quinta-feira, 5 de julho de 2012

Sarriá, 30 anos depois


Há 30 anos eu vivia aquele que até então (e por muito tempo ainda) era disparado o pior dia da minha vida. O Brasil havia sido inexplicavelmente eliminado pela Itália da Copa da Espanha. Nos meus quase 10 anos de vida não conseguia cogitar que algo pudesse ser tão ruim como aquela sensação.
E há 30 anos penso nesse jogo, tentando entender o que aconteceu. Um time que tenha Falcão, Cerezo, Sócrates e Zico no meio campo, Leandro e Junior nas laterais, Éder na ponta... ainda hoje parece completamente absurdo que esse time tenha perdido para quem quer que seja.
Hoje tenho a sensação de que na época nossa percepção do que estava acontecendo não era lá muito completa. De fato a seleção tinha jogadores sensacionais, mas não estava em seu melhor momento. Havíamos vencido a URSS no apagar das luzes, graças a duas jogadas individuais. Não fosse a mão do juiz e teríamos perdido. Ainda saímos atrás de uma fraca Escócia e goleamos uma semi-profissional Nova Zelandia.
O que de fato nos fez ter certeza do título foi a inapelável vitória por 3 a 1 sobre um timaço da Argentina, o melhor que já vi em termos individuais. Na verdade eram os campeões de 1978 reforçados por Maradona e Ramon Diaz. Aquela vitória sensacional nos fez ter a certeza de que seria impossível nos derrotar.
Mas não vimos que aquela Argentina era um desastre enquanto time, que perdeu 3 das 5 partidas que jogou naquela copa. Não vimos que a Itália também havia vencido os vizinhos. E que a azzurra era muitíssimo respeitável. Não tinha tantos craques como nós, mas Zoff, Scirea, Cabrini, Tardelli, Antonioni, Conti e Paolo Rossi eram jogadores excelentes. Não era um timaço, mas era um time muito forte que poderia nos vencer.
No fatídico jogo o Brasil teve ótima produção ofensiva. Marcou dois golaços na forte defesa italiana e poderia ter feito outros. Mas defensivamente fomos uma catástrofe, e não por motivos táticos. Foram erros inaceitáveis para qualquer time. Rossi cabeceia absolutamente sozinho no primeiro gol, recebe passe de Cerezo no segundo e, com toda a defesa brasileira dentro da área, conclui livre, na pequena área, no gol decisivo.
Quanto mais vejo os lances, os gols, mais concluo que, como é costume entre nós, superestimamos nossas qualidades e subestimamos nossos defeitos, fazendo o contrário com os italianos, que estavam longe de ser retranqueiros pernas de pau, pois também venceram Argentina, Polônia e Alemanha, chegando a um merecido título.
Mas tampouco deixo de sentir a mesma dor de 30 anos atrás. É ver os lances do jogo com a sensacional narração de Luciano do Valle, então no auge da carreira, que volto a ser aquele menino de nove anos e tanto que achava que era a coisa mais injusta do universo que aquela seleção perdesse. A dor da derrota intolerável e a análise fria das causas convivem harmonicamente dentro de mim, ainda que isso pareça contraditório.
A percepção de que aquela seleção perdeu por seus defeitos não impede que meus olhos marejem ao ver a comemoração de Falcão após o segundo gol. Naquele momento o genial volante fazia o que todos os brasileiros repetiam em suas casas. Saudosa lembrança de uma seleção que era naturalmente amada por todos nós simplesmente pelo que ela era. Sem nenhuma necessidade de que a grande imprensa forçasse a barra ou inventasse rivalidades idiotas. Amávamos a seleção apenas pelos seus jogadores e pelo futebol que jogava.



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