quarta-feira, 26 de outubro de 2011

Vingança não é a solução


Tenho certeza que voce se deparou com imagens como essa acima nos últimos dias. É impossível fugir dela. Há até um vídeo mostrando os últimos momentos de Gaddafi. Muita gente se deleita com isso. Dizem que ele mereceu. Acham que quem não diz "bem feito, se lascou, babaca" é porque aprova a ditadura do indivíduo em questão. É uma abordagem. Mas há outra, adotada em um evento muito mais importante que esse, acontecido ontem, mas que não terá o mesmo impacto global.
Na Argentina 18 assassinos ligados à ditadura que assolou o país vizinho entre 1976 e 1983 foram julgados. 12 receberam prisão perpétua. Outros 4 levaram penas de 20 a 25 anos. Dois foram absolvidos, mas não podem comemorar, pois estão presos devidos a outras acusações. Um deles, Alfredo Astiz, é o responsável por uma lista tão absurda de barbaridades que faria Gaddafi se horrorizar. Posso contar uma história dele, só pra ilustrar?
Como você deve saber, em 1977 um grupo de mulheres sem militância política se reuniu na Plaza de Mayo, em frente à Casa Rosada, para perguntar onde estavam o corpo de seus filhos. Não queriam política. Queriam apenas enterrá-los. Nem foram recebidos pelo presidente Videla, e ficaram lá, esperando. Era o embrião das Madres (e depois Abuelas) da Plaza de Mayo. Os militares não gostaram. E mandaram Astiz resolver o problema.
O jovem militar se infiltrou entre as madres. As mulheres se encantaram, enternecidas por aquele jovem que dizia estar lá querendo saber de seus pais desaparecidos. Se referiam a ele como "anjo loiro". Até o dia em que Astiz apareceu na Igreja de Santa Cruz, onde as líderes se encontravam. Abraçou uma a uma, assim como as monjas francesas que as acompanhavam e alguns ativistas de direitos humanos. Era o "abraço da morte", um sinal combinado com os militares que estavam por perto. Todos os que foram abraçados seriam sequestrados clandestinamente em seguida. Nunca mais foram vistos.
Há algo dentro de mim que me faz querer fazer com esse indíviduo e outros como ele o que fizeram com o kaddafi. É impossível censurar quem queira fazer isso. Mas vamos comparar: o que é melhor, justiçar alguém, ou garantir todos os seus direitos de defesa e julgá-lo como pessoas civilizadas devem fazer?
Tenho certeza que hoje nenhum argentino que tenha coração (seja por que corrente política esse coração bata) tem a menor dúvida. Esses milhões de argentinos hoje andam pelas ruas orgulhosos de viver em um país que fez justiça de verdade. Nada de olho por olho, dente por dente. Justiça de verdade. Nada de fazer com os assassinos o mesmo que se lamenta que eles tenham feito com os outros.
Astiz teve o que merecia. Às vésperas de completar 60 anos de idade foi condenado à prisão perpétua, vendo todo o seu país comemorar sua desgraça. Isso é infinitamente pior que a morte. Isso é justiça. É o que kaddafi merecia.

Um comentário:

  1. Concordo.Como você disse, todos nós em algum momento queria trucidar um Pinochet, um Hitler, um Stalin, um Videla, Massera e Astiz.

    Mas como disse no tweeter, a vingança só nos iguala aos citados.

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