terça-feira, 3 de julho de 2012

América do Sul: um continente sem meiocampistas


Assisti a interessantíssima Euro-2012 com muita atenção. E me impressionou ver como os europeus valorizam muito mais a qualidade do meio campo do que nós, sul-americanos. Em nosso continente sequer sonhamos em ter jogadores como Pirlo, Xavi, Iniesta ou Schweinsteiger.
Esses jogadores me lembram um pouco os antigos camisa 8 que tínhamos por aqui. Jogadores que marcavam e organizavam o jogo de uma intermediária à outra. Ainda tive tempo de ver os geniais Falcão e Cerezo fazendo isso. E quando, no fim dos anos 80, me deliciava com o grande Andrade fazendo isso, nem sonhava que ali estava o último fruto dessa linhagem excepcional que inclui Didi, Gérson, Rivelino, Ademir da Guia, Dirceu Lopes, etc. Dali pra frente teríamos apenas volantes e meias-atacantes. Os armadores sumiram.
Mas não é só no Brasil. Com Verón e Riquelme em fim de carreira, a Argentina vai ficando sem armadores também. Basta ver que é muito comum que os treinadores da seleção terminem colocando Messi como armador, algo que ele não é. O país tem uma geração brilhante de atacantes, um punhado de bons volantes (o único que acho realmente bom é Mascherano), um ou outro meia-atacante e só. Camisa 8 ou enganche em nível de seleção não há.
O mesmo vale para o Uruguai. A Celeste tem bons camisas 5 (Ruso Pérez, Cacha Arévalo Rios, Mota Gargano), alguns bons jogadores de lado do campo (Tata Gonzalez, Cebolla Rodriguez, Palito Pereira), e fica por aí. A seleção é forte, tem ótimos atacantes, mas tem enormes dificuldades de criar jogadas de gol. Maestro Tabarez por vezes improvisa Forlán como armador, uma solução equivalente à de usar Messi no setor.
Já li algumas vezes o Tostão atribuir esse cenário desolador a uma espécie de "europeização no mau sentido" do nosso futebol. A tese é de que os europeus não tinham esses jogadores, então tentavam compensar com uma marcação muito forte no meio campo e o contra-ataque. Nós, que tínhamos esses jogadores, imbecilmente achamos que os europeus eram "mais modernos" e jogamos fora nossa grande qualidade. Enquanto isso, os do velho continente aprendiam a criar jogadores com essa característica. O resultado é que o mundo do futebol teria virado de ponta-cabeça: europeus com meiocampistas talentosos e sul-americanos jogando à base da marcação e correria.
Não sei se é isso, ainda que ache uma tese tentadora. Só me assusta ver que estamos muitíssimo atrás dos europeus nesse quesito. Não temos mais grandes jogadores de meio campo. Nosso futebol virou uma correria, um festival de gols de bola parada. Queremos volantes que marquem muito, meias que corram com a bola e a joguem na área para um grandão cabecear pra dentro do gol. E parece que está todo mundo muito feliz com isso. Ou seja: as coisas não vão mudar.
Aí a copa vai chegar, e vão colocar a responsabilidade toda nas costas de Neymar e Messi. Que não têm a menor culpa de jogarem em seleções que não estão prontas para jogar futebol de qualidade. Tenho pena dos dois.

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