domingo, 5 de agosto de 2012

Ser historiador


Há 14 anos eu andava pelas ruas de Campinas ensandecido ouvindo essa música ao lado da minha ex-mulher. Comemorando a vitória de Mário Covas nas eleições para governador em 1998.
Não sou tucano, nem nunca fui. Não sou mais casado com ela há mais de 8 anos. Nunca gostei muito de música francesa. Ou seja, uma repetição dessa cena é impossível.
Mas pensa que eu me arrependo? Nem um pouco. Sabe por que? Havia um contexto.
Eu estava estudando francês para a prova do doutorado, amava essa pessoa e a vitória do Covas impediu o Maluf de se qualificar como favorito para as eleições presidenciais de 2002.
O que estou tentando dizer é o seguinte. Um historiador decente tem de saber que as coisas ocorrem num determinado contexto. Essa coisa de dizer "fulano é malvado" ou "sicrano é ótimo" fica muito bem num filme hollywoodiano ou num livro escrito por um jornalista. Mas para a gente não dá.
Hitler maluco, Stalin carniceiro, Gandhi santo. Tudo isso pode ficar muito bem na tela do cinema. Mas essas pessoas viveram em um contexto concreto, e desenrolaram suas vidas em sociedades complexas. Bons ou maus, feios ou bonitos, eles viveram de forma multifacetada suas vidas. Nem poderia ser diferente. Nenhum de nós, com nossas vidas irrelevantes, tem uma trajetória unidimensional. Imagine essas pessoas, que foram protagonistas de seu tempo.
O bom da história é que ela nos distancia do papel de juízes do passado. Prefiro mil vezes esse papel de analista que o de juiz. O analista assume que precisa compreender melhor o contexto do qual fala. O juiz está cheio de certezas, que só atrapalham a visão.

2 comentários:

  1. Pois é, você é um historiador, é uma boa profissão, o juiz com certeza é melhor remunerado, mas ainda assim... Não deve ser ruim ser historiador!!!

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  2. OK, é isso mesmo!

    Mas contextualizar, para uma galera que mal consegue ler direito o que está debaixo do nariz, está cada vez mais difícil.

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