segunda-feira, 18 de junho de 2012

O Novo PT e a Velha Arrogância


Qualquer pessoa que tenha militado na política, em especial a de esquerda, conhece a histórica arrogância petista. Eu, que sempre fui ardorosamente engajado na esquerda não petista, a conheço muito de perto. Aquela coisa horrorosa, insuportável, de achar que só eles têm as respostas, só eles são honestos, só eles sabem o que é bom, etc. (já escrevi aqui sobre a arrogância tucana, tão grande quanto a petista, mas de um tipo diferente).
Nos anos 1980 isso já era chatíssimo. Mas você deixava passar porque evidentemente o PT era uma coisa ótima para a política brasileira. Com todas as suas contradições ideológicas, o partido de fato tinha uma atuação coerente. Não se aliava com ninguém, não se envolvia em casos de corrupção e atacava de forma sistemática os "partidos tradicionais". Tudo isso de braço dado com os movimentos sociais. Você podia não gostar (eu não gostava), podia achar insuportável aquela arrogância (eu achava) mas era impossível negar que em um sistema pluralista aquele partido só fazia bem para o país.
Após uma longa jornada, o PT resolveu mudar. Deixou de ser o velho partido e se transformou em mais um partido. Não vejo crime nisso. Sacrificaram sua integridade em nome da viabilidade eleitoral. Todos os outros partidos já haviam feito isso desde o dia da fundação. Nenhum partido poderia criticá-los por fazerem o mesmo que eles.
Até aí tudo bem. E continuaria tudo bem se os petistas não tivessem mantido a mesmíssima arrogância de antes. De braços dados com Maluf, Collor e Sarney insistem que estão revolucionando o país, que estão acabando com a pobreza, que estão transformando o Brasil em um país de primeiro mundo. Em outras palavras, um partido social-democrata dos mais pragmáticos mas com um discurso do tipo "socialismo democrático" (seja lá que diabos se quer dizer com isso, eles repetem isso há mais de 30 anos sem explicar).
Um grande exemplo é a pompa e circunstância com que foi anunciada o apoio de Maluf à candidatura Haddad em São Paulo. Só há uma coisa a ver nesse episódio: que o partido de fato desiste de qualquer coisa parecida com ideologia em troca de 1:30 minuto diário na TV. Qualquer outra interpretação é tolice, como qualquer pessoa de bom senso (independente da ideologia) vai concordar.
Mas na cabeça dos governistas não é assim. Escrevem toneladas de imbecilidade para defender a aliança, em geral a partir de dois argumentos completamente absurdos:
1) "é uma aliança necessária para realizarmos o projeto que precisamos". Claro, imagino o Maluf pensando "nossa, que legal, eles querem acabar com a miséria e a desigualdade, to dentro!". Alguém é idiota nessa história: o Maluf ou quem esgrime esse argumento. Quem voce acha que é? (de resto, tente imaginar Marx ou Lenin fazendo alianças com gente direitista pra chegar ao socialismo. conseguiu imaginar? nem eu)
2) "O PSDB também faz alianças com o malufismo". Sim, cansou de fazer, e inclusive tentou fazer agora. Mas o PSDB não diz que faz isso para chegar a um mundo mais justo, e muito menos se alardeia como um partido de esquerda. Claro que se aliar a Maluf sempre é um problema ético, mas ideologicamente os tucanos não teriam nenhum problema com uma aliança dessas.
O que eu acho mais nojento, escroto e desprezível nesse novo PT não é a guinada para a direita, a venda da coerência nem as amizades suspeitas. Nenhum partido pode criticá-los por isso, já que fazem exatamente a mesma coisa. A merda é ver a escória da humanidade (Paulo Henrique Amorim, José de Abreu, os blogueiros progressistas, enfim, os Reinaldos Azevedos petistas), argumentando, de forma extremamente agressiva, que essas coisas são lindas, maravilhosas, acertadas, éticas e todo mundo que critica é idiota, quer ver o Brasil voltar ao passado ou está fazendo o jogo da direita.
Em suma, lamento que o PT tenha tomado essa direção, mas consigo entender. O que não dá pra aceitar é que o partido tenha perdido toda a coerência e ideologia, mas mantenha a arrogância, que só fazia sentido quando eles eram os únicos a ter aquelas coisas. Abriram mão de tudo de bom e ficaram com o que tinham de pior.

10 comentários:

  1. Nem de longe sou do PT, sou de esquerda mesmo, mas nas eleições burguesas só se ganha com essas alianças mesmo, senão o PT ia virar um PCB, que é um partido vanguardista mas que ninguém dá a mínima, infelizmente.

    Dizia a boa e velha anarquista Emma Goldman: 'se votar mudasse algo, seria ilegal.'

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  2. Perfeito seu texto. Perfeito.
    E para quem justifica esse tipo de podridão para conseguir chegar no poder e digo: SAFADEZA!
    Isso aí não é política, é suruba. E o pior é que tem gente que ainda acredita que "no jogo da política vale tudo", pois "os fins justificam os meios", é um "mal necessário para conseguir chegar ao poder". Porque é isso que importa!!! Poder.
    É disso que se trata, pois não há nenhum projeto a ser desenvolvido. O governo brasileiro não tem nenhum projeto. NENHUM. Só está aí para garantir-se no PODER e gerenciar problemas. E só. Quer fazer isso, fique a vontade, mas não venha me dizer que assim está garantindo sua posição no governo para fazer a coisa certa. MENTIRA!
    Bobo é quem ainda acredita que algo de bom pode sair dessa podridão.

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  4. Isso só mostra a falência da via partidária. E ainda tem gente que acha ruim quando se diz isso.

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  5. Parabéns pela síntese perfeita, caro Tiago. Causa-me um misto de tristeza e repugnância (misturado com um pouco de desesperança) esta aliança do PT com estes políticos "progressistas".

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  6. è meu caro, o mundo caiu! Aliás, Parem o mundo que eu quero descer, nem de longe eu imaginaria essa aliança, nem de longe!!! Como você desde 2000 também perdi as esperanças de um PT esquerda, mas ao menos melhor que um PSDB sempre achei que fossem, agora os fins justificam os meios bem ao estilo Hitler de ser...não votarei mais esse ano,aliás agora eu vou transferir meu título. Aliás a Marta Suplicy tá dando um olê no PT São Paulo para não assumir qualquer compromisso com essa nova chapa e eles estão louquinhos!!!

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  7. Gostei de sua colocação sobre a atual situação política do PT. No fundo são farinha do mesmo saco. Parece que com ética e honestidade não se ganha na política. Compartilhei seu texto no facebook.

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  8. Texto perfeito, e apesar de ser mais novo que o autor do mesmo, também nunca fiz parte do PT, e minha análise que o partido partiria pra obsessão pura pelo poder ao estilo do SPD alemão, mostra que o velho Briza estava certo, apesar de ter apoiado o PT em um determinado momento.

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  9. "Em outras palavras, um partido social-democrata dos mais pragmáticos mas com um discurso do tipo 'socialismo democrático' "
    Pode substituir socialismo democrático pro Populismo

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