domingo, 1 de julho de 2012

Plano Real (e um pouquinho de autocrítica)


Há 18 anos entrava em vigência o Plano Real. Ao ver esse dado eu comecei a lembrar de qual era o clima entre nós, da oposição, naquele momento.
Na verdade nós tínhamos a mais absoluta certeza de que aquilo nada mais era do que uma tentativa desesperada de manipular o resultado das eleições que ocorreriam no final daquele ano. Sem um candidato viável para enfrentar Lula, que era naquele momento um candidato forte, parecia claro a todos nós que o governo Itamar havia fabricado um plano demagógico para transformar FHC num super-herói da luta contra a inflação e com isso vencer as eleições. Dizíamos que o plano era ruim, que não iria funcionar e que era uma cópia ridícula do plano aplicado por Carlos Menem na Argentina.
Bem, estávamos completamente errados. O plano funcionou, não tinha quase nada a ver com o de Menem e de fato acabou com a praga da inflação. Tudo bem, temos de dar a nós o desconto de termos vivido a fraude eleitoral do Cruzado oito anos antes. E de fato o Plano Real trouxe desdobramentos, como as privatizações, que podem ser questionadas. Mas o fato concreto é: aquela avaliação estava completamente errada. Quem não conseguiu ver a realidade por motivos eleitorais fomos nós.
Entenda, eu não acho que o Plano Real foi perfeito. Apenas reconheço um fato muito objetivo: sua finalidade principal era acabar com a inflação e ele fez isso. Não implica apoiar todas as suas consequencias, e muito menos aprovar o governo FHC. Significa apenas reconhecer uma coisa simples: aquele plano resolveu um problema monstruoso que tínhamos. E nós torcemos descaradamente contra ele.
De fato, a cultura esquerdista, que tem tanto de generoso, tem também suas fraquezas. Uma delas é uma certa convicção de que temos o monopólio da virtude. Temos a mais absoluta certeza de que tudo o que os outros fazem é por interesse e roubalheira. Não conseguimos conceber que um governo não-esquerdista possa fazer algo de bom. Essa auto-crítica devemos fazer mesmo.
Há 18 anos começávamos a nos livrar de uma coisa monstruosa. Fico muito feliz de ver que meus alunos, jovens adultos, não fazem a menor ideia do que é viver sob inflação. Daquela coisa de voce ir todo dia comprar a mesma coisa e nunca pagar o preço que havia pago na véspera. De ir no supermercado no dia do pagamento e comprar TUDO o que fosse precisar no resto do mês, pois se fosse no dia seguinte já era outro preço. Taí uma coisa em que o Brasil melhorou muito.
Vocês sabem que sou esquerdista, que nunca fui eleitor de FHC e estive na oposição durante os oito anos de seu governo. Não me arrependo minimamente disso. Mas também acho que é muita incoerência não reconhecermos que o Plano Real prestou um grande serviço ao país. Podemos e devemos discutir outros aspectos do plano, mas ter acabado com a inflação foi algo que o Brasil tem muito a agradecer a Itamar Franco e FHC.

3 comentários:

  1. Agora é que caiu a ficha de porque mãe não faz mais aquela compra pro mês inteiro...

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  2. Boa Tiago! Realmente temos a certeza que a virtude e nossa dupla inseparavel, e quando nos deparamos com uma situação de ter que reconhecer nossos falsos julgamentos e a virtude alheia entramos em crise. Vale muito a auto critica.

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  3. Até que enfim vc foi um humilde esquerdista, e dar o devido crédito a estabilidade a qual o Brasil se encontra hoje, ao plano real e seus criadores, e corajosos praticantes, pois poderiam ter searrependido de implantarem tal plano tamanha crítica. Eu já fui anti FHC, mas depois de dois governos e meio do PT, passei a ver que este governo em vigencia nada mais é do que um filho do governo Tucano. Não há mudanças, mas pequenas alterações e maiores continuidade, apenas isso. Salve salve FHC e seu bonde!

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