segunda-feira, 6 de agosto de 2012

Não curto eleições para prefeito


Não me entendam mal: eu ADORO votar. Tive a felicidade de crescer em uma família politizada em uma cidade (naquela época) muito politizada. Bem antes de poder votar eu já militava, e tive a imensa sorte de ser da primeira leva de brasileiros que pôde votar antes dos 18. Assim, a 8 dias de completar 17 anos, eu votei pela primeira vez. E também perdi pela primeira vez. Tudo bem. O legal é participar. E sei de cor todos os meus votos, desde aquele em Leonel Brizola para presidente em 1989 até o Lula no 2o turno de 2006.
Mas não gosto de eleição para prefeito. Um pouco é uma mistura de azar com circunstâncias especiais. Em 1992, primeira vez que votei nessa eleição, eu já estudava em Campinas mas tinha título ainda em Volta Redonda. Não deu muito tesão escolher os destinos de uma cidade onde eu já não morava mais. Em 1996 e 2000 votei em Jacó Bittar no 1o turno e tive de encarar 2os turnos entre dois candidatos pavorosos. Na última acabei votando em branco pela primeira e única vez na vida.
Em 2004 e 2008 não votei, pela incrível coincidência de ter mudado de estado nas duas vezes em um momento em que não dava mais tempo de transferir o título (antes de me censurar imagine viajar 800 ou 2 mil km para votar). Ou seja, não sei o que é votar para prefeito desde 2000. Mas sinceramente, não estou com muita saudade.
A grande questão é que não vejo nenhum partido com uma visão de como melhorar o nível de vida sufocante de nossas cidades. Nos anos 1990 parecia que o PT tinha conseguido de fato cuidar bem das cidades que administrava. A questão é que depois de 2002 a realpolitik de Lula e Zé Dirceu fez o partido se aliar com todos os que querem manter tudo como está, inclusive em muitas ocasiões cedendo a cabeça de chapa para eles.
Mas atenção: você não está lendo aqui uma versão do "político (ou partido) é tudo igual". Não é. Como qualquer um pode perceber, PT e PSDB claramente defendem coisas diferentes. Mas a questão é que essa grande diferença ainda não se traduziu em projetos concretos que visem transformar as cidades brasileiras em algo minimamente suportável. Há iniciativas pontuais, mas não uma concepção global que tente de fato mudar algo.
Isso não acontece à tôa. A questão é que PT e PSDB só pensam em uma coisa: ganhar a eleição para presidente. Para eles, eleições em todos os outros cargos são apenas formas de garantir apoios para a eleição para presidente. Seja elegendo gente do próprio partido, seja trocando apoios. Aí chega-se a essa situação, na qual os grandes partidos hegemônicos, mesmo com quadros intelectuais e acadêmicos muito relevantes, não tem nenhum projeto para nossas cidades.
Um exemplo disso é José Serra. Já se elegeu prefeito de São Paulo uma vez, sem nenhuma pretensão de governar a cidade, vendo o cargo apenas como trampolim para se candidatar a presidente. Governou a cidade por 15 meses, sem se preocupar com o cargo, e deixou a cidade nas mãos do lamentável Kassab. Agora se candidata de novo, jurando que cumpre o mandato até o fim. Sabendo-se que é obcecado pela presidência, alguém pode garantir que ele vai esperar até 2018, quando teria 76 anos, para tentar mais uma vez?
Veja: por mais que eu tenha antipatia extrema ao Serra, nesse caso o cito apenas como exemplo óbvio de algo que é muito mais geral. Um país que tem cidades insuportáveis, com qualidade de vida desprezível e problemas urbanos evidentes, mas que não possui um maldito cidadão que ache importante melhorar essas questões. E era pra eu gostar de votar nessas eleições?

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