segunda-feira, 9 de janeiro de 2012

Revolucionários de merda

Provavelmente você tenha visto o vídeo da agressão absurda de um PM contra um estudante da USP (se não viu, veja ao fim do post). O aluno em questão não fez nada além de não mostrar sua carteirinha de estudante para um policial, e apanhou. Depois, ao ver que estava sendo filmado, o PM tampa com as mãos sua identificação, o que mostra que sabia perfeitamente que estava fazendo besteira.
Desnecessário dizer que a atitude extrapola completamente o dever da polícia. Não havia qualquer risco, o estudante não estava armado, não havia qualquer razão para supor que o jovem pudesse cometer um ato de violência, e pelo que vi no vídeo não estava acontecendo nada de ilegal.
Para minha total surpresa, as pessoas que defendiam a presença da PM na USP não se abalaram com isso. Acham que o PM pode ter "cometido excessos", mas que o estudante é um "revolucionário de merda" e merecia apanhar mesmo. Um discurso inteiramente coincidente com o dos defensores dos regimes militares latino-americanos: "Pinochet pode ter exagerado, mas os caras eram comunistas, algo tinha de ser feito contra eles para nos salvar", coisas assim.
Isso me deu o que pensar. De onde vem tamanha raiva contra estudantes de esquerda? É proibido estudante ser de esquerda? Estudante de esquerda é "revolucionário de merda", então estudante de direita é o que? "Gênio que ilumina a humanidade"?
Uma coisa que me entristece nessa história é ver que lentamente a direita consegue convencer a sociedade de que a universidade pública é uma excrescência, um lugar onde se torra fortunas para maconheiros filhos de papai aprenderem inutilidades ou, pior, "ideologias subversivas". E constato, triste, que realmente era inevitável que isso acontecesse. O investimento foi pesado.
Por exemplo: um estudante foi pego fumando maconha na universidade onde trabalho. Escândalo geral na mídia. Uma pessoa foi estuprada lá dentro. Ninguém reclamou, a notícia nem saiu. Parece óbvio que ninguém está preocupado com a criminalidade ou com a segurança dos estudantes. O que se deseja é apenas e tão somente caracterizar aquele espaço como uma balbúrdia financiada com dinheiro público.
A longo prazo, o resultado desse massacre a que a população é submetida há um bom tempo parece bem claro. Aos poucos as pessoas vão se convencer que universidade pública é uma bobagem. Que as melhores universidades do mundo são particulares. Que nossas universidades particulares são maravilhosas e competem pau a pau com Harvard e Oxford. E que o modelo correto é a extinção dessa máquina de maconheiros e esquerdistas para que nossas maravilhosas universidades particulares, esses templos da produção de conhecimento, dominem sozinhas o cenário.
Pobre não vai poder estudar, claro, mas isso é um detalhe. O que importa é acabar com os "revolucionários de merda". Afinal, estudante querer ser de esquerda é o grande mal do universo. Quando os "revolucionários de merda" acabarem, todos nossos problemas acabarão junto. E nossa universidade será perfeita.




2 comentários:

  1. É bem por aí mesmo. Esses conservadores só se incomodam com aquilo que pode abalar as estruturas do sistema deles. Quando não há interferência, até o estrupo é permitido, como você relatou que aconteceu na UFRPE.

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  2. Faculdade é para quem tem vontade de estudar,não para fumar maconha,quem gostaria de ver um parente seu sendo operado por medico maconheiro..ai cara ele morreuuu

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