domingo, 30 de outubro de 2011

Abaixo a democracia e o livre pensamento na universidade!


O título do post poderia ser o de um artigo publicado recentemente pela Folha de São Paulo (link ao fim). Basicamente o texto dizia ser um absurdo que a Revista do Instituto de Estudos Avançados da USP usar dinheiro público para elogiar a ditadura cubana. Não li a revista, e não posso opinar sobre esse caso em especial. Mas se pode perfeitamente ver algo muito simples: essas pessoas não querem que a universidade possa se expressar livremente.
Para começar, esses veículos da grande mídia sempre receberam dinheiro público na forma de publicidade estatal, e usaram esse dinheiro para enriquecer elogiando a ditadura brasileira (a começar pela própria Folha). Mas tudo bem, vamos fingir que a gente não lembra disso.
No Brasil (e na maior parte do mundo) não existe pesquisa acadêmica sem dinheiro público. Fiz graduação, mestrado e doutorado em uma estadual paulista. Tive bolsa de iniciação científica e mestrado do governo federal, e de doutorado do governo paulista. Construí minha dissertação, tese, livro e artigos baseado em pesquisa em arquivos e bibliotecas públicas. Leciono numa universidade federal, e meus orientandos têm bolsas do governo. É assim que funciona.
O que significa basicamente o seguinte: tudo o que é dito no mundo acadêmico brasileiro, é feito com dinheiro público. Os acadêmicos de direita são financiados pelos cofres do Estado, assim como os de esquerda, de centro e o que mais você quiser. Há dinheiro público financiando discursos com as tendências que você quiser. E não há como ser diferente.
Em suma, há dinheiro público bancando pesquisas que concluem que a melhor coisa é o Estado não se meter (ou seja, liberais); outros dizem que políticas de bem-estar social aperfeiçoam o capitalismo (ou seja, social-democratas); e outras que defendem o socialismo, ou o que quer que seja. Não é uma beleza? O dinheiro público permite essa pluralidade. Que por sinal não existe no mundo da mídia. Eles querem que a universidade repita o pensamento único deles. Ou seja, é absurdo que o Estado sustente uma revista que defende o socialismo, mas outra que defenda o que eles pensam está tudo bem. Liberdade de expressão nos olhos dos outros é refresco, né?
Os jornalistas em questão escreveram um texto que parece baseado em princípios democráticos, mas basicamente é um discurso ditatorial. Quer proibir que pessoas produzam discursos de esquerda. Quer que a pesquisa acadêmica seja orientada pelos princípios políticos que eles defendem. Uma revista defendendo o liberalismo pode. Uma revista defendendo o regime cubano não pode. Se isso não é autoritarismo e censura política, me digam por favor o que é.

Um comentário:

  1. Como você disse, no olho dos outros é refresco. Lembro que a Veja fez uma capa questionando se o Obama era Comunista, durante o período mais agudo da crise, isso mostra como esses caras pensam.

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