quinta-feira, 23 de agosto de 2012

O país que se orgulha da desigualdade

Li que a ONU soltou o resultado de um estudo profundo sobre as cidades latino-americanas. O resultado é que o Brasil tem o dobro de pobreza urbana que Uruguai, Argentina e Chile, nessa ordem os 3 melhores colocados. Perdemos feio em distribuição de renda para Uruguai e Venezuela, os primeiros colocados. Antes a Unesco já havia nos apontado como o país latino-americano com os piores indicadores educacionais.
Isso serve para muitas coisas. Primeiramente, é um soco na cara dos que retratam os governantes desses países como demagogos de tons autoritários que gerenciam pessimamente a economia nacional graças às suas medidas econômicas "heterodoxas" (leia-se "não liberais"). Essa gente, que a imprensa adora ouvir, parece não se importar muito com esse tipo de coisa. Mas alguém com um mínimo de criticidade deveria estar atento a isso. Note que não necessariamente defendo esses governos, apenas digo que é preciso tomar cuidado com certas avaliações muito apressadas e de acentuado viés ideológico.
Segundo: é preciso tomar cuidado também com o triunfalismo dos que acreditam que o Brasil passou por uma revolução e é um país rico. Desenvolvimento é ótimo, inflação controlada também. Mas o país é o mesmo de sempre, só que melhor. Continuamos sendo um país extremamente desigual, e onde os mais pobres (que infelizmente são muitos) vivem em situação de extrema vulnerabilidade. Como qualquer um sabe, crescimento é uma parte da solução, mas se não vier acompanhado de uma distribuição mais justa, isso ajuda pouco.
Em tempo, isso não é uma crítica dirigida especificamente a este governo. Não é em 10 ou 15 anos que se muda um quadro desses, que na verdade é uma característica que ostentamos há décadas. A crítica é aos governistas mais ingênuos que acreditam que os 10 anos de governo petista mudaram essa realidade, algo que é desmentido por qualquer pesquisa minimamente séria. Nenhum governo conseguiria isso, mesmo que tentasse (o que não me parece ser o caso).
Mas o pior de tudo é o fato de termos interiorizado que tudo isso é extremamente normal. Adoramos fingir que o real problema do Brasil é ser um país pobre, e que quando resolvermos isso, a pobreza, a desigualdade e o péssimo sistema educacional desaparecerão por encanto. O que essa pesquisa mostra é que isso não é verdade. Por mais que tenhamos nos desenvolvido e possamos ostentar uma economia muito maior que a desses países vizinhos, continuamos a ser surrados por eles nos indicadores sociais.
E aí chegamos a esse resultado. Um país em que os mais abastados preferem pagar muito caro por coisas como I-phones, TV a cabo, tablets e carros que lá fora são tidos como comuns, só para que outros não o tenham. Se orgulhar de pagar preços exorbitantes para excluir a massa do consumo como forma de atingir uma distinção social. Taí a marca de um país onde a pobreza e a desigualdade se transformaram em algo visto como parte natural da vida.


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