segunda-feira, 18 de junho de 2012
O Livro Negro do Capitalismo
Hoje discutia com uma rapaziada muito boa a questão do socialismo. Mesmo se identificando com a esquerda, nunca viram nada de bom nas experiências socialistas reais. Para eles, a URSS nada mais foi que uma ditadura estatizante.
Taí uma prova a mais de que os vencedores escrevem a história. Esses jovens críticos sequer desconfiam de que repetem da forma mais acrítica possível um discurso liberal. Ou seja: nazistas e comunistas seriam muito semelhantes, cada um representando o que há de pior na esquerda e na direita. Bom é o centro, com o capitalismo liberal e sua maravilhosa defesa da liberdade irrestrita do indivíduo.
Esse é o maior conto de fadas da história. O que fica implícito é: "enquanto Hitler matava judeus, comunistas, etc e Stalin fuzilava seus opositores, o mundo do capitalismo liberal era democrático". Ora, não era nada disso. Naquele momento Inglaterra e França eram democracias, mas que do outro lado do oceano impunham servidão, trabalhos forçados, opressão e tirania a milhões e milhões de asiáticos e africanos. Calcula-se que os simpaticíssimos e democráticos belgas tenham causado a morte de, no mínimo, 5 milhões de congoleses, no que acabou sendo um escândalo internacional.
Nem precisamos falar dos EUA. Que para proteger a democracia espalhou ditaduras pelo planeta nas décadas posteriores à 2a guerra. Gerando a piada esquerdista: "sabe por que não tem ditadura nos EUA? Porque não tem embaixada norte-americana lá". Todas as mortes, torturas, prisões e demais violações cometidas por esses governos eram apoiadas pelos EUA, que achavam que isso era um preço pequeno a pagar por... livrar esses povos da tirania soviética!
Então vamos parar de hipocrisia. O socialismo infelizmente degenerou em ditadura. Mas quando Stalin matava seus opositores (incluindo os imaginários), o capitalismo não fazia nada muito melhor. A Europa estava repleta de ditaduras assassinas, assim como a América Latina, e os países que eram democráticos em geral impunham ditaduras a outras partes do globo. Achar que só Hitler e Stalin eram "malvados" é aceitar acriticamente a versão do liberalismo triunfante posterior.
Além disso, a URSS foi uma ditadura, mas não foi só isso. Teve muitas outras características, boas e ruins. Quer ouvir uma boa? Aqui vai: só ela escapou ilesa da crise de 1929, e nos anos 30 avançou enquanto os outros se lascavam. Aliás, foi só por isso que ela pôde salvar o mundo de Hitler na 2a guerra. Sem o stalinismo a URSS teria degenerado economicamente nos anos 30, e provavelmente o país nem sobrevivesse como tal, se fragmentando em dezenas de pequenos países pobres, provavelmente controlados por ditaduras.
Então, amigo, pense numa coisa. Stalin pode ser o monstro que voce quiser, mas imagine a 2a guerra mundial sem ele. Com a pesada máquina militar que Hitler mobilizou contra ele voltada para os aliados. Os EUA preocupados com o Japão. O que Hitler teria feito na Europa entre 1939 e 1944, quando finalmente os EUA conseguem entrar no continente? Será que teria perdido a guerra?
"Você está dizendo que a URSS salvou o mundo de Hitler?". Não, apenas estou dizendo que a vida de Hitler teria sido muito mais fácil sem Stalin. Só isso já me parece motivo para esquecer essa tolice de achar que a única coisa que os soviéticos fizeram foi ter uma ditadura assassina. Houve muito mais.
Não é que essa visão esteja errada. Só está descontextualizada. A URSS existiu num mundo em que o capitalismo também matava, prendia e torturava muita gente. E nos países socialistas ninguém nunca passou fome, ao contrário dos capitalistas.
Então só peço uma coisa. Podem odiar o socialismo à vontade. Isso é questão de gosto pessoal. Mas por favor, sem repetir discursos elaborados pelos vencedores. Sejamos críticos com as experiências socialistas, mas examinemos, por exemplo, o capitalismo e o imperialismo com a mesma régua. Se não fica fácil e acrítico demais.
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O socialismo que vemos no contexto da política mundial sofre de uma doença debilitante que ao que tudo indica está intimamente ligada ao poder do capitalismo liberalizante. Os meios democráticos e burocráticos elitistas tolhem o total envolvimento com a ideologia massificando o cenário político e eliminando uma real ação político-ideológica de cunho socialista. Talvez como diz o filósofo Slavoy Zizek a única alternativa realmente efetiva seja o comunismo radical ou seja aquela idéia do Brecht que se sentiu comunista quando viu os tanques entrando em Berlim oriental que significa a quebra dos interesses particulares para a existencia da possibilidade de implantação de uma espécie de ação universal
ResponderExcluirInclusive, Tiago, a avaliação de Trotski (morreu com ela) era a de que a URSS era um Estado operário, porém degenerado. Ele chamava de Estado opérario burocratizado. Em um de seus textos ele dizia que a luta contra o Stalinismo era necessária para se retomar a revolução, mas que ao lado disso os socialistas deveriam rechaçar qualquer ataque do capitalismo à URSS.
ResponderExcluirNao conhecia essa e assino embaixo quantas vezes forem necessárias. É isso mesmo.
ExcluirO artigo é interessante, mas vamos lá: na Coréia do Norte, notadamente comunista milhões morreram de fome e outros milhões continuam morrendo. Então não dá pra dizer que no comunismo ninguém morra. Lembro também que no Camboja de Pol Pot aconteceu a mesma situação.
ResponderExcluirSobre a Segunda Guerra Mundial: não é justo desmerecer a importância soviética pra vitória dos Aliados. Entretanto, foi um conjunto de fatos que selou a derrota nazista, não apenas a batalha de Stalingrado.
Tiagão, não generaliza, vai. Tanto eu, quanto Victor e o Maruf sabemos sobre isso. É que devemos levar em conta às criticas à esquerda à degeneração da revolução (Rosa Luxemburg, massacrada pelos "capitalistas bonzinhos democráticos" na revolução de 1919, que durante o debate perguntei sua opinião sobre ela, Panneonek, Debord, os anarquistas, etc).
ResponderExcluirCuba e Vietnã são grandes exemplos alternativos de resistência ao capital, e nós três prezamos muito sobre essas experiências.
Sobre Trotsky:
http://www.marxists.org/portugues/trotsky/ano/defesa/index.htm
Esse debate for realmente sensacional, e foi muito prazeroso participar dela.
ResponderExcluirNo mais, acho que o grande responsável pela vitória soviética na WWII foi Zhukov. Stalin teve méritos com aquele lendário discurso motivacional em 1941, o plano de industrialização apropriado da oposição de esquerda trotskysta (obviamente omitindo esse detalhe, hehe), a coletivização apesar de ter sido um genocídio na aplicação, na prática aumentou a produção agrícola em trocentos %, tem uma tese fudida de doutorado que tem detalhes sobre isso: (espero que o Tiagão me ajude à fazer algo parecido na minha)
http://br.monografias.com/trabalhos917/colapso-urss-causas/colapso-urss-causas.pdf
Na vdd, acho errado acusar os EUA de terem ocasionado essas mortes... por que o capitalismo não prevê mortes no seu modo de governo, já os países comunistas simplesmente fazem o que você mesmo diz no texto, matam os opositores, há sim regimes considerados capitalistas que mataram que os opôs, mas primeiro que isso não foi (e não é) uma caracteristica inerente aos paises capitalistas (ao contrário dos comunistas), segundo, ainda que você contabilize todas as mortes supostamente ocasionadas pelo capitalismo desde que foi implantado, certamente não superam às ocasionadas pelo comunismo.
ResponderExcluirEnfim continuarei sendo capitalista e continuarei falando muito mal do comunismo pois sou individualista e detesto coletivismo. Foda-se o comunismo.