Há anos atrás eu tinha uma vida que muitos consideravam ótima. Morava sozinho, ganhava bem, era magro, circulava pelas noites mineiras sem absolutamente nenhum freio. Dito assim parece perfeito. Mas não era. Eu carregava um monstro dentro de mim: a depressão.
Funcionava da seguinte maneira: tudo parecia perfeito. Dinheiro e mulher sobrando. O sonho de todo homem solteiro. Mas todo dia eu abria os olhos e não conseguia me mexer. Não via motivos para levantar da cama. Lá pelas 3 da tarde eu conseguia levantar, sentava no sofá. As 18 horas eu sentia alguma força, ia dar aula. Ninguém percebia, pois a sala de aula sempre me fez forte. Eu saía da universidade, bebia todas, e ia pra casa chorar feito criança. E no dia seguinte tudo começava de novo.
Um dia tentei me matar. Minha melhor amiga me levou para um psiquiatra. O diagnóstico foi terrível: eu sofria de uma forma crônica de depressão chamada distimia. Mas ela havia se transformado em depressão forte. Recebi remédios para melhorar. Não adiantou. Tomei todos de uma vez pra ver se morria logo. Pelo que soube depois minha constituição física forte e os anos dedicados ao esporte fortaleceram meu corpo a ponto de bloquear a overdose de antidepressivos e ansiolíticos. A única sequela foi a tremedeira nas mãos que me acompanha até hoje.
Os remédios não ajudaram nada. Toda madrugada eu pensava em morrer. Só pensava em ir para o prédio mais alto da cidade em que eu vivia e pular lá de cima. Graças ao destino, Deus, ou seja lá quem for, antes disso eu ligava de novo para a amiga citada, que me convencia, noite após noite, a não fazer isso.
No fim quem me salvou foi uma comunidade para depressivos do orkut. Um lugar onde ninguém dizia aquelas coisas bem intencionadas mas horríveis, tipo "não deixe isso tomar conta de voce", "voce está assim porque quer". Coisas que pessoas bem intencionadas mas absolutamente ignorantes nessa doença falam. Não somos assim porque queremos. É uma doença. Você critica uma pessoa gripada por querer ficar doente? Pois é, depressão é uma doença. Não queremos auto-ajuda, que nos faz sentir ainda pior. Só queremos compreensão.
Até hoje sinto os efeitos da depressão. Choro fácil, acho a vida uma merda, não sinto muito gosto nas coisas. Mas sobrevivi. Nós depressivos somos sobreviventes. Cada dia superado é uma vitória. E como aprendemos a enfrentar a vida com esse problema, ninguém acredita que dentro de nós existe esse monstro. Seguem achando que é frescura, invenção, ou algo assim. Sem fazer idéia do quanto estar vivo é uma vitória para nós.
Acho Tiago... que é preciso muita coragem para tornar explícito algo tão íntimo e tão massacrante como a depressão... Mas se eu fosse escrever não teria achado melhores palavras como as que vc colocou nomeando de mostro que alguns de nós carregamos... Com dias bons, dias ruins... dias em que a gente acha que não dá, e tenta se agarrar a tudo, amigos, livros, fé, o que tiver a mão... e muitas vezes tudo isso é pouco nos sobrando quase nada em que se segurar e esse quase nada é que não permite o fim. As vezes acho que ser depressivo é mais como um traço de personalidade do que uma doença propriamente, porque não há pílula, conversa ou terapia que a cure em definitivo... algo sempre a traz pelas mãos. Por mais numerosos que sejam, o depressivo está sempre só, consigo, é algo difícil de lidar... e muitas vezes a razão não toca o que é apenas difícil na maior profundidade que essa palavra tenha...
ResponderExcluirIsso não faz com que eu admire você menos... um dos grandes professores que tive...
Desculpe se foram muitas as palavras... mas foram saindo...
"e muitas vezes tudo isso é pouco nos sobrando quase nada em que se segurar e esse quase nada é que não permite o fim", que palavras perfeitas. é assim mesmo. e a gente vai sobrevivendo, é o que importa. sabendo que é duríssimo, que sempre vai ser duríssimo, mas a gente aguenta. grande!
ResponderExcluirSó nós depressivos crônicos sabemos o que é isso.E não tem coisa pior do que conselhos nessa hora."Veja como vc tem saúde","olha como sua família te ama",etc.Isso piora tudo,pq não nos estimula, nos gera raiva e culpa.
ResponderExcluirAgora meu namorido parece sofrer de distimia tb;mas não quer ir ao médico de maneira alguma e eu, para ele, não seria vista nunca como psicóloga.É triste a gente ver o quanto a qualidade de vida da pessoa pode melhorar e ela não quer saber.
Mas,no meu caso,além da medicação contínua que preciso, a doutrina espírita me ajuda muuuito.
E vamos aprender a viver com a doença.Não tem outro jeito.E,hoje em dia, sei que melhorei e muito,mas certas fases ,são cruéis ainda...rs
Este comentário foi removido pelo autor.
ResponderExcluirAcho-lhe muito corajoso e seguro ao expor algo tão pessoal. Tal fato serve para provar para algumas pessoas que todos nós somos seres humanos carregados de sentimentos, e que se confundem a todo instante. Não somos apenas aparências, títulos ou a grana que entra na conta início de mês. Admiro-lhe não somente como profissional, mas também como pessoa.
ResponderExcluirContinuo achando que tu precisa de uma boa terapia. Mas,
ResponderExcluirVocê já tinha comentado sobre essa postagem, mas é sempre muito impressionante perceber que mesmo um titã como você também é homem pacivel de todas as dores de ser homem... Enfim... #SemPalavras
ResponderExcluirE ainda conseguir realizar todas as coisas que você conseguiu, além de seguir todo dia num trabalho como o de professor... Isso faz de você um grande cara. Alguém muito próximo de mim também convive com essa doença, e isso me faz poder te afirmar: existe um caminho de saída, mas não é o mesmo para duas pessoas. Só se chega lá sozinho, é um processo individual que, acredito, tem mais haver com uma elevação transcedental da consciência do que com remédios.
ResponderExcluirPara você...fiquei muda...mas, gostaria que chegasse aí, com todo o meu carinho, um
ResponderExcluirterno e eterno abraço
Que coragem de compartilhar isto meu velho! Forte abraço! E por favor ... SOBREVIVA!!!
ResponderExcluirInfelizmente (por enquanto) não o conheço pessoalmente Tiago, mas pelo que vejo no blog, seus textos no FP, Lattes, você é um grande cara.
ResponderExcluirDepois dos demais comentários, não há muito o que eu possa acrescentar, apenas que fiz terapia três anos, e pensei em me matar, só que não cheguei nem a tentar.
Apenas posso dizer que está muito jovem, (39 anos é o auge da vida) casado, pai, parente, doutor, aula em universidade, jornalista, há muita coisa à ser feita por ti. Desejo todo meu apoio, e espero em 2014 estar em Recife para nós assistirmos uns jogos da copa.
E não esqueci do texto do LITEU, tô sem tempo pra porra nenhuma, por isso sumi do twitter, grande abraço de um grande amigo da web.
Parabéns Professor, infinitamente mais pela coragem em expor sua intimidade de forma direta e sem rodeios do que pela qualidade do texto. simplesmente, Parabéns.
ResponderExcluirAh, amigo! Nunca soube de nada disso e logo eu que gosto tanto de vc. Que sempre te admirei em tantos aspectos e que aprendi e aprendo tanto com vc! Na verdade, agora fico te admirando mais ainda! Um abraço, Tiago!
ResponderExcluirPat Gibin
Ah, amigo! Nunca soube de nada disso e logo eu que gosto tanto de vc. Que sempre te admirei em tantos aspectos e que aprendi e aprendo tanto com vc! Na verdade, agora fico te admirando mais ainda! Um abraço, Tiago!
ResponderExcluirPat Gibin