quinta-feira, 19 de janeiro de 2012

Elis, 30 anos depois



Sou de uma geração que cresceu sentido pânico do "Plantão da Globo". A qualquer momento podia entrar aquela música pavorosa interrompendo a programação, seguida de alguma notícia que aterrorizava o país. Há 30 anos atrás isso aconteceu: o vale a pena ver de novo foi interrompido para a notícia da morte de Elis Regina.
Pra ser sincero nunca entendi a adoração que todo mundo tem por ela. Que foi uma grande cantora não há o que discutir. Mas não a vejo acima de outros grandes nomes de sua geração. Não tinha a voz de Clara Nunes, a interpretação de Maria Bethânia ou a potência de Gal Costa. E durante boa parte dos anos 70 parecia encantada com arranjos chatíssimos, como que conformada em ser a melhor cantora de piano bar do mundo.
Por outro lado entendo que ela tenha sido provavelmente a cantora mais completa de sua geração. Desempenhou um papel mais ou menos semelhante ao de Angela Maria (com quem tantas vezes foi comparada) nos anos 50. Se estivéssemos falando de uma escola de samba, Elis não teria a maior nota na maior parte dos quesitos, mas teria notas altas em todos, e poderia ser a campeã. Mas isso não é exatamente empolgante. Não justifica a idolatria que coloca Elis muitíssimo acima de todas as cantoras que já viveram neste país, que é como a maioria a vê.
Suponho que ela tenha sido a cantora certa no lugar certo na hora certa. Nos anos 60, quando pegava fogo o debate sobre "música nacional" x "música cosmopolita", Elis atropelava a distinção, cantando excepcionalmente bem coisas dos dois grupos. As gravações que sobreviveram do programa "Fino da Bossa" são particularmente reveladoras. Mostram uma certa intenção de cantar o repertório "nacional", mas na prática sem nenhuma amarra. Nessas gravações absolutamente espetaculares, Elis atinge (não sei em que medida de forma intencional) um ponto que posteriormente os tropicalistas alardeariam ter inventado. Cantava música nacional de forma cosmopolita. Uma maravilha completa. Com isso, ela tocou os corações e mentes de todos. Para uns, provava que o nacionalismo não precisava ser tacanho, e para outros mostrava que era possível ser brasileira e cosmopolita rigorosamente ao mesmo tempo.
E se ela se perdeu na década de 70, voltaria a se encontrar, ao se tornar a grande voz daquele momento em que a ditadura perdia força e finalmente o país começava a respirar ar puro novamente. Suas grandes gravações de autores como Milton Nascimento, Gilberto Gil e João Bosco/Aldir Blanc a transformaram em um poderosíssimo símbolo daquele momento histórico.
Eu gosto muito dessas duas fases dela, e pra mim a Elis que fica é essa. Mas o que realmente me parece fora de qualquer parâmetro de comparação é sua gravação de "Como Nossos Pais", de Belchior. Uma interpretação absolutamente fenomenal, que transformou uma canção interessante num clássico da música brasileira. Cada vez que ouço essa gravação é como se alguém arrancasse minha pele inteira. Incomparável.








3 comentários:

  1. Não gosto de MPB, mas ão tem como não reverenciar essa versão de Como Nossos Pais.

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  2. temos muitas DIVAS, e confesso que elis não está no topo! na minha lista claro afinal é minha,e confesso que não curto elis regina..e adoro MPB,claro que jamais vou negar o que seja o furacão elis..li o livro hehe em 92 quando mendiguei por São Paulo,enfim elis não curto mesmo, já comprei alguns cd ,algumas coletaneas um ao vivo gravado no em 79 no anhembi-SP,nesse tem uma música chamda Moda de sangue, (Jeronimo Jardim e Ivaldo Roque)linda! Mais para resumo da óPERA prefiro Clara Nunes a Elis, pREfiro Maria Bethânia sete mil vezes(caetano veloso)a Elis, prefiro DALVA DE OLIVEIRA sete vezes sete mil vezeS a Elis, porém isso não dimuniu o que tenha sido elis regina ou o que seja.fato é fato! porém mais uma vez eu não curto !!!

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