sexta-feira, 17 de agosto de 2012

Brasileiro não sabe votar?

Sempre me senti muito incomodado com essa ideia que temos de que somos um povo ignorante que só elege políticos ruins. Sempre houve algo que me incomodou nisso, sem que eu entendesse bem o que. Aí um dia escutei o Mário Covas dizendo algo tipo "o povo não vota mal, ele vota a partir dos candidatos que tem e das informações que recebe". Bingo. Era isso mesmo.
A questão da informação é óbvia demais para ser discutida. Somos um país que perde de forma avassaladora nos quesitos educação, informação e politização para outros mais pobres que o nosso, basta dar uma olhada na nossa vizinhança. Escolhemos isso, e reafirmamos essa escolha diariamente. E não é questão de grau de instrução. Conheço gente demais com muitos anos de educação formal que é totalmente mal informado sobre o que se passa no país.
Mas acho que realmente não damos a atenção merecida a uma coisa: as opções que são oferecidas ao eleitor. Como qualquer pessoa sensata, essa semana fiquei assustado ao constatar que existe uma possibilidade muito concreta de que o Celso Russomano seja prefeito de São Paulo. Uma pobre cidade repleta de problemas urbanos, e que sofreu com inúmeras administrações calamitosas nos últimos 30 anos, e vive um pesadelo que parece longe de acabar.
Um caminho adotado por muitos é o clássico "brasileiro é ignorante" (como se quem falasse fosse um dinamarquês que nasceu aqui por engano). Ou, num viés mais bairrista, "paulista/paulistano gosta de porcaria". Mas vamos pensar numa coisa: quais as opções oferecidas ao eleitor?
Como já disse aqui e todo mundo sabe, José Serra não tem a menor vontade de ser prefeito de São Paulo. Só é candidato por dois motivos: o partido teme perder o controle da maior cidade do país e muitos querem  que ele se eleja para ficar constrangido a abandonar o posto e disputar novamente a presidência daqui a dois anos. Apesar de seu longo histórico e experiência, Serra não anda empolgando muita gente.
O PT oferece ao eleitor um nome completamente desconhecido, ao invés dos inúmeros nomes muito mais tradicionais do partido. Uma concepção de Lula: nomes como Marta ou Mercadante são demais associados ao PT e poderiam assustar o eleitor mais conservador. Nesse caso, um nome novo, basicamente associado à Lula, seria mais palatável. Em suma: na expressão "lulo-petismo", Haddad é mais "lulo" e menos "petismo", ao contrário dos outros.
Tudo isso porque Lula acha que é o momento ideal para que seu partido finalmente consiga uma vitória expressiva no estado em que nasceu, se desenvolveu, mas nunca governou, além de estar fora da prefeitura há oito anos. Até agora a estratégia foi um fracasso total. E nem poderia ser diferente. Numa eleição cheia de nomes conhecidos, só mesmo os petistas de carteirinha votariam num candidato assim. Ao menos até começar o horário eleitoral.
Aí temos os outros candidatos, que são tão patéticos que é melhor nem mencionar.
No fim, o que acontece é que o eleitor comum, não muito politizado ou totalmente alheio á política, fica perdido. Se coloque no lugar dele e você sentirá muita dificuldade. Aliás, eu que acompanho o máximo que posso já me sinto perdido. Entendo esse eleitor. Não votaria no Russomano, claro. Mas, num cenário tão desolador, não vejo muito como censurar nenhum tipo de voto.
Em tempo: falei de São Paulo por ser a maior cidade do país. Mas não conheço nenhuma outra em que as coisas sejam substancialmente diferentes do que se passa por lá.

Um comentário:

  1. É Tiago, concordo plenamente. Aqui em São Paulo está trágico escolher algum candidato minimamente interessante para votar, ou mesmo acompanhar com atenção... TA FODA!!!

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