quinta-feira, 2 de agosto de 2012

Professores universitários: os marajás


Me impressionou muito a maneira pela qual grande parte da população, incluindo muitos alunos, se prontificou a aceitar tão passivamente a tese de que a greve dos professores das federais "prejudica os alunos". Até deletei alguns alunos do meu facebook para não ler mais coisas tipo "e aí, os professores estão de férias ainda?".
Claro que isso tem a ver em parte com um triste fato. Somos um povo que não se preocupa com a qualidade da educação. A ditadura dos números na educação, que FHC criou e Lula piorou só aumentou essa tendência. Logo, achar que o que importa é ter o diploma, e dane-se em que condições é algo plenamente coerente.
Mas evidentemente isso também tem a ver com a péssima imagem que temos. Na opinião geral, somos pessoas que ganhamos fortunas para fazer pesquisas inúteis, que não dão nenhum retorno à sociedade e ainda nos damos ao luxo de gastar tempo em guerrinhas de ego. Essa percepção inclui muitos dos meus alunos, por sinal.
A parte dos salários é curiosa. Não vou dizer aqui quanto ganho, mas posso dizer uma coisa. Tenho graduação, mestrado e doutorado na Unicamp. Minha formação universitária levou 11 anos. E ganho menos que todos os meus amigos que fizeram apenas graduação em outra área. Se levarmos a questão para o mundo do funcionalismo federal então, aí é covardia. Pegue um edital qualquer para professor de federal e compare o salário inicial com qualquer outro que exija apenas graduação em outra área. Você ficará chocado.
A parte da "pesquisa inútil" é outra leviandade. Como pode um leigo querer saber qual pesquisa de ponta é útil ou não (nem vamos falar do tópico complicadíssimo que é definir o que é "útil")? Pra falar a verdade, mesmo na área de história há temas inteiros que eu mesmo não estou habilitado para avaliar se uma pesquisa e relevante ou não. Como uma pessoa que sequer pertence ao meio acadêmico pode achar que está em condições de fazer isso?
"Não trazemos retorno à sociedade": como se pode saber se uma pesquisa que ainda nem foi concluída vai ou não trazer retorno? De toda forma, nossa função primordial não é elaborar produtos prontos para o consumo (ainda que possa acontecer). Pode ter certeza: sua vida cotidiana está entupida de coisas utilíssimas que só existem porque foram feitas pesquisas de ponta, cujos resultados foram publicados em revistas acadêmicas em artigos incompreensíveis para um leigo. A partir daí esses produtos aparentemente inacessíveis foram utilizados para revolucionar a sua vida. E pense uma coisa: quando Einstein elaborou a teoria da relatividade ele a publicou em um jornal popular ou em uma revista acadêmica consumida apenas por especialistas? Isso quer dizer que ele fez algo que só influencia a vida de meia duzia de físicos?
Agora a complicada questão do ego. Sim, tenho colegas egomaníacos, os famosos "PhDeuses". Vários deles não toleram críticas, se vingam de forma assassina em quem os contraria no mínimo detalhe e protege seus pupilos em um nível que extrapola qualquer limite ético. Tudo verdade.
Mas diga aí: em que isso nos diferencia de outras carreiras? Somos uma ilha em um universo ético, formado por pessoas humildes? Então pelo que entendo médicos são todos pessoas nobres dispostas a salvar a humanidade sem receber nada em troca, advogados são todos humildes paladinos da justiça, e assim por diante?
Sinceramente, não vejo em que possamos ser diferentes de outras carreiras. Como qualquer categoria sócio-profissional, temos profissionais bons e ruins, sérios e enganadores. E acima de tudo, somos pessoas que tentamos fazer nosso trabalho. Recebendo menos que profissionais que estudaram muito menos que nós. E vendo a sociedade (e principalmente o governo) esquecer algo óbvio: TODOS os profissionais qualificados do país passam por nós. É, falar que nosso trabalho é inútil realmente é muito inteligente.

2 comentários:

  1. A parte os capítulos comentários sobre a greve dos professores universitários, esses cabras bilionários que não tem o que fazer e se divertem torturando pobres alunos indefesos...

    Passando para avisar que publiquei em meu blog aquele seu texto: "Luiz Gonzaga, um grande de seu tempo." Lembra que te pedi isso e você liberou a trocentos anos atrás?!?!? Bem, eu não tenho mais face para provar, mas bem, sou cristã e não vivo mentindo, não me processe por plagio eu coloquei os créditos!!!

    Cheros Tiago, e obrigada \o/

    ResponderExcluir
  2. Bom, agora os os professores universitários devem entender muito bem o drama dos professores que aderiram à greve na educação básica. Até de safados e preguiçosos esse professores foram chamados, pq a população acreditou que os professores estavam recebendo salário pra "ficar em casa de perna pro ar, enquanto os pais tinham que se virar pra cuidar dos filhos mesmo tendo que ir trabalhar"... pq a escola é depósito de criança, né?! Creche... só essa a função que os pais veem nas escolas hj em dia. Não estão nem aí para o que é "ensinado" para seus filhos nessas escolas... eles só não querem é cuidar dos próprios filhos.

    Esse discursinho "greve prejudica o aluno" me mata de ódio. Se esses alunos cabeças ocas (não encontro outro termo) fossem inteligentes estariam de braços dados com o professorado, inclusive os da área de educação, especialmente esses. Aliás, muito me admira, esses estudantes universitários com esse discursinho idiota... esse deviam ser os mais PUTOS com a péssima qualidade da educação no Brasil, eles é que deveriam estar parando esse país e exigindo melhorias.

    ResponderExcluir