domingo, 23 de outubro de 2011

A vitória de Cristina Kirchner e o amanhã




Escrevo no momento em que os argentinos estão votando, mas a reeleição de Cristina Fernandez de Kirchner é dada publicamente como certa mesmo pelos seus maiores inimigos. Há muito o que comemorar nisso: o kirchnerismo é uma versão argentina do lulismo (ou seja, tem peculiaridades, mas ocupa o mesmo espaço), enquanto as opções que se construíram eram profundamente lamentáveis. Esse sim é o grande problema sobre o qual eu gostaria de dizer algumas palavras.
(Antes um parêntesis. Nossa mídia trata a presidenta da argentina como uma ditadora populista. Mas isso é de esperar, já que ela vê o lulismo exatamente da mesma forma. Assim como voce nao acredita no que a Veja e a Folha dizem sobre nosso governo, não tem porque não dar o mesmíssimo desconto ao que dizem sobre o kirchnerismo, geralmente copiando idéias do seus equivalentes portenhos, como Clarín e La Nación).
O grande problema é o seguinte. Você acha que a política brasileira é demasiado personalista, onde os nomes estão acima dos projetos? Sim, voce tem razão. Mas pense que na Argentina isso é 100 vezes pior. Lá não existem projetos, apenas nomes. Claro que vários desses nomes têm projetos. Mas são projetos que se esgotam neles mesmos. Não têm vida independente deles. Ou seja, posso me referir a um lulo-petismo. Mas lá é só kirchnerismo mesmo.
E que dizer da oposição? O peronismo não-kirchnerista lançou dois nomes. Alberto Rodriguez Sáa encarnou um tiozinho simpático e folclórico ao estilo Plínio Sampaio, apresentando como projeto fazer pela Argentina o que fez por São Luís, sua província natal. O que ele fez por São Luis? Ninguém sabe muito bem, já que a província é virtualmente irrelevante (mal comparando, uma santa catarina sem litoral).
O outro nome peronista foi o abominável ex-presidente Eduardo Duhalde. Se você não lembra, foi o que chegou à presidência em 2002 jurando que não iria desvalorizar o peso, e fez isso alguns dias após assumir. Na Argentina é tido de forma generalizada como um Capo do tráfico internacional de drogas. Muitos se referem a ele como "narcoperonista". Precisa dizer mais?
A oposição não peronista tampouco se saiu bem. Elisa Carrió desta vez naufragou clamorosamente com seu discurso histérico e moralista. Os radicais, que poderiam, com sua história centenária, apresentar um discurso alternativo ao kirchnerismo, se saiu com um patético Ricardo Alfonsín, que nada mais fez que envergonhar seu sobrenome ilustre com uma campanha lamentável. O trostskismo conseguiu uma notável vitória ao conseguir fazer Jorge Altamira superar a barreira das prévias, mas evidentemente não é uma alternativa eleitoralmente viável.
A novidade que apareceu de fato foi Hermes Binner, ex-governador socialista da província de Santa Fé (não se assustem, ele é tão socialista quanto o PSB). Pouquíssimo conhecido no país até o início da campanha, Binner não propôs nada muito diferente, mas conseguiu canalizar o descontentamento generalizado com as lamentáveis candidaturas de oposição, capturou muitos votos anti-kirchneristas, chegou ao segundo lugar (ainda que uns 30 pontos atrás de Cristina) e se viabilizou como postulante ao papel de líder oposicionista no próximo quadriênio e, talvez, candidato viável à sucessão.
Perceberam o grande problema nisso tudo? São apenas nomes. Tudo é pessoal. Não há projetos. Bem ou mal, o Brasil tem um núcleo duro formado por dois projetos distintos que se alternam no poder (o demo-tucano e o lulo-petista). Nisso há muita coisa pessoal, mas há projetos discerníveis. Os argentinos não tem algo assim. Só existem os nomes, cada um defendendo suas idéias e contando com seus seguidores. E quando os nomes incluem certas figuras lamentáveis que estiveram nessa eleição, aí a coisa fica ruim de verdade.

3 comentários:

  1. Troca a imagem por uma menor. Sobre o resultado, já era previsto desde as primárias, e basta apenas parabenizar Cristina e Altamira pelo resultado obtido.

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  2. Dãããã, isso eu sei, mas como eu tiro essa?

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  3. Não faço idéia. Mas essa foto dela que vc colocou agora ficou divina.

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