domingo, 17 de junho de 2012

Ao comunismo com carinho


Esta semana tive uma experiência absolutamente inesperada. Me preparava para ver um dos jogos da Euro, e soou o hino russo. Que é o mesmo dos tempos de URSS, só que com outra letra. Isso mexeu tanto com meu velho coração comunista que torci loucamente pelos russos, que estão pouco se fodendo para comunismo hoje em dia.
Minha visão sobre as experiências socialistas já foram expostas aqui e sempre são ditas nas minhas aulas. Para mim estavam condenadas ao fracasso desde o começo. Tiveram coisas boas, sim, mas foram ditaduras. Querer libertar a humanidade (que no fim era o plano do comunismo) através de ditadura é algo tão absurdo que nem dá pra discutir.
Mas então por que diabos, só de ouvir os acordes do velho hino soviético, este velho coração comunista sentiu tamanha emoção? Tudo bem, não tenho nenhum arrependimento da minha militância comunista, ainda me defino como comunista, mas jamais esperaria me sentir tocado por algo que lembrasse a União Soviética.
Mas aí é que está. O comunismo não é apenas uma ideologia. É uma visão de mundo. Uma forma de sentir o universo. E, dadas as décadas de perseguição, também é o sofrimento da derrota e o perigo de pagar a opção política com a própria vida (nasci em 1972, não corri esse risco, mas cresci num mundo cheio de gente que viveu).
Esse nosso mundinho comunista tinha inúmeras coisas negativas. Por exemplo, a arrogância implícita na ideia da inevitabilidade da vitória final. Sim, olhávamos para os não comunistas como tolos que não entendiam que a verdade estava conosco. Havia outras coisas ruins também: ingenuidade nunca nos faltou, por exemplo.
Mas havia muita coisa linda. O bom comunista tinha de se instruir o máximo que pudesse, e os regimes socialistas fizeram avanços notáveis na educação de seus países. Também tinhamos de ser muito politizados, nosso cotidiano era todo ligado á política. Tratar mal uma empregada doméstica, por exemplo, era inaceitável, algo como compactuar com a podridão capitalista dentro da sua própria casa.
Talvez mais importante, o comunismo nos dava uma inserção no mundo. Éramos parte de uma verdadeira comunidade internacional, formada por pessoas com visão de mundo semelhantes (hoje mesmo conversava com uma amiga argentina, comunista como eu, filha de pai esquerdista como eu, e ríamos de como tivemos experiências familiares ligadas ao comunismo que eram muito semelhantes). Também dava um panteão de ídolos, muitos dos quais nem eram políticos, como por exemplo a cantora Mercedes Sosa, ícone do comunismo latinoamericano.
Em suma, o comunismo nos dava uma identidade. Uma visão política. Uma forma de interpretar o mundo. É coisa demais. Muito mais que uma ideologia, o comunismo era uma forma de se inserir no planeta. Todos nós que crescemos nesse universo sentimos falta disso. Talvez estejamos muito errados em sentir falta de ter tantas certezas. Racionalmente acho que sim.
Mas meu coração não sente nada disso. Sente falta da camaradagem, da esperança utópica em um mundo sem exploração, em ter no que acreditar, em não ter nenhuma dúvida sobre quem são os amigos e os inimigos. Meu coração é comunista. E acho que a essa altura posso dizer que jamais deixará de ser. Obrigado, comunismo. Sem voce eu jamais seria quem eu sou. Amo tudo o que voce fez por mim.


4 comentários:

  1. Mesmo que o séc XX tenha fracassado, o sonho ainda não acabou, não existe um tipo só de capitalismo como não existe um só tipo de socialismo/comunismo.

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  2. Tu não es nenhum comunista, mas sim, um tipico Liberasta degenerado e Idiota Util ocidental que não conhece o assassino comunista na pratica! Vai pra o inferno junto com o hino sovietico!

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