quarta-feira, 8 de agosto de 2012

Agonia Olímpica


Em alguns dias termina a Olimpíada. A nona que acompanho. E pela nona vez vejo o país sair com o gosto amargo de "deveríamos ter ido melhor". Natural. Países mais pobres e/ou muito menos populosos que o nosso se saem muito melhor. É obsceno mesmo.
Para alguns a resposta é simples. Nossos atletas "amarelaram". A esses eu nem respondo. É gente que só vê esportes olímpicos a cada 4 anos. Gente que achava que a Maureen Maggi tinha obrigação de ganhar outro ouro depois de um ciclo tão complicado. A eles digo apenas uma coisa: antes de chamar de "fracassado" quem é o 5o do mundo, tente ser o 1.000.000o do mundo em qualquer coisa. Qualquer uma.
Existe uma outra abordagem, a de culpar nossos dirigentes. Aquela velha ideia: um país com tanto potencial só não vai mais longe pela falta de apoio aos atletas, etc. Essa me agrada bem mais que a anterior. Mas acho que ainda deixa muita coisa de fora.
A primeira: qualquer país que tenha um projeto esportivo minimamente sério tem nas aulas de educação física das escolas um grande aliado. Mas estamos no Brasil, aquele país que não leva a educação minimamente a sério. Então isso não acontece.
Posso falar por mim. Nunca seria um Usain Bolt ou um Michael Phelps, mas eu bem que tinha potencial para o esporte. Era bom em todos os esportes que pratiquei. Mas em mais de 10 anos de vida escolar nunca um professor de educação física me disse (ou a qualquer colega): "voce tem potencial, que tal tentar levar a sério tal esporte?";
Sem falar no seguinte. Judô e natação foram dois esportes em que eu tinha muito talento. Mas só descobri isso porque meus pais me matricularam em academias para fazer esses esportes. Descobri isso sozinho. Mas mesmo sendo elogiado pelos meus mestres e tendo quilos de medalhas em competições dessas modalidades, meus professores nunca tentaram me encaminhar para nada.
Na universidade fui do time de futebol do IFCH, campeão das Olimpíadas da Unicamp em 1993. Também era goleiro da seleção de handebol do instituto que chegou duas vezes às semifinais da mesma competição. Peguei seis pênaltis num jogo até. Fazia o diabo, era cumprimentado por todos. Pensa que algum recrutador ou olheiro estava vendo? Nunca. Joguei contra times espetaculares dos cursos de medicina e engenharia de alimentos. Vi caras que facilmente poderiam jogar na seleção brasileira. Se chegaram lá, não foi porque alguém os viu ali. Certamente foi pelo esforço próprio.
Baseado no que contei, me diga uma coisa. Campinas é uma cidade enorme, próxima à gigantesca São Paulo. Como seria possível que centenas e centenas de universitários praticassem todo tipo de esporte num lugar desses sem ninguém lá para ver se pescava um talento em potencial? Num país que se lixa para esporte.
Mas vamos mais longe. Não neguemos nossa própria responsabilidade. Bem ou mal, temos canais de TV a cabo que passam todo tipo de modalidade olímpica. Alguém assiste? Nunca. Se assistissem eles passariam muito mais. Não passam porque somos um maldito povo que se lixa para esporte, mas quando chegam as Olimpíadas queremos uma chuva de medalhas de ouro. Temos nossa responsabilidade também. Se ligássemos um pouco para esses esportes, eles seriam transmitidos com frequencia, os atletas teriam mais patrocinio, e a coisa seria outra.
No fim me parece que o problema do nosso esporte é o mesmo da nossa educação. Todo mundo quer resultados maravilhosos, mas ninguém quer lutar por qualidade, ninguém quer acompanhar o dia a dia. Aí não dá, né?

Um comentário:

  1. Se tem uma coisa que está faltando na escola fundamental e média do Brasil é filosofia, os professores tem encarado suas próprias matérias sem está que faz a graça.

    Os próprios professores não tem matérias de filosofia na formação acadêmica, daí a educação física, o esporte, fica sem porque e pra que, como se fosse só um meio de ficar famoso e ganhar grana.

    A grande maioria dos professores de educação física que conheço, transformaram ou aceitaram suas matérias como a hora do recreio, então os alunos do colégio que leciono não sabem as regras mais simples do futsal, como a saída de bola após o início da partida, a platéia não pensa duas vezes antes de mandar a bola pra dentro da quadra mesmo quando a partida está em andamento. Táticas, desenvolvimento, aquecimento, esquece, só o goleiro sabe em que posição joga.

    Esse é um exemplo que acredito se repetir por léguas brasileiras, os professores largados e largando, os alunos se fudendo de peito vazio diante do hino nacional.

    Mas apesar de tudo, na hora do gol, na bola na trave, no penalte, é sempre uma emoção!

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