domingo, 24 de junho de 2012

Anarquismos Contemporâneos


Não há como não respeitar a tradição anarquista. É uma linda corrente esquerdista radical que lotou de mártires o panteão dos que têm como utopia uma sociedade sem classes. Cada um a sua maneira, comunistas e anarquistas lutavam pelo mesmo objetivo. Independente do que eu pense sobre suas visões de mundo, caras como Bakunin, Kropotkin e Malatesta estão na elite da luta anticapitalista. Negar isso é dar cabeçada na parede.
Mas tudo muda. Em 1917 o comunismo chegou ao poder na URSS. Se transformou em algo muito diferente do que era nos escritos de Marx e seus discípulos. Uma das consequências disso foi ter se transformado na única corrente anticapitalista que havia conseguido uma revolução. Após aquele ano as demais utopias anticapitalistas morreram. Todas as esperanças convergiam para Pepe Stalin (perdão, mas é que a maioria dos meus amigos comunistas falam espanhol, e chamam Josep Stalin dessa maneira).
Nesse contexto o anarquismo parecia morto. Mas no fim dos anos 60 ele renasceu. Não entre os trabalhadores, seu alvo original. Mas entre estudantes, que queriam criticar o capitalismo mas não gostavam nem um pouco do que acontecia na URSS. Até aí tudo bem. Mas o que eles propuseram? Uma terceira via?
Não. Propuseram o ódio eterno ao capitalismo em termos muito genéricos, e frequentemente moralistas. E uma crítica violenta ao socialismo soviético, baseada na ideia de que o referido regime era nada mais que uma forma de controle do indivíduo, o que de certa forma endossava as críticas liberais àquele regime. Ou seja, criticavam o capitalismo usando as armas socialistas, e criticavam o socialismo usando as armas liberais.
Claro que isso soa completamente absurdo. Precisavam propor algo. E buscaram isso logo no pensador mais niilista do século XX: Michel Foucault. Suas críticas que igualam todas as formas de poder como se fossem uma coisa só foram abraçadas com gosto pelos neo-anarquistas. Isso era absolutamente incoerente, mas lhes deu motivos para racionalizar seu senso de superioridade. Capitalismo e socialismo se igualariam no controle do indivíduo. Só o anarquismo libertaria a humanidade.
Como faria isso? Ninguém sabe. Nem vai saber. Eles não querem de fato saber. Afinal, você não conhece ninguém que morreu ou foi torturado por defender isso. Provavelmente voce nem conhece gente com mais de 20 anos que defenda isso. É uma agenda típica de jovens coxinhas que querem posar de revolucionários antes de viver a doce vida burguesa. Infelizmente o anarquismo se transformou nisso. Lamentavelmente.

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