domingo, 12 de agosto de 2012

Consequências do diploma obrigatório


Tenho vários amigos jornalistas, e convivo com muitos outros. Essa experiência me ensinou que jornalistas (ao menos os que têm alguma noção do mundo ao seu redor) são pessoas que se sentem despreparadas em termos de conteúdo, o que sempre os deixa com medo de publicar alguma besteira, principalmente quando se aventuram em temas que não aqueles que trabalham cotidianamente.
Assim, é óbvio que esse movimento pela obrigatoriedade do diploma nada tem que ver com a qualidade do jornalismo. Parece bem óbvio que a imprensa ganharia muito com a contribuição de outros profissionais em áreas mais especializadas. Por exemplo, cansei de ler tolices escritas por jornalistas sobre os temas em que milito profissionalmente (história e educação). Lógico: não tem formação ou prática na área. Como poderia ser diferente?
Claro que essa luta pela obrigatoriedade pelo diploma tem a ver com algo muito diferente: a deterioração da profissão. A convivência com muitos membros da classe me ensinou também que a grande maioria trabalha muito (mas muito mesmo) para ganhar pouco. Assim, pedir a obrigatoriedade do diploma é uma tentativa (muito compreensível, por sinal) de tentar ao menos salvar seu espaço de possíveis invasores.
Sou contra isso, assim como a regulamentação da profissão de historiador, que para mim tem os mesmos defeitos da questão dos jornalistas. Mas vá lá que as duas coisas aconteçam. Pra mim o grande problema é outro. A questão é que isso é o sintoma de um quadro mais amplo que é terrível.
No último meio século o capitalismo mudou muito, na prática transformando o desemprego em um elemento estrutural do sistema. Com isso, os trabalhadores (qualificados ou não) perderam todo o seu poder de barganha, já que cada um está preocupado demais em perder seu emprego para arriscar o pescoço numa greve. Esse é o fator principal do enorme declínio do sindicalismo em todo o mundo.
Quando uma carreira tão politizada, qualificada e bem informada acha melhor uma estratégia corporativa para salvar seus empregos do que lutar por uma melhoria nos salários e nas condições de trabalho, você vê claramente que chegamos a um ponto em que não há mais volta. Greve e demais estratégias de reivindicação deixaram de ser um direito dos trabalhadores, se transformando em um privilégio do funcionalismo público.
PS: acho que ficou claro que sou contra a obrigatoriedade do diploma, e na verdade esse nem era o tema central do post. Mas também não acho o fim do mundo que a medida seja adotada. Sabe o que não me desce de jeito nenhum? Que os mesmos jornalistas que querem que só possa exercer a profissão com diploma achem normal se meter na profissão dos outros. Para dar um exemplo na minha área: querem continuar escrevendo livros de história sem ter diploma na área, mas não querem que historiador escreva em jornal por não ter diploma na área. Pode?

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