ao que se vê na grande imprensa. É parte do jogo.
Meu problema é outro. Talvez seja ingenuidade minha, mas eu não esperava que essa rede petista tivesse rigorosamente os mesmos defeitos da grande imprensa. É o mesmo saco de gatos que mistura acadêmicos de renome defendendo suas boquinhas no governo, com jornalistas oportunistas querendo popularidade e proximidade com o poder, militantes alucinados e pessoas asquerosas produzindo ataques absolutamente desqualificadores.
Em suma, não há diferença entre Reinaldo Azevedo e Paulo Henrique Amorim, ou José Artur Gianotti e Emir Sader. São pessoas que mentem, distorcem, caluniam, tudo em nome de seu próprio interesse. E servem para alimentar os argumentos dos pobres coitados que compram apaixonadamente as versões governista ou oposicionista do mundo. No fim só servem para isso: produzir discursos que serão repetidos acriticamente por gente que se entrega voluntariamente ao papel de massa de manobra de um dos dois grupos que disputam o poder.
Que a Veja seja assim, estamos acostumados há décadas. Mas ver pessoas supostamente progressistas acreditando cegamente no mesmo tipo de estratégia quando ela defende seu lado, aí eu fico um pouco mais desiludido.

quarta-feira, 22 de fevereiro de 2012

Mídia: capitalismo é bom para os outros



Uma coisa que acho importante fazer vez por outra é analisar o capitalismo nos termos dele próprio. Isso é importante, por mais que seja necessária a crítica externa ao capitalismo. Pois o argumento favorito dos liberais contra os sistemas não-capitalistas é que eles são utópicos. Não funcionam na prática e acabam degenerando em outra coisa, ao contrário do capitalismo, que conseguiu não apenas se adaptar como se moldar a novas realidades. Um argumento que tem lá sua validade, mas até que ponto?
O Brasil vive uma situação muito semelhante à de outros países latino-americanos. Um governo não-liberal, eleito dentro das normas democráticas, bastante popular mas execrado pela imprensa. Entenda: não estou aqui endossando aquela imagem do "tadinho do Lula, vítima do preconceito da mídia". Nem sou eleitor do PT, ainda que por vezes vote neles nos segundos turnos. Apenas observo algo que não dá para contestar. É um fato.
Aí eu penso no seguinte. Jornalistas e pessoas ligadas à mídia em geral têm pânico de qualquer forma de intervenção externa em seu trabalho. Dizem eles que isso tolhe a liberdade de pensamento e abre espaço para a censura. Reafirmam que nada melhor do que a auto-regulação e a saudável competição de mercado. Cada um ofereça seu produto à população e ela escolhe. O bom e velho capitalismo.
Mas é isso o que vemos na prática? Bem, todos os veículos líderes de segmento da mídia brasileira atacam ferozmente o governo. Isso não tem nada a ver com mercado. A população brasileira votou três vezes seguidas para eleger o lulo-petismo. Lula é o presidente mais amado da história do Brasil. Apesar de atacada, Dilma mantém um nível muito alto de aprovação.
Logo, as Vejas, Globos e Folhas que atacam o governo não o fazem para atrair a população, que simplesmente não aceita esse argumento, e demonstrou isso enfaticamente em todas as eleições recentes. É óbvio que não está acontecendo competição nenhuma. Todos estão oferecendo o mesmo, e pensam unica e exclusivamente em sua própria agenda, e não estão levando o gosto dos consumidores em conta.
Agora me diga aí: isso é capitalismo? Que raio de livre-concorrência é essa em que todos são obrigados a escolher entre veículos que dizem a mesma coisa, uma coisa que não é o que a maioria quer ouvir?
A questão é a seguinte. A mídia não acha que as regras do capitalismo valem para ela. Festejam quando o capital estrangeiro entra em todos os ramos da atividade econômica, mas não permitem que isso ocorra no mundo da imprensa. Afinal, as comunicações são estratégicas. Ao contrário do petróleo, da siderurgia, da telefonia, etc., né?
Isso também vale para a questão da regulação. Ninguém quer censurar ninguém. Quer apenas que haja regras. Todos os ramos da atividade econômica tem regras. Imagine se o curso de história da minha universidade resolve ensinar apenas coisas que os alunos não vão precisar depois que se formarem. Tudo bem? "deixa o mercado cuidar disso"? Claro que não. Ninguém concordaria com isso. Nós temos regras a seguir. Todos têm. Menos a imprensa. Para ela, eu, como professor, ter regras a seguir, é o normal. Eles terem regras é censura. Faz sentido, né?
Como sempre digo, amigo: capitalismo nos olhos dos outros é uma delícia!

sábado, 18 de fevereiro de 2012

Luis Alberto Spinetta, 1950-2012



Amo rock. Amo a Argentina. E detesto rock argentino. É um país que gosta muito do gênero, e o produz em grande quantidade. Mas a meu ver, com péssima qualidade. Não suporto aqueles vocais caretas, aquela cadência melosa, aquela montanha de teclados... É um suplício quando os amigos argentinos colocam aquelas bandas chatas e eu tenho de fingir que gosto, por achar que pode não cair bem um gringo falar mal da música deles.
O tal do Charly Garcia então... acho absolutamente insuportável. O Seru Giran, banda em que Garcia tocou, e que é vista pelos meus amigos argentinos como o supra sumo do rock deles, me parece uma chatice sem tamanho. Escutei um milhão de vezes o mais famoso rockeiro argentino em todas as suas fases. Me parece intragável.
Claro que há honrosas exceções. Gosto muito da fase em que Miguel Cantillo cantava com o Grupo Sur, embora depois sua carreira tenha sido decepcionante. Os porraloucas do Arco Íris também fizeram coisas boas, principalmente na fase em que eram comandados por Gustavo Santaolalla. Mas o grande nome do rock hermano para mim é Luís Alberto Spinetta, que morreu de câncer semana passada.
Spinetta teve bons momentos em diversas bandas, como Almendra e Invisible, bem como em sia carreira solo. Mas sua grande fase foi no Pescado Rabioso, na primeira metade dos anos 1970. Artaud, de 1973, talvez seja o melhor disco do rock argentino (na verdade um álbum solo de Spinetta, com o nome da banda sendo usado por questões meramente contratuais).
Claro que o Pescado Rabioso enfrentou um problema muito semelhante à outras boas bandas de rock latino-americanas daquele tempo. A saber, por diversos momentos soar como versões inferiores das grandes bandas inglesas e norte-americanas daquele tempo.
De fato essa geração de rockeiros latino-americanos se defrontou com uma situação muito complicada. Os originais do mundo anglo-saxônico eram verdadeiramente excepcionais, e igualá-los seria uma tarefa quase impossível. O resultado é que a maioria das bandas do nosso continente naquele momento realmente soavam como uma pálida tentativa de repetir a obra monumental do modelo original. Mas umas poucas bandas, as melhores, conseguiram fazer coisas muito boas, ainda que sem superar os gigantes da época. E o Pescado Rabioso sem dúvida foi uma delas.







quinta-feira, 16 de fevereiro de 2012

Vivendo no caos



Outro dia escrevi sobre saudosismo. E hoje me dei conta de uma coisa engraçada. Nas minhas lembranças, as cidades brasileiras eram muito mais toleráveis quando eu era jovem. Mas aí lembrei que meu pai dizia a mesma coisa: aquele cenário que para mim parece idílico na época era tido como caótico pelos meus pais, em comparação com o que eles viveram em suas infâncias. O mesmo valendo para eles em relação a meus avós.
Nesse caso específico acho que estamos todos certos. Eu, meus pais e meus avós tínhamos mesmo razão de achar que quando éramos jovens, cada um em sua época viu uma vida urbana mais tolerável do que aquela com a qual se deparou em sua vida adulta. As cidades brasileiras estão chegando a um nível insuportável. Como há países em que as coisas não ocorrem com tamanha intensidade (vide post de ontem), fica claro que isso não é uma decorrência necessária nem da modernidade nem do desenvolvimento. Como chegamos nisso então?
Tenho pra mim que a origem de boa parte desses problemas é uma obsessão incontrolável que temos pelos carros. Em algum ponto ali por perto da metade do século passado decidimos que a coisa mais importante do mundo era ter um automóvel. Nossas cidades passaram a ter como prioridade máxima os carros. Ao contrário das preocupações estéticas e sanitárias do início do século (que também eram horrorosas), as grandes reformas dos anos 50/60/70 foram pautadas pela preocupação em abrir espaço para os automóveis. Parques, construções históricas, moradias populares, tudo ia abaixo para rasgar avenidas cada vez mais largas para os carros andarem em paz.
A adoção desse modelo norte-americano trouxe diversas consequencias lamentáveis, uma das quais de caráter cultural. Passamos a achar que a única maneira sensata de se deslocar é de carro. Ônibus, trem, bonde, bicicleta, caminhada, nada disso presta. Assim, nossas cidades não são feitas para quem quer caminhar ou andar de bicicleta, não há espaço para isso. Os bondes acabaram. Os usuários de ônibus são obrigados a pagar caro por um serviço horroroso. Metrô, praticamente não temos. Trens estão sucateados. Tudo aponta para o carro.
Resultado, estamos todos comprando carros. E não há rua que aguente. Chegamos a um ponto em que o trânsito nas cidades só vai melhorar se derrubarmos todas as construções. E veja: não estou falando só do trânsito. É um problema que gera um monte de outros problemas. Se todo espaço disponível é destinado aos carros, não há parque, não há espaços de convivência. Não há motivos para estar na rua sem ser dentro de um carro.
Evidentemente tudo isso desumaniza a cidade, que passa a ser visto como algo a ser temido, e não desfrutado. Achamos que rua é lugar para ladrão e transporte público é para pobre. A solução é entrar no seu carro e sair voando para um lugar fechado, climatizado, cheio de gente igual a você, com seguranças por perto. Se possível, morar num condomínio fechado com seguranças armados até os dentes do qual quase não seja necessário sair.
Dentro de mim existe uma certeza: não há como um ser humano ser feliz vivendo nesse modelo. Nele, todos são nossos inimigos, e a vida urbana é um sofrimento permanente. Mas pelo que entendo sou só eu. Está todo mundo feliz. No máximo preocupados querendo um carro melhor. Pois nessa perspectiva, ser feliz é ter um carro bom para sofrer muito dentro dele.

quarta-feira, 15 de fevereiro de 2012

O Brasil visto de fora



Quando vou para o exterior a coisa que mais faço é pensar no Brasil. Claro: mesmo que insconscientemente voce fica o tempo todo comparando tudo o que vê com aquilo que conhece. No meu caso, o resultado é que acabo por pensar muito nos problemas que temos. Não que o Uruguai, onde eu estive toda a última semana, seja melhor que o Brasil em tudo. Mas é que eu sei que assim que voltar poderei desfrutar novamente as coisas em que somos melhores, mas terei também de conviver com aquelas em que somos piores.
No caso o que mais me chamou a atenção foi a degradação total da vida nas nossas cidades. Montevidéu é a capital de um país, tem a população equivalente à de Porto Alegre ou Recife. Mas a violência é muito pequena, quase não há problemas de trânsito (na hora do rush, com mais carros na rua, o trânsito pode ficar um pouquinho mais lento, apenas isso), os jovens se sentam em praças noite adentro tomando vinho ou mate sem medo de serem incomodados. Nos fins de semana pode-se pegar ônibus novos e confortáveis ao preço de 1,75 real e viajar sem se sentir numa lata de sardinha ou ouvir música alta. Você pode ir a um dos vários parques públicos arborizados e fazer um programa familiar sem gastar quase nada. Nesses parques há programa para crianças, feiras de artesanato, enormes áreas onde se pode sentar e ver o tempo passar.
Ou seja, nada parecido com o Brasil. Em cidades médias e grandes nada disso existe. Todos vivem com pânico da violência, o trânsito é insuportável, sair à noite só em lugares cobertos e com muita segurança, fim de semana vamos voando para shoppings, nossas únicas opções de lazer, onde só podemos gastar, gastar e gastar. Transporte público nem pensar, vamos todos com nossos carros, colaborando para as cidades ficarem ainda mais intransitáveis.
Quando eu era criança essa era uma boa descrição para Rio e São Paulo, cidades com um tamanho que inviabiliza uma vida decente. Mas agora não é mais assim. Belo Horizonte, que sempre se orgulhou de ser uma metrópole com ar interiorano, já é uma cidade completamente saturada, com todos os problemas descritos acima. A deliciosa João Pessoa, que nem é tão grande, já tem um trânsito insuportável.
O que me surpreende nessa viagens para fora daqui é perceber que essas coisas todas, que para nós são absolutamente normais, na verdade são excrescências absurdas, que passamos a considerar absolutamente naturais. Veja como nos acostumamos com isso: nos últimos anos o Brasil melhorou em muitos aspectos, mas só piorou nesses. E nenhum de nós reclamou. Prova de que achamos tudo isso muito normal.
Aí eu fico preocupado. O pior não é o problema. O pior é não reconhecer o problema. Aparentemente consideramos a coisa mais normal do mundo ver as cidades como um verdadeiro inferno, no qual somos condenados a viver. Não vemos cenários alternativos. O que desobriga os gestores de pensarem em soluções para esses problemas. Afinal, se nem pensamos que poderia ser diferente, não vamos cobrar melhorias. Aí nossos políticos nem pensarão no assunto, fazendo com que tudo siga piorando. E nós aqui, felizes de sofremos barbaramente, mas dentro de um bom carro.

segunda-feira, 6 de fevereiro de 2012

Libertadores: o que esperar



Não vou prever quem pode ou não ser campeão da Libertadores. As equipes ainda não mostraram a que vieram neste ano, e várias nem estrearam oficialmente. Sem falar que o emparelhamento da fase de mata-mata é imprevisível. Por ora, fiquemos com as projeções de cada grupo da primeira fase.

GRUPO 1 - Santos, Internacional, Juan Aurich e The Strongest.
Qualquer coisa que não for um predomínio completo das duas equipes brasileiras será zebra. Grupo fácil.
GRUPO 2 - Flamengo, Emelec, Lanus e Olimpia
Grupo imprevisível. O Lanus é o melhor dos estrangeiros, mas não tem nenhuma ambição e nem camisa. Entre esses três há equilíbrio. O Flamengo insere uma nota de total imprevisibilidade no grupo. Se jogar bem deve ser o primeiro, mas também pode ir mal e ser o último.
GRUPO 3 - Bolívar, Junior Barranquilla, Unión Española e Universidad Catolica.
Grupo fraco. Catolica e Junior são os mais fortes.
GRUPO 4 - Arsenal, Boca Juniors, Fluminense e Zamora.
Boca e Flu são favoritos disparados. Têm no máximo o direito de ter alguma dificuldade com o Arsenal, mas não muita. Têm de fazer ao menos 10 pontos contra os outros dois da chave e decidirem o campeão da chave no confronto direto.
GRUPO 5 - Alianza Lima, Libertad, Nacional-URU e Vasco.
Chave complicada para o Vasco. O Nacional está com um time bem decente, o Libertad deve endurecer e mesmo o Alianza não é tão fraco. Time de São Januário não poderá bobear sob o risco de rodar já nesta fase.
GRUPO 6 - Corinthians, Cruz Azul, Tachira e Nacional/PAR.
Corinthians deu muita sorte, o grupo é absolutamente simples. Timão tem obrigação de ser o líder disparado. Mexicanos e paraguaios disputam a segunda vaga.
GRUPO 7 - Chivas, Defensor, Deportivo Quito e Vélez Sarsfield.
Vélez é superior aos demais. Briga de foice pela segunda vaga.
GRUPO 8 - Godoy Cruz, Nacional/COL, Peñarol e Universidad de Chile
O grupo mais difícil de todos, absolutamente imprevisível. La U perdeu alguns jogadores, e mesmo tendo se reforçado deve cair um pouco. Peñarol tem um time razoável e a mística. Nacional tem um time difícil de enfrentar e Godoy Cruz é apenas mediano mas tem um par de bons jogadores. Vai valer a pena acompanhar a briga.

domingo, 5 de fevereiro de 2012

Violeta



Há 25 anos eu ouvi falar em Violeta Parra pela primeira vez, e da forma mais improvável que se possa imaginar: através de uma entrevista do Raul Seixas à revista Bizz. Dizia o velho rockeiro que tinha acabado de descobrí-la e estava maravilhado com o "feeling" das composições dela. Não entendi o que ele quis dizer, mas alma curiosa que sou, fiz uma anotação mental: "Violeta Parra", e coloquei a nota na gaveta imaginária com o título "quando tiver chance, vou escutar".
Não demorou muito para eu descobrir que ela era a autora de "Volver a los 17", cuja gravação feita por Mercedes Sosa e Milton Nascimento no disco Geraes sempre me pareceu uma das melhores coisas da história da música brasileira. Depois soube que ela era também a autora de "Gracias a la Vida", imortalizada em uma versão monstruosa de Mercedes Sosa. A descoberta definitiva foi: havia um disco inteiro de Mercedes Sosa só com músicas de Violeta Parra. Era bom demais pra ser verdade.
Fui descobrindo outras canções maravilhosas da compositora chilena, como a belíssima "Rin del Angelito". Mas me apaixonei também por sua visão de mundo. Esquerdista convicta, ela havia sido a grande divulgadora da cueca, o ritmo nacional chileno. Um gênero meio chatinho, mas que nas mãos dela virou uma coisa absolutamente maravilhosa. Nunca ouvi uma música dela que não gostasse. A maioria é ótima. Algumas são sublimes. O melhor: para ela, defender a cultura popular de seu país não era colocá-la em uma redoma, mas revigorá-la. Nada de condescendência com os "pobres bonzinhos e simpáticos dos quais podemos rir à vontade de suas tentativas de serem humanos", típica de gente como Ariano Suassuna. Ela queria que eles se organizassem e lutassem para mudar o mundo de exploração em que viviam.
Há 45 anos ela cansou das desilusões amorosas e profissionais e acabou com sua própria vida. Isso impediu que ela vivenciasse a monstruosidade patrocinada por Pinochet. Se converteu instantaneamente em ícone da esquerda latino-americana, ao lado de gente como Victor Jara, Atahualpa Yupanqui e Mercedes Sosa. Uma gigante.








sábado, 4 de fevereiro de 2012

Morte à universidade pública


Nas últimas 24 horas vi um monte de alunos postando essa coisa ridícula no facebook. E vou confessar: tive vontade de assinar a Veja. Porque se é isso o que meus alunos estão aprendendo a ser na universidade pública, melhor fechar mesmo.
Pois na minha opinião, a direita está completamente errada em atacar a universidade pública. Nos caracterizam como um bando de vagabundos que não fazem nada de útil para a sociedade, nada mais que um punhado de mauricinhos usando o dinheiro público para difundir ideologias esquerdistas. Bem, essa parte do esquerdismo só existe nos delírios deles. Nos muitos anos em que vivo na universidade o que mais ouço são discursos extremamente conservadores. Meu aluno padrão tem os mesmos preconceitos do resto da sociedade. E vivem xingando o PSTU e outras correntes socialistas, enquanto se mostram muito mais benevolentes com os assassinatos e tortura dos regimes militares do continente. Por exemplo, a homofobia corre solta na universidade, tanto pública quanto particular.
E ao postarem essa aberração no facebook mostram duas coisas. Primeiro, acham que estudar menos é uma vantagem. Vai lá, otário da particular, morra de estudar enquanto eu fico à tõa. Segundo, é um babaca elitista que se acha superior aos que não tiveram a oportunidade de estudar numa universidade pública. Algo que frequentemente tem mais a ver com oportunidade do que com capacidade.
O que a direita acha que é "esquerdismo" pra mim é senso crítico. A universidade pública não é de esquerda, mas pretende ser uma trincheira democrática, difundindo uma visão mais igualitária das coisas. Mas se o que estamos formando é gente que acredita nessas idiotices, então a direita está certa mesmo. Estamos formando babacas escrotos e elitistas. Com dinheiro público. Se é assim, melhor fechar. O que fazemos não tem mesmo qualquer sentido. Pra formar gente assim, melhor cobrar, e caro. Pena que os que postam isso frequentemente não poderiam pagar. Azar deles. Quem mandou ser burro?

sexta-feira, 3 de fevereiro de 2012

Rock latino setentista




Uma geração de músicos que eu valorizo muito são os rockeiros setentistas latino-americanos. Pois se você pensar bem, tudo estava contra eles. Esses caras viviam em ditaduras, que frequentemente os censuravam por qualquer motivo. Essas bandas em geral não tinham como foco temas políticos, mas seu comportamento era visto como inaceitável pela caretice dominante. Para a maior parte da sociedade em que viviam, e para seus governos também, eles eram um bando de maconheiros despirocados, uma ameaça à ordem.
Só que ao mesmo tempo, as forças de oposição ao moralismo dominante tampouco lhes ofereciam abrigo. A genial geração de músicos latino-americanos dos anos 60 por essa época já estava convencida de que uma modernização da música tradicional de seus países era o caminho. Não é que odiassem rock, mas pouco viam de relevância nesse gênero. Assim, esses conjuntos tampouco podiam contar com o apoio integral daquele que poderia ser seu público.
E tampouco a história foi justa com eles. Uma vez que os bem pensantes do continente são inteiramente favoráveis à MPB e seus equivalentes nos países vizinhos, esse pessoal simplesmente não existe para a crítica musical. No longo prazo acabaram silenciados de uma forma que as ditaduras daquela época teriam adorado.
Tudo isso me faz sentir um carinho especial por esses caras. Certamente não tiveram a estatura de gente como Milton Nascimento, Mercedes Sosa ou Ruben Rada. Mas tiveram méritos indiscutíveis. Tentaram misturar o rock com a música de seus países, com uma ousadia que a maioria dos gênios da geração anterior não teve. E apesar de serem rejeitados por governos, sociedade, história e crítica musical, deixaram seu recado. A eles, toda a minha admiração.












Homens, esses imbecis



Não passo um dia sem ver no facebook alguma lição de relacionamento. O que tem de professor ensinando os outros a ser feliz em algumas linhas é uma grandeza. Um tipo muito frequente de "aula" é "como tratar uma mulher".
Você sabe do que estou falando. É uma coisa ridícula, que presume que todos os homens do planeta são versões pioradas do Homer Simpson. Só pensamos em ver MMA bebendo cerveja e peidando. Não temos cérebro, somos egoístas, não tentamos agradar nossas mulheres e sonhamos com um planeta lotado de loiras peitudas e QI zero.
Isso pode até ser engraçado. O Homer, por exemplo, é muito engraçado. Mas a coisa perde toda a graça quando constato, absolutamente surpreso, que muitas mulheres levam isso a sério. Compartilham com o maior entusiasmo esses links, comentam que o texto é perfeito, que homem é assim mesmo, blá-blá-blá.
Bem, se é pra levar isso a sério, então vamos lá. Esses textos claramente presumem o seguinte: mulheres são perfeitas, o que estraga o mundo é o fato de os homens serem idiotas. "não tem mais homem de verdade" é um comentário muito frequente nesses posts. Será? As mulheres são essa beleza toda mesmo? Todas são gênias honestíssimas perdidas num planeta de homens babacas? Será MESMO que elas nada têm a aprender, apenas a ensinar?
O que acho mais estranho é que essas mulheres parecem não ter aprendido nada com o feminismo. O objetivo desse movimento era que as mulheres pudessem ser o que desejassem. Astronautas, varredoras de rua, lésbicas, virgens, ninfomaníacas, donas de casa, empresárias. Tanto faz. O que importava era o exercício do próprio desejo. Que não houvesse barreiras sociais para que as mulheres construíssem suas vidas como achassem melhor.
O que há implícito nisso é o bom e velho individualismo iluminista. Cada pessoa é um mundo à parte. Cada indivíduo é absolutamente único e insubstituível. Assim, nada mais justo que todos possam dar vazão à sua subjetividade, até onde isso não prejudicar ninguém. As feministas simplesmente queriam que esse direito, até então exclusivamente masculino, fosse extendido às mulheres. Perfeito.
Aí vêm essas pobres coitadas projetar sua própria infelicidade nos outros. Suas vidas não estão bem, e ao invés de aceitar que momentos assim ocorrem com todos e tentar seguir em frente, preferem atacar o sexo oposto, culpando-o por todos os males do mundo. Presumem que todos os homens são iguais, ignorando a lição básica do feminismo, de que cada pessoa é um universo à parte.
E o pior de tudo: com essa postura repelem os caras legais, já que ninguém em sã consciência vai querer conversar com uma louca dessas. Só vão se aproximar os aproveitadores, que sabem muito bem que esse tipo de mulher está desesperada pra encontrar alguém. Aì ela sofre de novo, conclui que homem é tudo igual, e o jogo recomeça.
Não sou professor de relacionamentos. Mas o que eu diria é: fez uma escolha errada? Culpe a si próprio. Não ponha a culpa na metade da humanidade que pertence ao sexo oposto. Há homens e mulheres para todos os gostos. Se voce escolheu um(a) que não presta, a culpa é sua. Siga com a vida e escolha melhor na próxima vez.

quarta-feira, 1 de fevereiro de 2012

Cuba: a ilha da fantasia



A visita de Dilma a Cuba faz com que, desgraçadamente, o país vire tema central da nossa pauta política. E digo "desgraçadamente" por um motivo. A Cuba discutida não existe. É uma coisa irreal, mera projeção das fantasias de cada um. Porque entender o país de fato, ninguém quer.
Para a direita, Cuba é uma monstruosidade, um lugar onde cidadãos são aterrorizados por um regime assassino. E ainda por cima não conseguiu tirar o país da pobreza (ao contrário de vizinhos de perfil semelhante, como Haiti e Jamaica, que se mantiveram no capitalismo e são potências econômicas).
Para a esquerda, Cuba é uma autêntica democracia. Nesse argumento, muito mais importante do que votar em eleições com resultados pré-definidos pelo "sistema" é a população saber ler, escrever e ter acesso a um bom sistema de saúde pública (como se "democracia" e "bem estar" fossem termos excludentes). O corolário é: não existe ditadura, apenas terroristas financiados pelos EUA que tentam derrubar o regime contra a vontade popular.
E há um terceiro grupo, a meu ver o mais deprimente. É o pessoal do PT "roots", que defende aquele argumento "não tem importância fazermos tantas concessões à direita, o que importa é que estamos revolucionando o país". Para eles, uma visita como essa é uma festa. Afinal os amigos direitistas do governo estão preocupados demais em saquear os cofres públicos e agradar o eleitorado reacionário para se preocupar com política externa. Dilma pode elogiar Cuba, falar qualquer fanfarronada, e essa galera "esquerdista" fica feliz. Vêem nisso uma prova de que há imensas afinidades entre o lulo-petismo e o regime cubano. Para esse pessoal, geralmente profissionais muito bem pagos da classe média, o PT está acabando com a burguesia brasileira, assim como Fidel fez em Cuba.
O triste é que o Brasil teria muito a aprender com a experiência cubana, Tanto em termos do que se deve fazer quanto em termos do que não se deve fazer. Os indicadores sociais daquele país pobre são excepcionais em termos de América Latina, e só um imbecil pode argumentar a sério que não temos nada a aprender com eles em termos de políticas sociais de massa. Ainda mais um país tão desigual como o nosso. Não podermos nos dar ao luxo de nem tentar aprender com os cubanos.
Por outro lado, Cuba tem um mesmo governo há mais de 50 anos. Houve apenas uma mudança, entre irmãos e motivada por incapacidade física. Por mais que haja mesmo gente financiada de fora tentando destruir o regime (o que, sob qualquer ponto de vista, é uma traição nacional que nenhum governo toleraria), negar que a liberdade por lá é extremamente limitada seria outra tolice. Pensar em que medida um Estado tão grande pode criar condições para uma ditadura incontestável também seria importante. Algo em que os socialistas deveriam estar pensando sem parar há uns 20 anos pelo menos.
Em suma, seria fantástico se refletíssemos a sério sobre a experiência cubana, tentando aprender com seus acertos e erros. Mas pelo jeito vamos seguir nessa briga idiota que não interessa a ninguém. Ao menos ninguém que queira ser sério.