Finalmente chegou a hora do julgamento dos réus do assim chamado "mensalão". O "julgamento do século" tem atraído muita atenção das pessoas. Todo dia escuto gente avaliando os votos dos juízes. Para alguns, todos os que votam pela absolvição de um réu que seja são coniventes com a corrupção. Para outros, qualquer voto pela condenação de alguém é "direitista".
Acho que podemos começar concordando com o seguinte: 99% das pessoas que emitem tais opiniões não tem a mais vaga ideia se as provas apresentadas comprovam ou não a culpa dos acusados. É uma coisa bem simples: quem é da oposição acha que todos são culpados e que esse é o governo mais corrupto da história; quem é governista acha que toda e qualquer acusação ao governo é parte de um plano da direita e da mídia para sabotar um governo que revolucionou o país.
Até aí não vejo nada errado. Política é assim mesmo. Esperar que muita gente consiga fugir desse maniqueísmo é pedir muito. O problema me parece ser outro: essas pessoas acham que a justiça é obrigada a tomar decisões baseado em critérios como esses. Aí a coisa fica feia.
Pois isso revela uma tremenda incompreensão do que seja o papel do Poder Judiciário. Veja: claro que não acredito na ficção de que esses juízes são "neutros", "imparciais" ou coisa que o valha. Todos tem convicções pessoais, quando não ligações políticas, que informam seus votos em qualquer julgamento. Não há como escapar disso. Basta lembrar que a partir do início dos anos 1980 a ideia de que era válido matar a esposa "por amor" deixou de ser aceita, sem que nenhuma lei tivesse mudado. Claro que isso refletia uma mudança política.
No entanto, a função desses juízes é decidir baseado nas provas apresentadas. Eu não entendo lhufas de direito nem estou acompanhando o julgamento. Mas pessoas que respeito e que tem seguido o processo afirmam que algumas acusações foram muito bem fundamentadas em provas, outras nem tanto e algumas outras simplesmente não tiveram comprovação.
Convenhamos que isso faz sentido. Inclusive porque provar corrupção é algo frequentemente muito difícil. Às vezes tudo sugere que houve enriquecimento ilícito, mas não dá para provar. Em outros casos a acusação simplesmente não faz sentido mesmo. Acontece. Deve ter tudo isso aí no meio de um julgamento de tantos acusados.
Se de fato foi assim, nada mais natural que alguns sejam condenados com rigor, outros peguem penas leves e outros sejam absolvidos. Normal. Não há motivo para que alguém espere outra coisa. O que não dá é para achar que acusação implica necessariamente em culpa comprovada ou que signifique absolvição porque "a mídia é golpista". Quem diz coisas assim simplesmente não entende o que está acontecendo. Na verdade nem entende o conceito de "três poderes". Vamos com calma.
sexta-feira, 24 de agosto de 2012
quinta-feira, 23 de agosto de 2012
O país que se orgulha da desigualdade
Li que a ONU soltou o resultado de um estudo profundo sobre as cidades latino-americanas. O resultado é que o Brasil tem o dobro de pobreza urbana que Uruguai, Argentina e Chile, nessa ordem os 3 melhores colocados. Perdemos feio em distribuição de renda para Uruguai e Venezuela, os primeiros colocados. Antes a Unesco já havia nos apontado como o país latino-americano com os piores indicadores educacionais.
Isso serve para muitas coisas. Primeiramente, é um soco na cara dos que retratam os governantes desses países como demagogos de tons autoritários que gerenciam pessimamente a economia nacional graças às suas medidas econômicas "heterodoxas" (leia-se "não liberais"). Essa gente, que a imprensa adora ouvir, parece não se importar muito com esse tipo de coisa. Mas alguém com um mínimo de criticidade deveria estar atento a isso. Note que não necessariamente defendo esses governos, apenas digo que é preciso tomar cuidado com certas avaliações muito apressadas e de acentuado viés ideológico.
Segundo: é preciso tomar cuidado também com o triunfalismo dos que acreditam que o Brasil passou por uma revolução e é um país rico. Desenvolvimento é ótimo, inflação controlada também. Mas o país é o mesmo de sempre, só que melhor. Continuamos sendo um país extremamente desigual, e onde os mais pobres (que infelizmente são muitos) vivem em situação de extrema vulnerabilidade. Como qualquer um sabe, crescimento é uma parte da solução, mas se não vier acompanhado de uma distribuição mais justa, isso ajuda pouco.
Em tempo, isso não é uma crítica dirigida especificamente a este governo. Não é em 10 ou 15 anos que se muda um quadro desses, que na verdade é uma característica que ostentamos há décadas. A crítica é aos governistas mais ingênuos que acreditam que os 10 anos de governo petista mudaram essa realidade, algo que é desmentido por qualquer pesquisa minimamente séria. Nenhum governo conseguiria isso, mesmo que tentasse (o que não me parece ser o caso).
Mas o pior de tudo é o fato de termos interiorizado que tudo isso é extremamente normal. Adoramos fingir que o real problema do Brasil é ser um país pobre, e que quando resolvermos isso, a pobreza, a desigualdade e o péssimo sistema educacional desaparecerão por encanto. O que essa pesquisa mostra é que isso não é verdade. Por mais que tenhamos nos desenvolvido e possamos ostentar uma economia muito maior que a desses países vizinhos, continuamos a ser surrados por eles nos indicadores sociais.
E aí chegamos a esse resultado. Um país em que os mais abastados preferem pagar muito caro por coisas como I-phones, TV a cabo, tablets e carros que lá fora são tidos como comuns, só para que outros não o tenham. Se orgulhar de pagar preços exorbitantes para excluir a massa do consumo como forma de atingir uma distinção social. Taí a marca de um país onde a pobreza e a desigualdade se transformaram em algo visto como parte natural da vida.
Isso serve para muitas coisas. Primeiramente, é um soco na cara dos que retratam os governantes desses países como demagogos de tons autoritários que gerenciam pessimamente a economia nacional graças às suas medidas econômicas "heterodoxas" (leia-se "não liberais"). Essa gente, que a imprensa adora ouvir, parece não se importar muito com esse tipo de coisa. Mas alguém com um mínimo de criticidade deveria estar atento a isso. Note que não necessariamente defendo esses governos, apenas digo que é preciso tomar cuidado com certas avaliações muito apressadas e de acentuado viés ideológico.
Segundo: é preciso tomar cuidado também com o triunfalismo dos que acreditam que o Brasil passou por uma revolução e é um país rico. Desenvolvimento é ótimo, inflação controlada também. Mas o país é o mesmo de sempre, só que melhor. Continuamos sendo um país extremamente desigual, e onde os mais pobres (que infelizmente são muitos) vivem em situação de extrema vulnerabilidade. Como qualquer um sabe, crescimento é uma parte da solução, mas se não vier acompanhado de uma distribuição mais justa, isso ajuda pouco.
Em tempo, isso não é uma crítica dirigida especificamente a este governo. Não é em 10 ou 15 anos que se muda um quadro desses, que na verdade é uma característica que ostentamos há décadas. A crítica é aos governistas mais ingênuos que acreditam que os 10 anos de governo petista mudaram essa realidade, algo que é desmentido por qualquer pesquisa minimamente séria. Nenhum governo conseguiria isso, mesmo que tentasse (o que não me parece ser o caso).
Mas o pior de tudo é o fato de termos interiorizado que tudo isso é extremamente normal. Adoramos fingir que o real problema do Brasil é ser um país pobre, e que quando resolvermos isso, a pobreza, a desigualdade e o péssimo sistema educacional desaparecerão por encanto. O que essa pesquisa mostra é que isso não é verdade. Por mais que tenhamos nos desenvolvido e possamos ostentar uma economia muito maior que a desses países vizinhos, continuamos a ser surrados por eles nos indicadores sociais.
E aí chegamos a esse resultado. Um país em que os mais abastados preferem pagar muito caro por coisas como I-phones, TV a cabo, tablets e carros que lá fora são tidos como comuns, só para que outros não o tenham. Se orgulhar de pagar preços exorbitantes para excluir a massa do consumo como forma de atingir uma distinção social. Taí a marca de um país onde a pobreza e a desigualdade se transformaram em algo visto como parte natural da vida.
sábado, 18 de agosto de 2012
Guia para uma eleição proporcional
O leitor deste blog sabe muito bem que o 171nalata tem uma tendencia opinativa. Mas se for possível, gostaria de abrir uma exceção e fazer um post com um tom um pouco professoral.
É que além de prefeitos, escolheremos também vereadores nesta eleição. Ou seja, teremos uma eleição proporcional, do mesmo tipo que elege deputados federais e estaduais. E o sistema que adotamos é frequentemente muito mal entendido.
Na verdade o que não se percebe é que o sistema proporcional nada mais é do que uma variante do voto de lista. Que é aquele sistema em que cada partido ou agrupamento apresenta uma lista, e nós votamos naquela que gostamos mais. E no fim cada lista elege representantes proporcionalmente aos votos que teve.
Digamos que uma lista qualquer teve 30% dos votos, e que isso significa colocar oito representantes lá. A lista em questão fornecerá oito parlamentares. Quem serão eles? Os oito primeiros da lista. Quem ordenou a lista decidindo quem serão os primeiros? A cúpula partidária.
O nosso voto é assim. Mas tem uma variação: no exemplo hipotético, os oito primeiros não são os que os políticos definiram, mas os oito mais votados pelo eleitorado. Em outras palavras, funciona assim. Quando votamos, na verdade fazemos dois votos em um. Para começar escolhemos a lista que preferimos. Em seguida escolhemos o nome que gostaríamos que fosse eleito naquela lista.
Dito de outra forma. Quando votamos no candidato x da chapa y estamos fazendo duas coisas ao mesmo tempo. Estamos dizendo em primeiro lugar "quero ser representado por pessoas da lista y". Em segundo: "e na lista y quero que o candidato x seja meu representante".
Então é mais importante escolher a lista do que o candidato que está nela? Sim, exatamente. Se você quer votar bem, não comece escolhendo um candidato. Comece analisando as listas. Pois seu voto pode parecer ser dirigido a um candidato, mas não é. Você está escolhendo uma lista, e apenas secundariamente ajudando seu candidato a se posicionar melhor naquela lista.
Se vai votar para vereador ou deputado federal/estadual, faça o seguinte. Não pense em nomes. Olhe a lista da candidatos que cada um oferece. Pois você está votando naquela chapa como um todo. Aí, tendo escolhido a lista que mais te agrada, veja quem é o nome que voce mais gosta entre os que são oferecidos. Esse é seu candidato.
Pois imagine o contrário. Pense que tem um candidato que você gosta numa lista que você detesta. Se você votar nesse cara e ele não ganhar, você terá ajudado a eleger gente que não te agrada. Faça o oposto. Escolha uma boa lista e vote no nome que mais te agrada nela. Se ele não se eleger, alguém daquela lista estará eleito, e você se sentirá representado.
Logo: quando você vota no médico gente boa ou no amigo que faz um bom churrasco, na verdade você não está votando apenas neles. Essencialmente você está endossando uma lista que nem conhece. Não faça isso. Analise bem todos os que estão na lista do seu candidato. Sob pena de eleger alguém que você odeia sem nem se dar conta disso.
sexta-feira, 17 de agosto de 2012
Brasileiro não sabe votar?
Sempre me senti muito incomodado com essa ideia que temos de que somos um povo ignorante que só elege políticos ruins. Sempre houve algo que me incomodou nisso, sem que eu entendesse bem o que. Aí um dia escutei o Mário Covas dizendo algo tipo "o povo não vota mal, ele vota a partir dos candidatos que tem e das informações que recebe". Bingo. Era isso mesmo.
A questão da informação é óbvia demais para ser discutida. Somos um país que perde de forma avassaladora nos quesitos educação, informação e politização para outros mais pobres que o nosso, basta dar uma olhada na nossa vizinhança. Escolhemos isso, e reafirmamos essa escolha diariamente. E não é questão de grau de instrução. Conheço gente demais com muitos anos de educação formal que é totalmente mal informado sobre o que se passa no país.
Mas acho que realmente não damos a atenção merecida a uma coisa: as opções que são oferecidas ao eleitor. Como qualquer pessoa sensata, essa semana fiquei assustado ao constatar que existe uma possibilidade muito concreta de que o Celso Russomano seja prefeito de São Paulo. Uma pobre cidade repleta de problemas urbanos, e que sofreu com inúmeras administrações calamitosas nos últimos 30 anos, e vive um pesadelo que parece longe de acabar.
Um caminho adotado por muitos é o clássico "brasileiro é ignorante" (como se quem falasse fosse um dinamarquês que nasceu aqui por engano). Ou, num viés mais bairrista, "paulista/paulistano gosta de porcaria". Mas vamos pensar numa coisa: quais as opções oferecidas ao eleitor?
Como já disse aqui e todo mundo sabe, José Serra não tem a menor vontade de ser prefeito de São Paulo. Só é candidato por dois motivos: o partido teme perder o controle da maior cidade do país e muitos querem que ele se eleja para ficar constrangido a abandonar o posto e disputar novamente a presidência daqui a dois anos. Apesar de seu longo histórico e experiência, Serra não anda empolgando muita gente.
O PT oferece ao eleitor um nome completamente desconhecido, ao invés dos inúmeros nomes muito mais tradicionais do partido. Uma concepção de Lula: nomes como Marta ou Mercadante são demais associados ao PT e poderiam assustar o eleitor mais conservador. Nesse caso, um nome novo, basicamente associado à Lula, seria mais palatável. Em suma: na expressão "lulo-petismo", Haddad é mais "lulo" e menos "petismo", ao contrário dos outros.
Tudo isso porque Lula acha que é o momento ideal para que seu partido finalmente consiga uma vitória expressiva no estado em que nasceu, se desenvolveu, mas nunca governou, além de estar fora da prefeitura há oito anos. Até agora a estratégia foi um fracasso total. E nem poderia ser diferente. Numa eleição cheia de nomes conhecidos, só mesmo os petistas de carteirinha votariam num candidato assim. Ao menos até começar o horário eleitoral.
Aí temos os outros candidatos, que são tão patéticos que é melhor nem mencionar.
No fim, o que acontece é que o eleitor comum, não muito politizado ou totalmente alheio á política, fica perdido. Se coloque no lugar dele e você sentirá muita dificuldade. Aliás, eu que acompanho o máximo que posso já me sinto perdido. Entendo esse eleitor. Não votaria no Russomano, claro. Mas, num cenário tão desolador, não vejo muito como censurar nenhum tipo de voto.
Em tempo: falei de São Paulo por ser a maior cidade do país. Mas não conheço nenhuma outra em que as coisas sejam substancialmente diferentes do que se passa por lá.
A questão da informação é óbvia demais para ser discutida. Somos um país que perde de forma avassaladora nos quesitos educação, informação e politização para outros mais pobres que o nosso, basta dar uma olhada na nossa vizinhança. Escolhemos isso, e reafirmamos essa escolha diariamente. E não é questão de grau de instrução. Conheço gente demais com muitos anos de educação formal que é totalmente mal informado sobre o que se passa no país.
Mas acho que realmente não damos a atenção merecida a uma coisa: as opções que são oferecidas ao eleitor. Como qualquer pessoa sensata, essa semana fiquei assustado ao constatar que existe uma possibilidade muito concreta de que o Celso Russomano seja prefeito de São Paulo. Uma pobre cidade repleta de problemas urbanos, e que sofreu com inúmeras administrações calamitosas nos últimos 30 anos, e vive um pesadelo que parece longe de acabar.
Um caminho adotado por muitos é o clássico "brasileiro é ignorante" (como se quem falasse fosse um dinamarquês que nasceu aqui por engano). Ou, num viés mais bairrista, "paulista/paulistano gosta de porcaria". Mas vamos pensar numa coisa: quais as opções oferecidas ao eleitor?
Como já disse aqui e todo mundo sabe, José Serra não tem a menor vontade de ser prefeito de São Paulo. Só é candidato por dois motivos: o partido teme perder o controle da maior cidade do país e muitos querem que ele se eleja para ficar constrangido a abandonar o posto e disputar novamente a presidência daqui a dois anos. Apesar de seu longo histórico e experiência, Serra não anda empolgando muita gente.
O PT oferece ao eleitor um nome completamente desconhecido, ao invés dos inúmeros nomes muito mais tradicionais do partido. Uma concepção de Lula: nomes como Marta ou Mercadante são demais associados ao PT e poderiam assustar o eleitor mais conservador. Nesse caso, um nome novo, basicamente associado à Lula, seria mais palatável. Em suma: na expressão "lulo-petismo", Haddad é mais "lulo" e menos "petismo", ao contrário dos outros.
Tudo isso porque Lula acha que é o momento ideal para que seu partido finalmente consiga uma vitória expressiva no estado em que nasceu, se desenvolveu, mas nunca governou, além de estar fora da prefeitura há oito anos. Até agora a estratégia foi um fracasso total. E nem poderia ser diferente. Numa eleição cheia de nomes conhecidos, só mesmo os petistas de carteirinha votariam num candidato assim. Ao menos até começar o horário eleitoral.
Aí temos os outros candidatos, que são tão patéticos que é melhor nem mencionar.
No fim, o que acontece é que o eleitor comum, não muito politizado ou totalmente alheio á política, fica perdido. Se coloque no lugar dele e você sentirá muita dificuldade. Aliás, eu que acompanho o máximo que posso já me sinto perdido. Entendo esse eleitor. Não votaria no Russomano, claro. Mas, num cenário tão desolador, não vejo muito como censurar nenhum tipo de voto.
Em tempo: falei de São Paulo por ser a maior cidade do país. Mas não conheço nenhuma outra em que as coisas sejam substancialmente diferentes do que se passa por lá.
terça-feira, 14 de agosto de 2012
Bipolaridade Brazuca
Não vi a festa de encerramento das Olimpíadas, mas pelo twitter acompanhei a repercussão. Basicamente havia dois tipos de opinião. A primeira achava tudo lindo e maravilhoso, exceto quanto à parte brasileira, deplorada por ser cheia de clichês. O outro lado atacava o primeiro, os chamando de um bando de vira-latas que odeiam o Brasil e acham tudo no estrangeiro é maravilhoso.
Essas visões radicalmente opostas no fundo partem de um mesmo pressuposto: o de que o Brasil está destinado a ser o melhor país do mundo. Você conhece o papo: um país enorme, sem desastres naturais, que em se plantando tudo dá, uma população racialmente variada, natureza maravilhosa, etc. etc.
O primeiro grupo, o do complexo de vira-latas, nada mais é do que um bando de gente que comprou esse discurso, mas não viu sua realização prática. Aí passa a achar tudo aqui uma porcaria, e por comparaçao todos os os outros do mundo parecem legais. O segundo grupo, claro, acha que o Brasil é essa beleza mesmo.
No fundo os dois lados são filhos da mesma megalomania que nos caracteriza de forma tão intensa. Temos a total obrigação de ser os melhores do mundo. Se não conseguimos, assumimos instantaneamente que somos os piores. Somos os melhores no futebol, na música, nas praias, na beleza feminina, etc. Somos os piores em política, educação corrupção, etc. Não podemos ser os 23o, 78o ou 112o. Temos de ser os melhores ou os piores. Megalomania pura.
Acho que o grande erro é pensarmos que somos um país predestinado a ser gigantes. Deveríamos nos ver como um entre 200 países do mundo. Todos tem potencial para alguma coisa e dificuldades em outras. Somos realmente bons em muitas coisas, mas há dezenas de outros países que são bons nessas mesmas coisas. Qualquer coisa que você pensar que o Brasil é ruim, certamente encontrará outro que é bem pior no mesmo quesito.
É estranho, pois não temos esse grau de exigência nem sobre nós mesmos. Jamais esperaríamos ser os melhores do mundo em tudo, e se não conseguíssemos, não nos acharíamos um lixo. Aceitamos de forma passavelmente tranquila que somos bons em algumas coisas, medianos em outras, ruins em outras. Não somos os melhores do mundo em nada, nem os piores em nada. Qual o problema em ver o nosso país da mesma maneira?
domingo, 12 de agosto de 2012
Consequências do diploma obrigatório
Tenho vários amigos jornalistas, e convivo com muitos outros. Essa experiência me ensinou que jornalistas (ao menos os que têm alguma noção do mundo ao seu redor) são pessoas que se sentem despreparadas em termos de conteúdo, o que sempre os deixa com medo de publicar alguma besteira, principalmente quando se aventuram em temas que não aqueles que trabalham cotidianamente.
Assim, é óbvio que esse movimento pela obrigatoriedade do diploma nada tem que ver com a qualidade do jornalismo. Parece bem óbvio que a imprensa ganharia muito com a contribuição de outros profissionais em áreas mais especializadas. Por exemplo, cansei de ler tolices escritas por jornalistas sobre os temas em que milito profissionalmente (história e educação). Lógico: não tem formação ou prática na área. Como poderia ser diferente?
Claro que essa luta pela obrigatoriedade pelo diploma tem a ver com algo muito diferente: a deterioração da profissão. A convivência com muitos membros da classe me ensinou também que a grande maioria trabalha muito (mas muito mesmo) para ganhar pouco. Assim, pedir a obrigatoriedade do diploma é uma tentativa (muito compreensível, por sinal) de tentar ao menos salvar seu espaço de possíveis invasores.
Sou contra isso, assim como a regulamentação da profissão de historiador, que para mim tem os mesmos defeitos da questão dos jornalistas. Mas vá lá que as duas coisas aconteçam. Pra mim o grande problema é outro. A questão é que isso é o sintoma de um quadro mais amplo que é terrível.
No último meio século o capitalismo mudou muito, na prática transformando o desemprego em um elemento estrutural do sistema. Com isso, os trabalhadores (qualificados ou não) perderam todo o seu poder de barganha, já que cada um está preocupado demais em perder seu emprego para arriscar o pescoço numa greve. Esse é o fator principal do enorme declínio do sindicalismo em todo o mundo.
Quando uma carreira tão politizada, qualificada e bem informada acha melhor uma estratégia corporativa para salvar seus empregos do que lutar por uma melhoria nos salários e nas condições de trabalho, você vê claramente que chegamos a um ponto em que não há mais volta. Greve e demais estratégias de reivindicação deixaram de ser um direito dos trabalhadores, se transformando em um privilégio do funcionalismo público.
PS: acho que ficou claro que sou contra a obrigatoriedade do diploma, e na verdade esse nem era o tema central do post. Mas também não acho o fim do mundo que a medida seja adotada. Sabe o que não me desce de jeito nenhum? Que os mesmos jornalistas que querem que só possa exercer a profissão com diploma achem normal se meter na profissão dos outros. Para dar um exemplo na minha área: querem continuar escrevendo livros de história sem ter diploma na área, mas não querem que historiador escreva em jornal por não ter diploma na área. Pode?
quarta-feira, 8 de agosto de 2012
Agonia Olímpica
Em alguns dias termina a Olimpíada. A nona que acompanho. E pela nona vez vejo o país sair com o gosto amargo de "deveríamos ter ido melhor". Natural. Países mais pobres e/ou muito menos populosos que o nosso se saem muito melhor. É obsceno mesmo.
Para alguns a resposta é simples. Nossos atletas "amarelaram". A esses eu nem respondo. É gente que só vê esportes olímpicos a cada 4 anos. Gente que achava que a Maureen Maggi tinha obrigação de ganhar outro ouro depois de um ciclo tão complicado. A eles digo apenas uma coisa: antes de chamar de "fracassado" quem é o 5o do mundo, tente ser o 1.000.000o do mundo em qualquer coisa. Qualquer uma.
Existe uma outra abordagem, a de culpar nossos dirigentes. Aquela velha ideia: um país com tanto potencial só não vai mais longe pela falta de apoio aos atletas, etc. Essa me agrada bem mais que a anterior. Mas acho que ainda deixa muita coisa de fora.
A primeira: qualquer país que tenha um projeto esportivo minimamente sério tem nas aulas de educação física das escolas um grande aliado. Mas estamos no Brasil, aquele país que não leva a educação minimamente a sério. Então isso não acontece.
Posso falar por mim. Nunca seria um Usain Bolt ou um Michael Phelps, mas eu bem que tinha potencial para o esporte. Era bom em todos os esportes que pratiquei. Mas em mais de 10 anos de vida escolar nunca um professor de educação física me disse (ou a qualquer colega): "voce tem potencial, que tal tentar levar a sério tal esporte?";
Sem falar no seguinte. Judô e natação foram dois esportes em que eu tinha muito talento. Mas só descobri isso porque meus pais me matricularam em academias para fazer esses esportes. Descobri isso sozinho. Mas mesmo sendo elogiado pelos meus mestres e tendo quilos de medalhas em competições dessas modalidades, meus professores nunca tentaram me encaminhar para nada.
Na universidade fui do time de futebol do IFCH, campeão das Olimpíadas da Unicamp em 1993. Também era goleiro da seleção de handebol do instituto que chegou duas vezes às semifinais da mesma competição. Peguei seis pênaltis num jogo até. Fazia o diabo, era cumprimentado por todos. Pensa que algum recrutador ou olheiro estava vendo? Nunca. Joguei contra times espetaculares dos cursos de medicina e engenharia de alimentos. Vi caras que facilmente poderiam jogar na seleção brasileira. Se chegaram lá, não foi porque alguém os viu ali. Certamente foi pelo esforço próprio.
Baseado no que contei, me diga uma coisa. Campinas é uma cidade enorme, próxima à gigantesca São Paulo. Como seria possível que centenas e centenas de universitários praticassem todo tipo de esporte num lugar desses sem ninguém lá para ver se pescava um talento em potencial? Num país que se lixa para esporte.
Mas vamos mais longe. Não neguemos nossa própria responsabilidade. Bem ou mal, temos canais de TV a cabo que passam todo tipo de modalidade olímpica. Alguém assiste? Nunca. Se assistissem eles passariam muito mais. Não passam porque somos um maldito povo que se lixa para esporte, mas quando chegam as Olimpíadas queremos uma chuva de medalhas de ouro. Temos nossa responsabilidade também. Se ligássemos um pouco para esses esportes, eles seriam transmitidos com frequencia, os atletas teriam mais patrocinio, e a coisa seria outra.
No fim me parece que o problema do nosso esporte é o mesmo da nossa educação. Todo mundo quer resultados maravilhosos, mas ninguém quer lutar por qualidade, ninguém quer acompanhar o dia a dia. Aí não dá, né?
terça-feira, 7 de agosto de 2012
Caetano 70
Caetano Veloso chega aos 70 anos como sempre foi: despertando paixões e ódios. De um lado os que o endeusam, acreditando que tudo o que compõe, canta e fala é absolutamente sublime e genial. De outro, os que não perdoam sua arrogância, verborragia e a certeza aparentemente inabalável que possui de que veio a este planeta para iluminar seus habitantes, quer queiram eles, quer não. E o fato de que se transformou em mais um jovem progressista que se converteu em um idoso reacionário também não ajuda.
Pra ser bem sincero, essas coisas não me interessam muito. Não tenho qualquer gosto em discutir quem é legal/revolucionário/chato/reacionário e quem não é. O que vejo como relevante é o seguinte: quando escuto os discos dele, ouço um artista interessante, com várias canções de alto nível, mas que está abaixo de outros de sua geração. Suas composições são boas, e algumas são ótimas, mas nunca possuíram a força e a densidade de Milton Nascimento, a poesia de Chico Buarque ou a ousadia e criatividade de Gilberto Gil.
A grande questão é que Caetano desde sempre soube se colocar no centro do palco. Começou cedo, elaborando as composições mais emblemáticas do Tropicalismo, um termo altamente problemático que foi coisificado por críticos como se fosse uma realidade palpável e indiscutível. Nos anos 80, quando sua geração inteira declinou, o Caetano polemista se sobressaiu mais do que nunca. Milton embarcava numa viagem world music, Gil se transformava num personagem folclórico e Chico fazia da timidez um marketing involuntário. Enquanto isso, Caetano estava toda semana nos cadernos culturais dos jornais com alguma tese polêmica.
Ou seja, quanto mais velho, mais polêmico Caetano ficava, algo ímpar na trajetória de um artista. Quanto mais o brilho de sua produção musical se apagava (junto com toda a sua geração), mais passava a buscar, não poucas vezes confundindo a provocação inteligente com a busca desesperada pela polêmica fácil, "chocar". A estratégia marqueteira deu certo, e ele virou figurinha fácil no debate cultural brasileiro.
Seguindo essa linha, quando finalmente sua produção musical se apagou por completo, sua estratégia infantil de "chocar" ficou mais desesperada que nunca. Tentou se travestir de historiador do pensamento brasileiro, e convenceu uns poucos idólatras de que entende alguma coisa de autores como Joaquim Nabuco e Sérgio Buarque de Holanda. E passou a mostrar tamanho desespero que seus ataques costumeiros à esquerda começaram a parecer menos e menos "bem pensantes" e mais e mais coisa de reacionário mesmo. E pior: as pessoas pararam de respondê-lo, de se importar com ele.
No fim das contas, Caetano foi engolido por uma contradição que estava presente já no início de sua carreira. Não sendo o mais brilhante de sua geração, usou seu talento para se transformar num ícone. O problema é que não dá pra passar o resto da vida escrevendo manifestos revolucionários e chocando o mundo com provocações inteligentes. E o declínio de sua produção musical o levou a uma postura mais e mais agressiva nesse sentido.
Mas que se ressalte que nada do que foi dito acima muda o fato de que ele foi um artista de muito talento. Principalmente nos anos 60/70 fez coisas muitíssimo boas. Até nos 80 ele conseguiu emplacar umas canções bem interessantes. Isso sim é o que importa.
segunda-feira, 6 de agosto de 2012
Não curto eleições para prefeito
Não me entendam mal: eu ADORO votar. Tive a felicidade de crescer em uma família politizada em uma cidade (naquela época) muito politizada. Bem antes de poder votar eu já militava, e tive a imensa sorte de ser da primeira leva de brasileiros que pôde votar antes dos 18. Assim, a 8 dias de completar 17 anos, eu votei pela primeira vez. E também perdi pela primeira vez. Tudo bem. O legal é participar. E sei de cor todos os meus votos, desde aquele em Leonel Brizola para presidente em 1989 até o Lula no 2o turno de 2006.
Mas não gosto de eleição para prefeito. Um pouco é uma mistura de azar com circunstâncias especiais. Em 1992, primeira vez que votei nessa eleição, eu já estudava em Campinas mas tinha título ainda em Volta Redonda. Não deu muito tesão escolher os destinos de uma cidade onde eu já não morava mais. Em 1996 e 2000 votei em Jacó Bittar no 1o turno e tive de encarar 2os turnos entre dois candidatos pavorosos. Na última acabei votando em branco pela primeira e única vez na vida.
Em 2004 e 2008 não votei, pela incrível coincidência de ter mudado de estado nas duas vezes em um momento em que não dava mais tempo de transferir o título (antes de me censurar imagine viajar 800 ou 2 mil km para votar). Ou seja, não sei o que é votar para prefeito desde 2000. Mas sinceramente, não estou com muita saudade.
A grande questão é que não vejo nenhum partido com uma visão de como melhorar o nível de vida sufocante de nossas cidades. Nos anos 1990 parecia que o PT tinha conseguido de fato cuidar bem das cidades que administrava. A questão é que depois de 2002 a realpolitik de Lula e Zé Dirceu fez o partido se aliar com todos os que querem manter tudo como está, inclusive em muitas ocasiões cedendo a cabeça de chapa para eles.
Mas atenção: você não está lendo aqui uma versão do "político (ou partido) é tudo igual". Não é. Como qualquer um pode perceber, PT e PSDB claramente defendem coisas diferentes. Mas a questão é que essa grande diferença ainda não se traduziu em projetos concretos que visem transformar as cidades brasileiras em algo minimamente suportável. Há iniciativas pontuais, mas não uma concepção global que tente de fato mudar algo.
Isso não acontece à tôa. A questão é que PT e PSDB só pensam em uma coisa: ganhar a eleição para presidente. Para eles, eleições em todos os outros cargos são apenas formas de garantir apoios para a eleição para presidente. Seja elegendo gente do próprio partido, seja trocando apoios. Aí chega-se a essa situação, na qual os grandes partidos hegemônicos, mesmo com quadros intelectuais e acadêmicos muito relevantes, não tem nenhum projeto para nossas cidades.
Um exemplo disso é José Serra. Já se elegeu prefeito de São Paulo uma vez, sem nenhuma pretensão de governar a cidade, vendo o cargo apenas como trampolim para se candidatar a presidente. Governou a cidade por 15 meses, sem se preocupar com o cargo, e deixou a cidade nas mãos do lamentável Kassab. Agora se candidata de novo, jurando que cumpre o mandato até o fim. Sabendo-se que é obcecado pela presidência, alguém pode garantir que ele vai esperar até 2018, quando teria 76 anos, para tentar mais uma vez?
Veja: por mais que eu tenha antipatia extrema ao Serra, nesse caso o cito apenas como exemplo óbvio de algo que é muito mais geral. Um país que tem cidades insuportáveis, com qualidade de vida desprezível e problemas urbanos evidentes, mas que não possui um maldito cidadão que ache importante melhorar essas questões. E era pra eu gostar de votar nessas eleições?
domingo, 5 de agosto de 2012
Ser historiador
Há 14 anos eu andava pelas ruas de Campinas ensandecido ouvindo essa música ao lado da minha ex-mulher. Comemorando a vitória de Mário Covas nas eleições para governador em 1998.
Não sou tucano, nem nunca fui. Não sou mais casado com ela há mais de 8 anos. Nunca gostei muito de música francesa. Ou seja, uma repetição dessa cena é impossível.
Mas pensa que eu me arrependo? Nem um pouco. Sabe por que? Havia um contexto.
Eu estava estudando francês para a prova do doutorado, amava essa pessoa e a vitória do Covas impediu o Maluf de se qualificar como favorito para as eleições presidenciais de 2002.
O que estou tentando dizer é o seguinte. Um historiador decente tem de saber que as coisas ocorrem num determinado contexto. Essa coisa de dizer "fulano é malvado" ou "sicrano é ótimo" fica muito bem num filme hollywoodiano ou num livro escrito por um jornalista. Mas para a gente não dá.
Hitler maluco, Stalin carniceiro, Gandhi santo. Tudo isso pode ficar muito bem na tela do cinema. Mas essas pessoas viveram em um contexto concreto, e desenrolaram suas vidas em sociedades complexas. Bons ou maus, feios ou bonitos, eles viveram de forma multifacetada suas vidas. Nem poderia ser diferente. Nenhum de nós, com nossas vidas irrelevantes, tem uma trajetória unidimensional. Imagine essas pessoas, que foram protagonistas de seu tempo.
O bom da história é que ela nos distancia do papel de juízes do passado. Prefiro mil vezes esse papel de analista que o de juiz. O analista assume que precisa compreender melhor o contexto do qual fala. O juiz está cheio de certezas, que só atrapalham a visão.
quinta-feira, 2 de agosto de 2012
Professores universitários: os marajás
Me impressionou muito a maneira pela qual grande parte da população, incluindo muitos alunos, se prontificou a aceitar tão passivamente a tese de que a greve dos professores das federais "prejudica os alunos". Até deletei alguns alunos do meu facebook para não ler mais coisas tipo "e aí, os professores estão de férias ainda?".
Claro que isso tem a ver em parte com um triste fato. Somos um povo que não se preocupa com a qualidade da educação. A ditadura dos números na educação, que FHC criou e Lula piorou só aumentou essa tendência. Logo, achar que o que importa é ter o diploma, e dane-se em que condições é algo plenamente coerente.
Mas evidentemente isso também tem a ver com a péssima imagem que temos. Na opinião geral, somos pessoas que ganhamos fortunas para fazer pesquisas inúteis, que não dão nenhum retorno à sociedade e ainda nos damos ao luxo de gastar tempo em guerrinhas de ego. Essa percepção inclui muitos dos meus alunos, por sinal.
A parte dos salários é curiosa. Não vou dizer aqui quanto ganho, mas posso dizer uma coisa. Tenho graduação, mestrado e doutorado na Unicamp. Minha formação universitária levou 11 anos. E ganho menos que todos os meus amigos que fizeram apenas graduação em outra área. Se levarmos a questão para o mundo do funcionalismo federal então, aí é covardia. Pegue um edital qualquer para professor de federal e compare o salário inicial com qualquer outro que exija apenas graduação em outra área. Você ficará chocado.
A parte da "pesquisa inútil" é outra leviandade. Como pode um leigo querer saber qual pesquisa de ponta é útil ou não (nem vamos falar do tópico complicadíssimo que é definir o que é "útil")? Pra falar a verdade, mesmo na área de história há temas inteiros que eu mesmo não estou habilitado para avaliar se uma pesquisa e relevante ou não. Como uma pessoa que sequer pertence ao meio acadêmico pode achar que está em condições de fazer isso?
"Não trazemos retorno à sociedade": como se pode saber se uma pesquisa que ainda nem foi concluída vai ou não trazer retorno? De toda forma, nossa função primordial não é elaborar produtos prontos para o consumo (ainda que possa acontecer). Pode ter certeza: sua vida cotidiana está entupida de coisas utilíssimas que só existem porque foram feitas pesquisas de ponta, cujos resultados foram publicados em revistas acadêmicas em artigos incompreensíveis para um leigo. A partir daí esses produtos aparentemente inacessíveis foram utilizados para revolucionar a sua vida. E pense uma coisa: quando Einstein elaborou a teoria da relatividade ele a publicou em um jornal popular ou em uma revista acadêmica consumida apenas por especialistas? Isso quer dizer que ele fez algo que só influencia a vida de meia duzia de físicos?
Agora a complicada questão do ego. Sim, tenho colegas egomaníacos, os famosos "PhDeuses". Vários deles não toleram críticas, se vingam de forma assassina em quem os contraria no mínimo detalhe e protege seus pupilos em um nível que extrapola qualquer limite ético. Tudo verdade.
Mas diga aí: em que isso nos diferencia de outras carreiras? Somos uma ilha em um universo ético, formado por pessoas humildes? Então pelo que entendo médicos são todos pessoas nobres dispostas a salvar a humanidade sem receber nada em troca, advogados são todos humildes paladinos da justiça, e assim por diante?
Sinceramente, não vejo em que possamos ser diferentes de outras carreiras. Como qualquer categoria sócio-profissional, temos profissionais bons e ruins, sérios e enganadores. E acima de tudo, somos pessoas que tentamos fazer nosso trabalho. Recebendo menos que profissionais que estudaram muito menos que nós. E vendo a sociedade (e principalmente o governo) esquecer algo óbvio: TODOS os profissionais qualificados do país passam por nós. É, falar que nosso trabalho é inútil realmente é muito inteligente.
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