sábado, 18 de agosto de 2012

Guia para uma eleição proporcional

O leitor deste blog sabe muito bem que o 171nalata tem uma tendencia opinativa. Mas se for possível, gostaria de abrir uma exceção e fazer um post com um tom um pouco professoral.
É que além de prefeitos, escolheremos também vereadores nesta eleição. Ou seja, teremos uma eleição proporcional, do mesmo tipo que elege deputados federais e estaduais. E o sistema que adotamos é frequentemente muito mal entendido.
Na verdade o que não se percebe é que o sistema proporcional nada mais é do que uma variante do voto de lista. Que é aquele sistema em que cada partido ou agrupamento apresenta uma lista, e nós votamos naquela que gostamos mais. E no fim cada lista elege representantes proporcionalmente aos votos que teve.
Digamos que uma lista qualquer teve 30% dos votos, e que isso significa colocar oito representantes lá. A lista em questão fornecerá oito parlamentares. Quem serão eles? Os oito primeiros da lista. Quem ordenou a lista decidindo quem serão os primeiros? A cúpula partidária.
O nosso voto é assim. Mas tem uma variação: no exemplo hipotético, os oito primeiros não são os que os políticos definiram, mas os oito mais votados pelo eleitorado. Em outras palavras, funciona assim. Quando votamos, na verdade fazemos dois votos em um. Para começar escolhemos a lista que preferimos. Em seguida escolhemos o nome que gostaríamos que fosse eleito naquela lista.
Dito de outra forma. Quando votamos no candidato x da chapa y estamos fazendo duas coisas ao mesmo tempo. Estamos dizendo em primeiro lugar "quero ser representado por pessoas da lista y". Em segundo: "e na lista y quero que o candidato x seja meu representante".
Então é mais importante escolher a lista do que o candidato que está nela? Sim, exatamente. Se você quer votar bem, não comece escolhendo um candidato. Comece analisando as listas. Pois seu voto pode parecer ser dirigido a um candidato, mas não é. Você está escolhendo uma lista, e apenas secundariamente ajudando seu candidato a se posicionar melhor naquela lista.
Se vai votar para vereador ou deputado federal/estadual, faça o seguinte. Não pense em nomes. Olhe a lista da candidatos que cada um oferece. Pois você está votando naquela chapa como um todo. Aí, tendo escolhido a lista que mais te agrada, veja quem é o nome que voce mais gosta entre os que são oferecidos. Esse é seu candidato.
Pois imagine o contrário. Pense que tem um candidato que você gosta numa lista que você detesta. Se você votar nesse cara e ele não ganhar, você terá ajudado a eleger gente que não te agrada. Faça o oposto. Escolha uma boa lista e vote no nome que mais te agrada nela. Se ele não se eleger, alguém daquela lista estará eleito, e você se sentirá representado.
Logo: quando você vota no médico gente boa ou no amigo que faz um bom churrasco, na verdade você não está votando apenas neles. Essencialmente você está endossando uma lista que nem conhece. Não faça isso. Analise bem todos os que estão na lista do seu candidato. Sob pena de eleger alguém que você odeia sem nem se dar conta disso.

2 comentários:

  1. pois é Tiago, por essas e outras que sou contra esse sistema ....
    não vejo muita democracia nisso ... infelizmente !

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  2. Tiago,
    Este post é um serviço e deveria ser repetido a cada eleição pois muuuuita gente não entende este mecanismo da "lista aberta" pela qual elegemos nossos proporcionais.
    Sugiro apenas acrescentar uma reflexão histórica, processual ao caso:
    A lista aberta surgiu no sistema eleitoral brasileiro para possibilitar a representação das minorias!
    Com o sistema de "lista fechada" quem define a ordem da lista é a direção partidária. Imagina o Eduardo, o Jarbas, o Guerra... escolhendo os primeiros da lista, a serem eleitos. Quem seriam estes!?
    Com o sistema de "lista aberta" é possível que um candidato que não se articula com as lideranças partidárias, mas que tem envolvimento com as bases, seja colocado na frente na lista. E o inverso é verdadeiro, lideranças da máquina partidária - aquele tesoureiro que ficam dentro do aparelho - não tem a menor chance de serem eleitos em listas abertas.
    O curioso no cenário atual - e apenas a desinformação explica isso - é que os partidos que representam as minorias do pensamento de esquerda não entendam esse aspecto 'democrático' do sistema, esta janela para a representação e não elegem candidatos com 13 mil votos por que não compõem para fazer coeficiente. Por outro lado as minorias evangélicas e conservadoras elegem candidatos com 3 mil votos porque estudaram o sistema eleitoral brasileiro.
    É a doença infantil.

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