sexta-feira, 27 de julho de 2012

Vira-Latas eternos


Já que alguns posts que publiquei foram muito mal interpretados, deixe começar este com um esclarecimento. Meu tema NÃO é a Inglaterra. Não tenho nada contra o país. Sua história tem coisas boas e ruins como qualquer outro. E francamente, quem me conhece sabe que é impossível eu ter ódio de um povo que ama futebol, rugby e cerveja, e que produziu uns 90% do que o rock tem de mais memorável.
Bem, mas é o seguinte. Hoje estava assistindo a abertura das Olimpíadas. Um bom pedaço da cerimônia foi uma glorificação da história inglesa. Apareceram, com grande destaque, trabalhadores da Revolução Industrial, felizes da vida, para mostrar como foi maravilhosa a contribuição inglesa para o mundo. O imperialismo não foi mencionado diretamente, mas esteve implícito em vários momentos.
Claro que dá pra entender que uma festa dessas tenha esse tipo de tom. Suponho que a festa de daqui a quatro anos vai estar lotada de pandeiros, mulatas, índios, onças pintadas, e coisas do tipo. Sem referências ao fato de que a mulata em questão provavelmente é uma favelada que não tem acesso aos direitos básicos ou que aquele índio vive abandonado em algum quinhão do país.
O que não dá é para a gente ficar aqui vendo isso tudo impunemente. Po, o operário da Revolução Industrial trabalhava 14 a 16 horas por dia seis dias por semana, vivia na miséria e tinha expectativa de vida de algo como 30 anos. Eles não "contribuiram" para a Revolução Industrial, ela foi feita sobre seus ombros. E do imperialismo melhor nem falar. Uma violência em nível global, cujos efeitos muitas das delegações que desfilariam logo depois sentem ainda hoje.
Mas a transmissão da TV não se preocupou com nada disso. Vi pela ESPN, que não apenas é o melhor canal de esportes, como também o mais politizado e progressista. Mas lá o clima foi totalmente acrítico. Tudo era maravilhoso. A certa altura o narrador encarnou Cecil Rhoades para dizer "a história da Inglaterra é linda. A Inglaterra era o mundo". Nem quero imaginar o que o Galvão Bueno teve ter falado.
Então ficamos assim: pela eternidade veremos a Europa como um poço de história, cultura e civilidade. O resto do mundo (incluindo nós mesmos) é uma malta de irracionais. E cada imperialista do século XIX, que justificava o imperialismo dizendo que era preciso "civilizar os selvagens", sorri feliz no seu túmulo.

2 comentários:

  1. Tiago, a ESPN tem "fama de chatos" por ser uma emissora progressista e politizada, então, pra atrair a audiência dos coxinhas e alienados, eles preferiram fazer uma transmissão acrítica, já que transmitirão o evento.

    Talvez, se não transmitissem, veríamos o pau comendo solto

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  2. Eu assisti a abertura com minha irmã, na parte dedicada a revolução eu tive que ouvir ela dizendo: "Você realmente não pode realmente me deixar ser burra?" rsrs... Acho que algumas pessoas leem textos assim e pensam a mesma coisa.

    E sim, achei a abertura previsível, quando lia dizia a minha irmão até os autores infantis que seriam citados, obviamente apenas os fofos nada das irmãs Bronte e suas visões sobre a infância menos ainda de Terry Pratchett com aquela língua ferina padrão... triste isso...

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