Uma coisa que acho muito curiosa é abrir todo dia meu facebook e me deparar com jovens postando coisas tipo "antigamente...". Em geral eles pensam que esse "antigamente" que eles não viveram era uma coisa muito boa.
Nasci em 1972. Me dei conta do mundo em que vivia no fim dos anos 70. Quer saber que mundo era aquele?
O Brasil era uma ditadura. Não se podia dizer o que se pensava. O mesmo valia para os países vizinhos. Economicamente estávamos falidos. Essas ditaduras não eram cobradas e podiam gastar a vontade e ser corruptas até onde desejassem. Socialmente estávamos convulsionados, a distância entre pobres e ricos não parava de aumentar, ainda que isso não pudesse ser noticiado, já que a censura caía pesado em cima de tudo o que o governo achasse "indevido".
De cada 10 brasileiros, 3 morriam sem sequer saber assinar seu próprio nome. Nossas crianças morriam à vontade. Na verdade os casais sabiam muito bem que era imensa a probabilidade de não ver todos os seus filhos chegando vivos à idade adulta.
Culturalmente estávamos estacionados. A última grande onda renovadora tinha ocorrido nos anos 1960. Rock, não tínhamos. MPB era a mesma há uns 15 anos. Brega e sambão-jóia (o equivalente do pagode naquela época) era o que se escutava nas FM's.
O divórcio tinha acabado de ser aprovado. Uma grande novidade. Até ali homens e mulheres eram obrigados a viver a vida toda juntos. Uma opção feita na imaturidade que caracteriza a juventude não podia ser revertida. Gays eram doentes mentais. Depressão era coisa de quem não tinha enxada pra trabalhar. Matar sua esposa era socialmente aceito, desde que voce argumentasse que estava defendendo sua honra (algo muito genérico, que incluia dizer coisas como "vi ela falando na rua com um cara").
Não existia TV a cabo ou internet. O que a Globo nos dissesse era verdade (no máximo se podia confrontar isso com o que líamos na Folha ou no JB). Comida em casa, nem pensar, na verdade não se entregava nada em casa. Não existia self-service também, aliás. Comer fora era coisa que a classe média fazia uma vez por semana, se tanto, usando suas melhores roupas.
Verdade seja dita, os problemas urbanos (violência, trânsito, etc.) também eram menores. Mas ainda assim. Tem certeza de que quer viver essa vida? Esse "antigamente" parece essa beleza toda mesmo?
¬¬ Vou esperar ansiosamente vires comentar do shows da legião urbana... prepare-se para morrer...
ResponderExcluirMuito bom o artigo! Realmente não vejo nenhuma beleza nesse "antigamente". Preciso rever alguns conceitos e apreciar mais o século XXI.
ResponderExcluirQue a verdade seja dita: você tem razão. Porém, gosto mais daqueles textos em que você cria uma via de mão dupla onde surgem sinalizações com paradas obrigatórias próprias para reflexão. Ali, como no texto do “Stanilismo”, você mostra os dois lados de uma moeda , levando o seu leitor a repensar o seu olhar sobre a história e a própria vida. Aqui você generalizou e tirou do “antigamente” aquela parte encantadora em que eu aprendi a importância de ter uma família maior com avós e o valor das conversas ao redor do fogão a lenha . É claro que, há muito, o fogão a lenha deixou de fazer parte da maioria das cozinhas brasileiras, mas, que bom seria se os avós continuassem a ser considerados parte da família e as conversas saíssem mais da virtualidade e se potencializassem em realidade: um
ResponderExcluirencontrado concreto de bate papo